São Paulo, quinta-feira, 06 de dezembro de 2007
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Rosely Sayão

O teste da transferência

Quando um aluno precisa se transferir de escola, qualquer que seja o motivo, ele deve passar por avaliação antes de ter sua matrícula aprovada pela nova escola? E essa avaliação pode ter o caráter seletivo e, portanto, excludente? Essa atitude, tomada pela escola, não é discriminatória?
Essas questões foram levantadas por uma leitora indignada que, por motivo de mudança de domicílio, procurou vaga para 2008 em escolas privadas de São Paulo e enfrentou, em quase todas, essa situação. São muitas famílias nessa posição: alguns pais decidem pela mudança em busca do que consideram um ensino melhor para o filho, outros porque ficaram insatisfeitos com a escola que o filho freqüentou neste ano, outros porque consideraram legítima a solicitação do filho para trocar de escola etc. E, de forma velada ou escancarada, quase todas as escolas praticam seleção nesse momento. E os pais se submetem. Por quê?
Os motivos das escolas para justificar esse procedimento são inúmeros. E nossa leitora tem razão: muitos alunos são preteridos. Ora porque são julgados em desnível em relação ao currículo da escola, ora porque não tiveram boa produção no teste, ora porque não conseguiram classificação para o número de vagas disponíveis etc.
Não importa o motivo, o fato é que alguns alunos são aceitos em algumas escolas e em outras, não. Como eles apreendem o fato? Que "passaram" no teste desta ou daquela escola e que não "passaram" em outras, tal e qual é encarado o resultado do vestibular.
Muitas escolas privadas trabalham com a idéia de um determinado perfil de aluno, ou seja, querem ensinar apenas alunos cujas características se encaixam no aspirado pela instituição. Essas escolas não são boas para qualquer aluno -como deveriam ser todas as escolas. Mesmo assim, muitos pais gostariam de ter seu filho lá.
O que eles não consideram é que, a qualquer momento, o filho pode mudar seu perfil de aluno, tanto no aproveitamento quanto no comportamento, e que isso é muito salutar no desenvolvimento de crianças e jovens. Aliás, essa é a melhor hora de os mais novos experimentarem ser deste ou daquele jeito no exercício de um papel social. E, se a escola rejeita trabalhar com alguns tipos de aluno, seu filho também poderá ser rejeitado no momento em que mudar.
Sabemos também que as escolas, principalmente as privadas, evitam enfrentar situações difíceis. Os alunos que não caminham como o esperado, tanto no aprendizado quanto na convivência, são chamados de "alunos-problema" porque desafiam a escola e o trabalho que ela pratica. Na seleção de início de ano, as escolas tentam vislumbrar quais deles poderiam ser colocados nesse diagnóstico a fim de evitá-los, é claro. O curioso é que são justamente esses os alunos que mais precisam da escola, não é verdade?
Em resumo: os testes para os alunos em transferência de escola só atendem a um único interesse: o das escolas. Mas por que é que os pais se submetem aos caprichos dessas escolas? Boa pergunta, não é?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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