São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002
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Dos amuletos aos emborrachados aderentes ao corpo

Desde os tempos antigos, em que as pessoas começaram a cultuar ídolos de madeira ou barro, exercendo o que antropólogos chamam de fetichismo religioso, o termo fetiche é usado para designar a adoração e o culto a objetos.
Na religião, os objetos adorados são considerados mágicos, são amuletos. Mas, dos primórdios para cá, muitos conceitos em torno do tema surgiram -e os objetos adorados passaram a ser os mais variados possíveis.
A historiadora americana Valerie Steele, em seu livro "Fetiche: Sexo, Moda & Poder" (ed. Rocco), traça um panorama sobre a história do fetichismo até chegar à conclusão de que a moda, as roupas são o grande objeto de fetiche da atualidade.
Modificações do corpo e travestismo são rituais comuns em muitas culturas, afirma Steele, citando o antigo costume chinês de atrofiar os pés das mulheres porque, pequenos, eles eram mais admirados.
Mas, segundo a historiadora, o fetichismo como é entendido hoje parece ter surgido pela primeira vez na Europa do século 18, quando "atitudes e comportamentos sexuais tradicionais começaram a evoluir em direção ao padrão moderno. Havia uma preocupação cada vez maior com o erotismo explícito". Já no início do século 19, o termo fetiche passou a ser usado para designar qualquer coisa que fosse irracionalmente cultuada. Mais tarde, o psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911), que foi diretor do Laboratório Experimental de Psicologia da Universidade Sorbonne, de Paris, foi o primeiro a usar a palavra fetiche no plano erótico, em seu ensaio "Le Fetichisme dans L'Amour", de 1887.
A partir daí, o fetiche sexual ou erótico foi discutido por outros estudiosos da sexualidade, como Richard von Krafft-Ebing (1840-1902), neuropsiquiatra alemão pioneiro nos estudos de patologias sexuais; além de Sigmund Freud (1856-1939). Em 1927, ele definiu, no ensaio "O Fetichismo", o objeto de fetiche como um substituto para o pênis que o homem, quando criança, acreditava que a mãe tinha antes de ter sido castrada.
Na modernidade, graças ao filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), o peso de "perversão" dado à sexualidade foi amainado. Em seus célebres livros "História da Sexualidade - A Vontade de Saber" (1976) e "História da Sexualidade - O Uso dos Prazeres" (1984), Foucault compara a "psiquiatrização do prazer perverso" ao pecador no confessionário. Para o filósofo, o sexo é "a explicação para tudo, a nossa chave mestra".
Voltando à moda como fetiche neste século, Valerie Steele cita a evolução dos materiais que atraem os fetichistas, como a seda e a pele, por exemplo, sendo ofuscadas hoje pelo couro e os emborrachados aderentes.



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