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foco nele
Lama brasileiro vive em nome da paz
DA REDAÇÃO
O "pequeno lama" brasileiro atingiu a
maioridade. Michel Lens César Calmanovics, mais conhecido como lama Michel Rimpoche, já completou 21 anos.
Desde os 12, ele mora em um monastério
na Índia, onde se dedica ao estudo do budismo, que pretende concluir em nove
anos. Para chegar a frequentar essas aulas, o lama Michel passou por uma fase de
preparação. Demorou cerca de dois anos
para aprender tibetano e outros dois tendo aulas particulares de filosofia.
Há duas semanas, ele veio a São Paulo
para visitar a família e participar de eventos. Entre um compromisso e outro, ele deu uma entrevista exclusiva para o
Equilíbrio, na qual sugere a quem quiser
se aproximar da espiritualidade que faça
uma lista de tarefas interiores todas as
manhãs. Leia mais abaixo.
Folha - Qual a missão de um lama?
Lama Michel - A responsabilidade de
um lama é aprender o darma, ou seja, a filosofia budista, levar adiante os ensinamentos de Buda e compartilhar isso com
as pessoas. Não se quer nem nunca se
quis que todos se tornem budistas. A filosofia budista é muito abrangente, é mais
uma filosofia de vida que uma religião.
Meu mestre, lama Ganghen, diz que, se
Buda tivesse vivido agora, não há 2.500
anos, o budismo não seria considerado
uma religião. Naquela época, a cultura na
Índia era baseada em religiões, então automaticamente a filosofia de vida dele se tornou uma religião. Mas ele é um cientista interno, de autoconhecimento. Uma
das missões de um lama é tentar fazer
com que uma cultura de paz possa crescer cada vez mais. Acreditamos que, sem
uma mudança no indivíduo, não pode
haver uma mudança no coletivo. Isso é
fundamental.
Folha - Você é o discípulo e o sucessor do
lama Ganghen. Mas, por enquanto, dedica-se apenas aos estudos?
Lama Michel - Estou estudando. Fico no
monastério de oito a dez meses por ano e,
no resto do tempo, viajo principalmente
para a Europa e para o Brasil, onde vou
aos diferentes centros para falar, ajudar.
Folha - A missão de um lama atualmente
é mais árdua?
Lama Michel - É cada vez mais difícil
porque, de uma certa forma, a cultura está se deteriorando. Há coisas positivas
que estão nascendo, que estão crescendo,
mas há coisas também negativas.
Folha - Que aspectos positivos você vê?
Lama Michel - Cada vez mais há, no Ocidente, pessoas com interesse por tradições orientais, pela prática espiritual.
Mas ainda falta, seja na economia, seja na
política, seja no dia-a-dia das pessoas,
um pouco de espiritualidade. O que é espiritualidade? É darmos importância ao
que existe dentro de nós, não só para a
parte material. Ter um pouco mais de ética interior. Falta espiritualidade na tomada de decisões. Tenho um amigo que trabalha nas Nações Unidas que, várias vezes, tentou colocar a importância de uma
ética espiritual no âmbito da economia.
Mas ele disse que vários embaixadores
falam: "Você é um ótimo economista,
mas há duas palavras que tem de tirar do
vocabulário quando está nas Nações
Unidas: espiritualidade e meditação".
Folha - E por que falta espiritualidade?
Lama Michel - A mente está cada vez
mais dispersa. Há muita coisa para pensar e fazer. Fazemos com que o estresse
seja um estilo de vida. Quando uma pessoa fica calma, parada, ela olha para dentro de si. Tentar ser uma pessoa mais pacífica, mais correta interiormente, faria uma grande diferença. A cada dia, tentar
ter menos raiva, menos apego, menos
ciúmes, menos orgulho, menos avareza e
mais amor, mais compaixão, mais generosidade, mais equanimidade.
Folha - Quais são as ferramentas?
Lama Michel - Método e clareza. Reconhecer a importância disso, porque, se a
gente não acredita numa meta, nunca vai
conseguir completá-la. O segundo passo
é, por exemplo, todos os dias de manhã,
não pensar só no que será feito durante o
dia -trabalhar, ir para a escola, fazer isso
ou aquilo-, mas pensar no que fazer
com o mundo interior: "Hoje eu vou tentar ser uma pessoa mais pacífica". No
momento em que conseguimos ter essa
motivação de manhã, podemos chamar
o espiritual para a nossa vida. Automaticamente teremos algo a mais do que apenas o nosso dia-a-dia.
Folha - Essa tarefa é mais fácil para os
monges?
Lama Michel - É difícil também. Se uma
pessoa for morar em um monastério,
não necessariamente ela conseguirá ter
menos raiva, apego, desenvolver amor,
mas vai ter uma condição melhor para
fazer isso. O monge não tem família, não
precisa pensar em trabalhar para pagar a
escola dos filhos, não tem de se preocupar com a mulher. A única preocupação
é com a própria prática espiritual.
Folha - Como é a sua rotina?
Lama Michel - Acordo às 5h30 e vou para as cerimônias de preces e meditação, que duram até as 7h, junto com o café da
manhã. Das 7h até as 8h30, decoro palavra por palavra dos livros. Em seguida,
preparo-me para a sessão de debate, que
acontece das 9h às 11h, três vezes por semana. Nos outros dias, tenho aula. No
intervalo do almoço, que vai até as 14h,
geralmente durmo. Das 14h às 17h, tenho
aulas e depois janto. Das 18h às 21h, todos os dias, é a outra sessão de debates.
Às 21h30, faço a recitação dos textos memorizados de manhã, até cerca de 23h.
Leio e durmo por volta da meia-noite.
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