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ROSELY SAYÃO
O veto ao celular na escola
[...]
A ESCOLA
NÃO É LUGAR PARA CELULAR, JÁ QUE
ALUNOS E PROFESSORES ESTÃO LÁ
PARA UM TRABALHO DE FOCO, QUE
EXIGE CONCENTRAÇÃO E SUPERAÇÃO
Um projeto de lei que
proíbe o uso de telefones celulares nas
salas de aula de todas
as escolas do Estado de São
Paulo foi aprovado no último
dia 28 pela Assembléia Legislativa. Agora, depende apenas da
sanção do governador para ser
aplicada: 90 dias após sua publicação, passa a valer como lei.
Já sabemos que até crianças
bem pequenas portam seus celulares com naturalidade e os
levam para todos os locais.
Também sabemos que escola
não é lugar para celular, já que
alunos e professores estão lá
para um trabalho de foco, que
exige concentração e superação. Além disso, se algum aluno
precisar fazer ou receber um
telefonema urgente, pode usar
o telefone da escola.
O problema é que os pais decidiram que os filhos têm de estar com o telefone sempre. É
que eles, a qualquer hora, podem querer falar com o filho e
vice-versa. Assuntos inadiáveis? Não pode ser, já que todo
dia eles se falam várias vezes.
Pelo jeito, os pais abdicaram
da possibilidade de tomar uma
decisão responsável a esse respeito. Sucumbiram, impensadamente, à pressão do mercado
-que exige que os telefones sejam consumidos por todos- e
dão os aparelhos aos filhos.
Ensinam seu uso, apontam
locais onde não é adequado
portá-los ou situações próprias
ou impróprias que motivam as
chamadas? São poucos os que
fazem esse trabalho educativo.
Creio que agem assim porque ganham um benefício secundário: estão sempre ligados
aos filhos e fazem com que estes permaneçam na mesma situação. O celular que liga os
pais a seus filhos já foi comparado ao cordão umbilical. Não é
uma analogia bem apropriada?
Por outro lado, as escolas logo constataram que os trabalhos escolares, que exigem foco,
dedicação e concentração, ficavam prejudicados com a presença do celular. Por isso, muitas já vetaram seu uso e até
aplicam sanções aos alunos que
o fazem. Mas tem sido difícil
contornar a situação porque os
professores também usam o celular na escola, e isso, claro, leva
os alunos a fazerem o mesmo.
Por isso, parece que o projeto
de lei mencionado vem em boa
hora e que pais e professores
devem aceitá-lo de bom grado.
Mas devo alertar que tal lei, caso sancionada, é bem perigosa.
Acima de tudo, porque coloca
o Estado no lugar de pai. Os
educadores precisam usar a autoridade na relação com os
mais novos. Quando os pais
precisam tomar uma atitude
que desagrada aos filhos, preferem que seja outro -a escola, o
Estado- a fazê-lo.
Mas, quando o Estado passa a
legislar sobre a vida dos cidadãos, nunca se sabe quando e
onde irá parar. Além disso, sabemos que regras evocam
transgressões. Por isso, em
educação é muito mais valoroso trabalhar com princípios do
que com regras.
No mundo adulto, os princípios parecem ter perdido o valor: nós também queremos regras para transgredi-las com a
mesma atitude da juventude.
Afinal, num mundo que valoriza a juventude, somos todos jovens. Mas e os mais novos, por
quem serão introduzidos na
convivência civilizada com o
outro e com a humanidade?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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