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Descoberta há menos de 20 anos, a síndrome provoca dores pelo corpo e fadiga, atrapalhando a rotina escolar e as brincadeiras
Fibromialgia importuna crianças e adolescentes
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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A síndrome afeta as irmãs Camila (dir.), 17, e Karina Fidalgo Ferreira, 13; a mãe delas também sofre de fibromialgia |
VINICIUS CARRASCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Conviver com dores aparentemente inexplicáveis todos os dias e
sentir-se cansado e sem energia e dormir mal. Assim é o cotidiano
de grande parte dos portadores de fibromialgia, síndrome que afeta
cerca de 5% da população mundial e foi identificada apenas na década
de 90. Mais recente ainda é a descoberta de que esse problema tão desgastante pode atingir também crianças e adolescentes.
Segundo o Colégio Americano de
Reumatologia, 25% dos pacientes
apresentam sintomas de fibromialgia
desde a infância. Entre esses sintomas, estão as chamadas dores musculoesqueléticas difusas, que atingem
músculos e articulações de três ou
mais regiões do corpo.
"Calcula-se que 26% das queixas de
dores musculoesqueléticas difusas
atendidas nos ambulatórios de reumatologia pediátrica enquadrem-se
nos critérios para o diagnóstico de fibromialgia", afirma Eliane Battani
Dourador, reumatologista do hospital São Luiz, em São Paulo. "A investigação mais minuciosa leva à confirmação da síndrome em mais da metade desses casos."
De acordo com o reumatologista
Daniel Feldman, um levantamento
israelense aponta que 6,5% de crianças e adolescentes em idade escolar
apresentam sintomas de fibromialgia. Os médicos acreditam que a síndrome juvenil seja mais frequente a
partir dos dez anos de idade. Existem
estudos, porém, que indicam que a fibromialgia juvenil pode se manifestar
antes dessa faixa etária. Pesquisa publicada em 1995, na revista científica
norte-americana "Arthritis Rheumatology", indica que ela afeta 1,3% das
crianças em idade pré-escolar que
apresentam queixas de dores musculoesqueléticas.
A fibromialgia é mais frequente em
mulheres, e esse padrão repete-se entre crianças e adolescentes. Segundo
Clóvis Arthur Almeida Silva, chefe da
reumatologia do Instituto da Criança,
do Hospital das Clínicas de São Paulo, as garotas somam 75% dos casos
de fibromialgia juvenil.
Não existe um exame laboratorial
que comprove essa síndrome de causas ainda desconhecidas, que se manifesta de forma semelhante em todas as faixas etárias. Os sintomas (leia
na pág. 11) se assemelham aos de outras doenças, como tendinite, gota,
lúpus, hipotireoidismo e esclerose
múltipla, o que dificulta o diagnóstico. Mas o principal deles é a dor -localizada ou generalizada-, que persiste por mais de três meses.
De mãe para filho
Pesquisa realizada pela reumatologista Suely Roizenblatt, da Unifesp, indica que há
uma predisposição familiar para a fibromialgia, envolvendo principalmente mães e filhos. A médica investigou 120 pacientes, com idade entre
dez e 12 anos, que chegavam reclamando de dor ao ambulatório de reumatologia pediátrica do Hospital São
Paulo (SP). De acordo com ela, 71%
das mães das 39 crianças diagnosticadas com fibromialgia juvenil também
tinham a síndrome.
Foi a partir do diagnóstico das filhas que Sílvia Fidalgo Ferreira, 41,
descobriu que era portadora de fibromialgia. Sua filha Camila, 17, reclamava de dores desde os dois anos.
"Alguns médicos alegavam que era
por causa do crescimento ou até por
falta de interesse na escola", afirma a
mãe. "Por isso não dávamos muito
crédito, mas, com o passar do tempo,
percebemos que era algo sério." As
dores por todo o corpo, a indisposição e o cansaço interferiam na rotina
da garota, que ficava de cama e deixou de ir à escola várias vezes.
Em dezembro de 2001, Camila teve
a confirmação de que sofria de fibromialgia. Três meses depois, os reumatologistas constataram a síndrome também na irmã, Karina, hoje
com 13 anos. Em seguida, foi a vez
de a mãe receber o mesmo diagnóstico. "No meu caso, as dores são antigas, concentradas nos braços, e eu
achava que poderia ser uma tendinite", afirma ela.
Além da predisposição familiar,
especula-se que a fibromialgia esteja
relacionada a estresse, ansiedade e
traumas emocionais. "Esses problemas podem alterar as funções endócrinas e cerebrais, aumentando a
sensibilidade à dor", explica o reumatologista Daniel Feldman.
Foi o que ocorreu com B. M. S. N.,
13. Há dois anos, ela foi repreendida
durante uma aula. "Ela teve uma
reação traumática, ficou com medo
de ser repreendida novamente e do
constrangimento na frente dos colegas", afirma a mãe, D. S. S. N., 44.
"Desde então, ela passou a sentir dores, não dormia direito e vivia reclamando de cansaço."
Como grande parte dos portadores de fibromialgia, a menina passou
por vários médicos antes de a síndrome ser diagnosticada. "Cinco
meses depois do diagnóstico, com
uso de relaxantes musculares, prática de atividades físicas e acompanhamento de uma psicóloga, ela já
estava melhor", conta a mãe.
Em geral, o tratamento da fibromialgia juvenil é feito por meio de
atividades aeróbicas de baixo impacto, como natação e caminhada.
Esses exercícios aumentam a produção de endorfina, um neurotransmissor que funciona como anestésico natural e reduz a sensação de dor.
Em outros casos, são recomendados
acompanhamento psicológico e antidepressivos.
As mães afirmam que, além das
dores, que interferem na qualidade
de vida, a falta de esclarecimento das
pessoas também é um problema enfrentado pelos portadores de fibromialgia. "Para justificar as faltas da
Camila, quando ela não conseguia ir
à escola, tive de levar um laudo médico detalhado", diz sua mãe. "A diretora não acreditava, dizia que ela
era uma menina saudável."
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