São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004 |
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Asmáticos precisam ser tratados diariamente
No Brasil, há mais de 19 milhões de pessoas com asma, porém o tratamento para grande parte se resume apenas a idas ao PS ANA PAULA DE OLIVEIRA DA REPORTAGEM LOCAL
Acordar duas vezes por semana com falta
de ar ou ter de correr para um pronto-socorro ao menos uma vez por ano em conseqüência de uma crise de asma são indícios suficientes para que a pessoa tenha de tomar
medicamento permanentemente a fim de
prevenir a inflamação dos brônquios e a conseqüente falta de ar. Mas a realidade é que grande
parte dos mais de 19 milhões de brasileiros asmáticos só procura o médico quando a situação é crítica -muitas vezes, o paciente se limita ao atendimento no pronto-socorro como tratamento.
Os empecilhos na procura ao médico e na adesão ao tratamento passam pela desinformação do
paciente, que acredita que a doença só deva ser
tratada em tempos de crise, pela sua resistência
em ser medicado diariamente, pelo alto custo dos
remédios e pela descrença de que a asma, apesar
de ser uma doença crônica, pode ser controlada.
Estudo realizado em 44 países, inclusive no Brasil, concluiu que é possível controlar totalmente a
doença a partir de tratamento profilático -que
objetiva medidas preventivas-, combinando
medicamentos antiinflamatórios e broncodilatadores. Chamada de Goal (Ganing Optimal Asthma Control), a pesquisa acompanhou 3.400 pacientes, sendo 80 brasileiros, em seis centros hospitalares no país. Com isso, é possível que a pessoa com asma tenha uma vida normal, diz o coordenador do projeto, o médico sul-africano Eric
Bateman, presidente do Gina (Comitê Global de
Iniciativa contra a Asma, na sigla em inglês).
A combinação dos dois medicamentos já existe
há muito tempo, mas a grande novidade está em
seu uso contínuo. Contudo não é para todo tipo
de asma que é indicado o tratamento permanente, diz Carlos Alberto de Castro Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. "Quando a doença é intermitente, o paciente só deve ser medicado em crises."
No Brasil, 90% dos asmáticos têm asma persistente de leve a moderada -em uma classificação
que também inclui o tipo grave-, o que já indica
intervenção contínua, diz a pneumologista da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Ana
Luisa Godoy Fernandes e uma das integrantes, no
Brasil, do Goal.
Os resultados preliminares do estudo -que será divulgado em junho no 23º Congresso da Academia Européia de Alergologia e Imunologia Clínica, em Amsterdã (Holanda)- foram divulgados à Folha, na semana passada, por Bateman.
Assim como faz em outros países com alto índice
de população asmática, ele esteve no Brasil para
atualizar os médicos sobre recentes tratamentos.
"A dificuldade dos médicos é fazer o paciente
compreender a necessidade do uso do medicamento", diz a alergista Yara Mello, presidente da
Sociedade Brasileira de Asmáticos - Regional SP.
E existe tanta desinformação que muitos não
sabem que bronquite é sinônimo de asma, diz
Mello. "As pessoas tendem a dizer que têm bronquite ou bronquite asmática, para não dizerem
que têm asma -afinal, asma é para a vida inteira,
mas a bronquite, como dizem, é passageira."
Como a asma se caracteriza pela inflamação dos
brônquios e pela contração de seus músculos -o
que dificulta e até impede a respiração-, os medicamentos indicados são antiinflamatórios e
broncodilatadores, que relaxam a musculatura
dos brônquios. A bombinha é uma das formas de
aplicação, mas o brasileiro tem um quê de resistência a elas, que conduzem as substâncias direto
ao pulmão. "As pessoas acreditam que elas viciam, mas é mentira", diz o pneumologista da
USP João Paulo Becker Lotufo, do departamento
de pneumologia da Sociedade de Pediatria de São
Paulo. O tratamento tanto em crianças como em
adultos é o mesmo.
Hereditária, a asma tem vários fatores desencadeantes (os chamados gatilhos): alergias diversas,
fumaça de cigarro, poluição, odores muito fortes,
temperatura (muito seca, muito fria ou mudança
abrupta), ambientes com concentração de ácaros
e até estresse emocional.
Por isso parte do tratamento consiste em evitar
esses gatilhos, além da prática de atividade física,
especialmente natação. "Os exercícios fortalecem
a musculatura envolvida na respiração, melhorando a condição respiratória", diz Mello. Também alguns tratamentos não-convencionais são
bem-vindos. |
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