São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010
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ROSELY SAYÃO

Falta sexo


A escola deve tratar o tema do sexo para garantir aos jovens um desenvolvimento sexual saudável


A MÃE de um adolescente me contou que o maior interesse dele atualmente é tudo o que envolve a sexualidade.
Ele só pensa naquilo, brincou ela. Por isso, essa mãe tem uma pergunta: ela quer saber por que razão a escola não trabalha esse tema de maneira séria com os alunos dessa idade?
E ela ainda disse mais: até o dia em que falou comigo, próximo ao 1º de dezembro, quando se celebra o Dia Mundial da Luta contra a Aids, ninguém na escola havia dito nada a esse respeito, segundo lhe informou o filho. E o garoto frequenta o primeiro ano do ensino médio de uma escola particular muito bem conceituada na cidade de São Paulo.
Essa sempre é uma boa conversa já que, de fato, a escola não tem mesmo tratado o tema da sexualidade, embora ele esteja previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais como um tema transversal que a escola deve e precisa trabalhar de modo planejado.
Sabemos que as doenças sexualmente transmissíveis e a Aids estão presentes na vida dos jovens de maneira bem perigosa.
No Estado de São Paulo, por exemplo, 36,1 % dos casos notificados de DST concentram-se na faixa de idade de 13 a 24 anos.
Estudos realizados em diversos países apontam que a maioria dos portadores jovens do vírus HIV contraiu a infecção na adolescência.
É necessário um trabalho sistemático e sério de educação sexual, para garantir aos jovens o direito que eles têm de um desenvolvimento sexual saudável. Com tantas informações que apontam essa necessidade, a pergunta que fica é: por que a escola não tem cumprido sua parte?
Temos algumas pistas e a primeira delas é, certamente, a falta de formação da parte dos educadores formais.
Muitos deles, inclusive, preocupam-se com o tema e até o abordam com seus alunos.
O problema é que, quando fazem isso, estão sozinhos e por isso cometem atos desastrosos -como por exemplo passar seus valores pessoais e religiosos aos alunos, dar conselhos, julgar e até incentivar diretamente o que consideram atos preventivos, como a abstenção sexual ou uso de preservativo.
Ora, se as escolas dessem formação a seus docentes isso não ocorreria. Muitas delas formam seus professores para assuntos do conhecimento dos mais diversos tipos, oferecem capacitação para novas metodologias e teorias etc. Mas o tema da sexualidade, poucas priorizam nessa formação.
O segundo ponto que atrapalha a escola é a interferência dos pais. Algumas até mesmo afirmam que não têm um programa de educação sexual para os seus alunos porque os pais deles não aceitam isso.
Não cabe aos pais essa interferência na escola, e esta não deveria se submeter a tal tipo de intromissão, já que os mais novos têm direitos que precisam ser assegurados, independentemente de o que os pais deles pensam.
Cabe aos pais, isso sim, avaliar se o trabalho realizado é condizente com a idade dos alunos e se há fundamentação consistente para ele.
Os jovens, hoje, carecem de liberdade, notadamente em relação à sexualidade.
Eles são levados a acreditar que praticar o sexo é ser livre e que fazem isso por escolha própria. Não fazem: são praticamente levados a isso pela hiperestimulação erótica de nossa sociedade.
Pois seria na escola que eles teriam a oportunidade de construir um pensamento crítico a esse respeito de modo a poder, de verdade, ter escolha.
Por fim: qual a diferença entre sexo e sexualidade?
A escola, principalmente, deveria saber fazer essa diferença para então, com profissionalismo, planejar um trabalho de educação sexual com seus alunos e, dessa maneira, contribuir com o desenvolvimento pessoal e social dos mesmos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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