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S.O.S Família - Rosely Sayão
Dúvidas e certezas
Os pais que criaram
seus filhos décadas
atrás tinham quase
toda a certeza de como agir com eles. Está certo
que tais certezas se mostraram,
mais tarde, ilusórias ou falsas,
mas, de qualquer maneira, ajudaram os pais a ter atitude e a
dar conta de sua tarefa.
É que naquele tempo não havia muitas alternativas: quase
todo mundo pensava de modo
semelhante sobre como agir
com os filhos. Tais referências
eram socialmente compartilhadas e, portanto, funcionavam quase como garantias.
Mais tarde, os filhos contabilizaram muitos erros de seus
pais, claro, mas sobreviveram.
Acontece que o mundo mudou com velocidade incrível e
continua mudando. O contexto
sociocultural passou a contar
com múltiplas referências, as
famílias se tornaram diferentes, as idéias sobre educação se
multiplicaram, e ficou quase
impossível imaginar como será
o futuro dos mais novos.
Hoje, parece que a única certeza que restou aos pais em relação à educação é a de que os
filhos precisam freqüentar a escola. É por isso que, por mais
que uma criança resista, reclame ou faça cara feia, seus pais a
obrigarão a ir para a escola.
Ninguém conhece pais da classe média que atenderam aos
pedidos do filho para deixar de
ir à escola, não é verdade? E,
certamente, há muitas crianças
que gostariam de obter tal autorização. Pois é essa certeza
dos pais a responsável pela continuidade dos estudos da maioria das crianças.
No restante dos assuntos, tudo o que os pais têm são dúvidas. Qual a idade certa para colocar na escola? É melhor escola pequena ou grande? Até
quando é normal usar chupeta?
Castigo funciona? A partir de
que idade a criança deve freqüentar escola de línguas? Como reagir à birra? As dúvidas
começam quando o filho nasce
e não terminam nunca mais!
O maior problema não é ter
dúvidas, mas querer ter garantias. Sabemos que nenhuma
idéia é indiscutível, e isso não
permite ter certeza de quase
nada. É preciso aprender a caminhar na corda bamba e a
conviver com a insegurança e a
possibilidade de erro para conseguir educar os filhos.
E é preciso saber de antemão
que qualquer atitude poderá,
mais tarde, ser julgada errada.
Ao atingir a maturidade, os filhos certamente lamentarão a
falta de firmeza ou o excesso de
pressão dos pais nessa ou naquela questão. Em resumo: por
mais que os pais queiram e procurem acertar, eles errarão.
Aceitar tal idéia permite uma
reflexão importante: já que é
impossível saber o que será
considerado certo ou errado no
futuro pelos filhos, o melhor é
agir de acordo com o que os pais
pensam hoje, em conformidade
com suas convicções, mesmo
que elas não soem como certezas. Em outras palavras: para
educar, é preciso simular poucas, mas decisivas, certezas.
Essa atitude facilita um pouco a árdua tarefa educativa. Tomemos o exemplo da certeza
atual que os pais têm a respeito
dos estudos. É por ter essa certeza que os pais conseguem fazer com que os filhos freqüentem a escola e não a abandonem no meio do caminho.
Mesmo que percebam que isso é sofrido para o filho, mesmo
que reconheçam o esforço que
a criança ou o jovem tem de investir nessa atividade, os pais
conseguem persistir em sua
atitude e, conseqüentemente,
os filhos sabem que não há negociação. Por isso, eles também
persistem, apesar de tudo.
Do mesmo modo, quando os
pais quiserem valorizar alguma
atitude a ser tomada com o filho, precisam investir certeza
nela, mesmo sabendo que ela
pode ser ilusória. É desse modo
que os filhos acatarão a autoridade dos pais. Afinal, quem respeita a autoridade de quem duvida da própria atitude?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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