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Rosely Sayão
Iniciação adolescente
Ana (nome fictício) é
uma garota de 16 anos
que, como outros jovens, lê meus textos
na internet. De início, fiquei curiosa. Afinal, são textos dirigidos a adultos, principalmente
pais, para provocar reflexão sobre a prática educativa.
Lendo os comentários que
deixam em meu blog, percebo
que eles buscam interlocutores
maduros para conversar a respeito de suas aflições e, principalmente, do relacionamento
com os pais e os estudos. Certa
vez, li num texto de Françoise
Dolto, psicanalista francesa
que se dedicou ao estudo da
saúde mental de crianças e jovens, que eles precisam conversar com adultos que não sejam
seus cúmplices nem seus juízes
-e penso que eles sentem falta
desse tipo de interlocução.
Ana diz, em relação aos pais,
que se sente aprisionada em
uma gaiola invisível e que tem
um conflito: viver sua própria
vida, de acordo com o que pensa e é, ou agradar aos pais e viver e ser como eles gostariam.
É na adolescência que os filhos nascem para o mundo
adulto, quando entram num tipo de vida cheia de mistérios,
contradições, crueldades e injustiças, mas também com
muitas seduções e promessas.
E é na família que eles ensaiam
seus primeiros passos.
Nessa iniciação eles buscam
encontrar o seu lugar, e isso
muitas vezes significa recusar o
que os pais gostariam para eles
e fazer oposição. Mas não tem
sido fácil viver esses conflitos
na família contemporânea. A
gaiola invisível de que Ana fala
pode ser o amor dos pais, manifestado de maneira inusitada.
Como o vínculo entre pais e filhos é o único que, no momento, dá garantia de resistir até
que a morte os separe, parece
que os adultos estão apostando
todas as suas fichas nele.
Os pais querem o melhor para os filhos, mas idealizam tanto que têm dificuldades para
enxergar quem, de fato, os filhos são. Características deles
são transformadas em defeitos,
anseios são considerados inadequados, busca de privacidade
é entendida como afastamento.
Permitir que os filhos se afirmem como são sem abdicar dos
valores familiares -pelo menos enquanto vivem no mesmo
ambiente-, respeitar e se fazer
respeitar, falar e ouvir com discernimento e tentar manter a
relação comunitária na família
são posições muitas vezes difíceis para os pais, mas ajudam o
jovem a se situar no grupo familiar e fora dele também.
Os jovens -como Ana- têm
reclamado da chantagem emocional dos pais. Nem sempre
eles se dão conta do que fazem,
já que, em geral, ela se expressa
com sutilezas e é marcada por
atitudes amorosas e boas intenções. Mas é paralisante para os
jovens, que se sentem responsáveis pelo bem-estar ou mal-estar dos pais e enfrentam com
maiores dificuldades o compromisso consigo mesmos.
Os pais precisam ser realistas: o destino dos filhos é viver a
própria vida, e a adolescência é
a prova material de que tal processo já está em curso.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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