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Especialistas dão o caminho das pedras para que as madrastas, os enteados e os pais convivam com menos conflitos
Madrasta é figura comum nas novas famílias
ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL
Há 20 anos, madrasta era a mulher que entrava na vida das crianças
somente quando a mãe morria. Com o aumento do número de divórcios e de "recasamentos", ela passou a ser uma das peças principais
das novas estruturas familiares e, na maioria das vezes, de forma deslocada. Quem ganha o papel de madrasta hoje tem de encarar uma rotina
familiar complexa e dinâmica.
Fazem parte do seu atribulado dia-a-dia os filhos do marido, em geral confusos por causa da separação dos pais; a ex-mulher dele, que, por mais que encare a
situação com naturalidade, em boa parte
dos casos acaba interferindo na nova relação do ex; e o próprio marido, que carrega a experiência de um matrimônio anterior, o dilema de como criar os filhos
sem a mãe biológica e a incerteza sobre a
aceitação da nova companheira por parte
dos pimpolhos, por exemplo.
Isso tudo sem contar que, nas adjacências da "trama", há ainda a ex-sogra, a
atual sogra, os ex-cunhados, os novos cunhados, os sobrinhos e, quem sabe, até o
cachorro e o periquito! Não à toa as madrastas sentem-se perdidas.
Perfeição ou malvadeza
Pesquisa
realizada com 50 madrastas e 50 mães pela psicóloga Denise Falcke, da PUC-RS,
cujos trechos constam do recém-lançado
livro "Família em Cena -Tramas, Dramas
e Transformações" (ed. Vozes), identificou que o grande drama das madrastas é
ficarem perdidas entre dois mitos: o da
maternidade como sinônimo de perfeição e o da madrasta como sinônimo de
malvadeza (tal qual é retratada nas fábulas infantis).
"Por causa dessa dicotomia, é comum
madrastas sofrerem pressões para se
adaptarem ao modelo de "uma mãe como outra qualquer'; e, diante da impossibilidade de serem uma réplica perfeita da
mãe biológica, frustram-se e ficam com
muito medo de errar", explica Falcke.
Psicólogos norte-americanos voltaram-se para a questão nos anos 90. Uma
das principais conclusões a que chegaram é que três padrões utilizados para
orientar a posição da madrasta devem ser
contestados: o de que a madrasta pode
substituir a mãe, o de que pode ser considerada uma segunda mãe, e o de que pode ser a melhor amiga dos enteados.
"A mãe é insubstituível. O que é substituível é o papel que ela exerce", explica a
psicóloga e colunista da Folha Rosely Sayão. Nesse sentido, a madrasta pode assumir funções que antes eram desempenhadas pela mãe biológica. Mas isso só
deve ser feito mediante a autorização do
pai, o qual deve explicitar aos filhos que
ele está dando o aval para que ela interfira, por exemplo, na educação deles.
"Se eles vêm reclamar de alguma coisa
comigo, digo: "Falem com o seu pai". E, se
tenho de chamar a atenção deles, sempre
faço com o suporte do meu marido", diz
a arquiteta Roberta Palermo, 33 anos,
que relata sua experiência de ex-enteada
e atual madrasta no livro "Madrasta
-Quando o Homem da sua Vida Já Tem
Filhos" (ed. Mercuryo). O assunto dá
tanto ibope que ela criou o site www.madrasta.hpg.com.br e a AME (Associação
de Madrastas e Enteados).
Contar com o aval do pai é importante
também para evitar outra situação comum, que é ouvir a típica frase: "Vou dizer para a minha mãe que você mandou
eu fazer isso". Se o pai está amparando
essa "ordem", a criança vai pensar mais
antes de dar uma de leva-e-traz. Porém é
absolutamente comum os enteados,
principalmente no início da relação com
a madrasta, fazerem picuinhas e soltarem
frases como: "Minha mãe faz essa comida melhor" e "minha mãe deixa eu fazer
isso", afirma a psicanalista Magdalena
Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP.
Esse tipo de comportamento faz parte
de uma série de recursos usados pelo enteado para mostrar lealdade à mãe. "A
criança ou o adolescente já estão abalados com a separação e costumam ter a
sensação de que perderam o pai; na cabeça dos enteados, a madrasta vem para aumentar ainda mais essa perda", explica
Maria Rita D'Ângelo Seixas, coordenadora do curso de terapia familiar do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Passado alheio
A madrasta também
terá de conviver com um passado que ela
preferiria não saber, mas o qual a criança
com certeza vai revelar. "Inevitavelmente, vão surgir situações em que o enteado
vai comentar: "Lembra, pai, quando nós
fizemos aquela viagem?". A intenção é
deixar a madrasta de fora", diz Ramos.
Além disso, a questão financeira costuma
ser motivo de irritação, "pois a madrasta
às vezes encara o dinheiro da pensão como algo que lhe está sendo tirado", diz a
psicanalista. Nesse caso, o melhor é ficar
longe dos problemas burocráticos que o
marido tem com a ex-mulher. E essa é só
uma das várias atitudes (leia mais nas páginas seguintes) que ajudam a minimizar
os conflitos com os quais essa nova família costuma conviver.
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