São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002
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s.o.s. família rosely sayão

Escolas jogam pesado para segurar aluno

Não é possível negar: escola particular é um negócio e, como tal, precisa sobreviver financeiramente. Por isso cada uma delas trata de se preparar bem para praticar uma boa educação no espaço escolar e, assim, ser reconhecida como uma boa escola e -claro- garantir alunos e mensalidades.
Mas, em tempos de recessão econômica, algumas escolas particulares estão usando recursos muito pesados com esses pais na tentativa de receber -e segurar- alunos que vão iniciar a frequência ao espaço escolar na época da educação infantil, como forma de garantir alunos nos ciclos mais avançados. Aliás, o jogo tem sido pesado demais até com pais cujos filhos com menos de quatro anos já frequentam alguma escola pequena, que conta apenas com o ensino da educação infantil.
Alguns me contaram que escolas que contemplam alunos em todos os ciclos -algumas, inclusive, muito bem conceituadas- têm pressionado os pais usando argumentos ditos pedagógicos, emocionais etc. para afirmar que o melhor para a criança é frequentar uma escola em que ela possa ter continuidade nos estudos até o ensino médio. Ora, isso já é quase terrorismo, até porque as escolas sabem muito bem fisgar o ponto fraco dos pais: a busca de garantias.
Veja só o que algumas escolas argumentam: mudanças de escola não são experiências boas e/ou positivas para a criança, afirmam alguns. Isso não é verdade. A criança pode muito bem suportar uma mudança de escola, perder os colegas e os professores com os quais já estava acostumada a conviver, passar de um método para outro bem diferente sem que isso se transforme em um problema na vida dela. Aliás, quando bem assessorada, a criança pode mais é se enriquecer com o fato.
Se a criança frequentar uma escola em que tenha vaga garantida no pré e/ou na primeira série, ela não vai precisar passar pelo chamado vestibulinho, causa de muita ansiedade e tensão da parte tanto dos pais quanto da criança. Certo, certíssimo. Passar por algum tipo de prova classificatória perto dos seis ou sete anos não é mesmo boa coisa. Mas escola séria em sua proposta educacional e que respeita a criança não faz isso.
E se a escola tem uma demanda maior de pedidos de matricula do que as vagas que oferece nessas séries? Bem, claro que ela terá de fazer escolhas, e alguns alunos ficarão de fora. Nesses caso, entretanto, a escola não propõe uma prova classificatória para ficar apenas com os que se mostram os melhores. Ela faz uma avaliação, até mesmo com os pais, para saber se eles estão certos da escolha que querem fazer.
O fato é que os pais precisam arcar com a escolha que querem fazer para o filho em idade de frequentar a escola de educação infantil. E, nessa hora, o melhor é pensar no que o filho tem a ganhar com essa escolha e assumir os riscos que isso supõe. Se os pais gostam muito do projeto -porque consistente e competente- de uma escola pequena, que só trabalha com educação infantil, não há motivo para declinar dessa escolha. É possível que assumir a escolha dessa proposta signifique que, mais tarde, o filho não consiga frequentar a escola de ensino fundamental que vocês querem? Sim, essa possibilidade existe. Mas sempre há mais de uma escola com propostas parecidas e que vão poder receber seu filho com a mesma competência. Além disso, quem garante que seu filho vai se dar bem naquela escola que você quer? Ninguém.
Se nenhuma escolha oferece garantia alguma, o melhor é que as razões dessa escolha sejam dos pais, e não das escolas, não é mesmo? Para tanto, só é preciso bancar a decisão de ter a certeza de ter escolhido o que você acha que é o melhor para seu filho na idade que ele tem. O futuro? Já está bem encaminhado se os pais fizeram uma escolha coerente com o que pensam e querem para o filho no presente. Afinal, nenhuma escola é insubstituível e, muito menos ainda, perfeita.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e- mail: roselys@uol.com.br



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