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Rosely Sayão
O teste da transferência
Quando um aluno precisa se transferir de
escola, qualquer que
seja o motivo, ele deve passar por avaliação antes de
ter sua matrícula aprovada pela
nova escola? E essa avaliação
pode ter o caráter seletivo e,
portanto, excludente? Essa atitude, tomada pela escola, não é
discriminatória?
Essas questões foram levantadas por uma leitora indignada que, por motivo de mudança
de domicílio, procurou vaga para 2008 em escolas privadas de
São Paulo e enfrentou, em quase todas, essa situação.
São muitas famílias nessa posição: alguns pais decidem pela
mudança em busca do que consideram um ensino melhor para o filho, outros porque ficaram insatisfeitos com a escola que o filho freqüentou neste
ano, outros porque consideraram legítima a solicitação do filho para trocar de escola etc. E,
de forma velada ou escancarada, quase todas as escolas praticam seleção nesse momento. E
os pais se submetem. Por quê?
Os motivos das escolas para
justificar esse procedimento
são inúmeros. E nossa leitora
tem razão: muitos alunos são
preteridos. Ora porque são julgados em desnível em relação
ao currículo da escola, ora porque não tiveram boa produção
no teste, ora porque não conseguiram classificação para o número de vagas disponíveis etc.
Não importa o motivo, o fato
é que alguns alunos são aceitos
em algumas escolas e em outras, não. Como eles apreendem o fato? Que "passaram" no
teste desta ou daquela escola e
que não "passaram" em outras,
tal e qual é encarado o resultado do vestibular.
Muitas escolas privadas trabalham com a idéia de um determinado perfil de aluno, ou
seja, querem ensinar apenas
alunos cujas características se
encaixam no aspirado pela instituição. Essas escolas não são
boas para qualquer aluno -como deveriam ser todas as escolas. Mesmo assim, muitos pais
gostariam de ter seu filho lá.
O que eles não consideram é
que, a qualquer momento, o filho pode mudar seu perfil de
aluno, tanto no aproveitamento quanto no comportamento,
e que isso é muito salutar no
desenvolvimento de crianças e
jovens. Aliás, essa é a melhor
hora de os mais novos experimentarem ser deste ou daquele
jeito no exercício de um papel
social. E, se a escola rejeita trabalhar com alguns tipos de aluno, seu filho também poderá
ser rejeitado no momento em
que mudar.
Sabemos também que as escolas, principalmente as privadas, evitam enfrentar situações
difíceis. Os alunos que não caminham como o esperado, tanto no aprendizado quanto na
convivência, são chamados de
"alunos-problema" porque desafiam a escola e o trabalho que
ela pratica. Na seleção de início
de ano, as escolas tentam vislumbrar quais deles poderiam
ser colocados nesse diagnóstico
a fim de evitá-los, é claro. O curioso é que são justamente esses os alunos que mais precisam da escola, não é verdade?
Em resumo: os testes para os
alunos em transferência de escola só atendem a um único interesse: o das escolas. Mas por
que é que os pais se submetem
aos caprichos dessas escolas?
Boa pergunta, não é?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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