São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007
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NEUROCIÊNCIA

Para manter o equilíbrio

Suzana Herculano-Houzel

Por quanto tempo você consegue se equilibrar sobre um pé só? Se você tem menos de 50 anos, a tarefa deve ser fácil, e você chega a uns 30 segundos.Entre 50 e 60, talvez você se mantenha em pé por uns 20 segundos.
Entre os 60 e 70 anos, a média já cai para dez segundos; dos 70 aos 80, diminui para uns quatro segundos. Acima dos 80 anos, a maioria dos velhinhos simplesmente não consegue.
As causas da perda, com a idade, da capacidade de manter o equilíbrio são óbvias depois que se atenta para elas, mas suas conseqüências para a qualidade de vida são sérias e pouco apreciadas.
A boa notícia é que toda hora é hora para ajudar o corpo a manter o prumo.
Quem mantém o corpo equilibrado, resistindo à gravidade que convida ao chão, é o sistema neuromuscular, guiado por três sentidos: a visão, a propriocepção (o sentido das articulações e dos músculos) e o equilíbrio.
Ocorre que os três se deterioram com a idade, seja por perda de células sensoriais ou apenas de acuidade. Como se não bastasse, o tônus muscular tende a diminuir, o que dificulta o trabalho de manter o corpo no eixo, e a massa do corpo tende a aumentar com o acúmulo de gordura e o sedentarismo.
Tudo isso faz com que o corpo se pareça cada vez mais com uma batata espetada sobre dois palitinhos passivos, cuja tendência natural é... cair. Daí o tempo cada vez menor que conseguimos nos manter sobre um pé só (experimente, prestando atenção em todos os ajustes que seu pé fará para manter o corpo sobre o eixo).
Considere agora que, ao andarmos, passamos 80% do tempo equilibrando o corpo sobre apenas um dos pés - ora um, ora outro- e você verá que, com a idade, andar vai se tornando uma tarefa difícil e perigosa, e os tombos, cada vez mais freqüentes.
Não é à toa que quedas são a segunda maior causa de morte acidental no mundo. Mas tudo isso é evitável.
Mesmo se a perda sensorial não puder ser evitada, hoje se sabe que exercícios físicos regulares, sapatos de solas finas, caminhadas em terrenos irregulares e instáveis como areia fofa ou cascalho, dança e até mesmo jardinagem ajudam o cérebro a usar melhor a informação que ainda tem sobre a posição do corpo e a manter o prumo. Até a simples prática de se equilibrar em um pé só já melhora o equilíbrio.
Pode soar óbvio, mas, como o cérebro teima em só manter funcionando o que é de fato usado, já avisei a minha avó: para continuar conseguindo andar, é preciso continuar andando...


SUZANA HERCULANO-HOUZEL, Neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Fique de bem com o seu cérebro" (editora Sex tante) e do site O C rebro Nosso de Cada Dia (www.cerebronosso.bio.br)
suzanahh@folhasp.com.br


[...] Exercícios, sapatos de solas finas, dança e até jardinagem ajudam o corpo a manter o prumo

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