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drible a neura
Atrasados emperram sua rotina e a dos outros
ANGÉLICA KENES NICOLETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando o assunto é dar chá de cadeira, eles são mestres. Parecem
eternamente afobados, lutando contra o relógio, e geralmente
têm uma desculpa na ponta da língua. São os atrasados crônicos, que
interrompem reuniões e aulas, deixam clientes esperando e são sempre os últimos a chegar à festa ou a buscar os filhos na escola. E, mesmo
em uma cultura que não é tão rígida com horários como a brasileira, ser impontual é um problema
que gera prejuízo tanto aos que esperam como aos que atrasam.
Os horários sistematizam a vida em
função dos compromissos, explica a
professora Maria Dolores Cunha Toloi, coordenadora-geral do Departamento de Psicodrama do Instituto
Sedes Sapientae (SP). "Quando atrasamos, perturbamos o ambiente,
além de perdermos a oportunidade
de darmos a nossa contribuição."
E não adianta sempre culpar o trânsito. Os problemas das metrópoles
justificam atrasos eventuais, mas não
todos. "O tempo é relativo só para
Einstein, para nós ele é concreto, portanto o atraso faz parte da vida dos
que vivem em grandes centros", diz o
psicólogo Alfeu Marcatto. Mas a impontualidade sinaliza perda de qualidade de vida: a pessoa não está conseguindo dar conta de tudo o que se
propõe a fazer. Nesse caso, a alternativa é reduzir os compromissos.
Cláudia de Freitas, cujo dia começa
às 6h30 e nunca termina antes da 1h,
pensa em outra solução para pôr um
fim aos seus "históricos minutos de
atraso". "É só priorizar as necessidades", diz ela, que é professora de literatura e proprietária de uma confecção e possui uma agenda lotada de
compromissos sociais. Há, porém,
outro fator que a impede de ser pontual. "Detestaria parecer metódica,
daquelas que sempre chegam e saem
primeiro; além disso, sou muito ansiosa para ficar esperando os outros."
Ao contrário da professora, o empresário Célio Ribeiro, que se classifica como "um incorrigível atrasado",
diz que gostaria de ser "certinho".
"Mas desde sempre fui de deixar os
outros esperando", conta ele, que se
diverte com as desculpas que dá. Ele é
tão convincente que muitas vezes
consegue fazer com que a pessoa com
quem tinha de se encontrar acredite
ter se confundido com o horário.
"Pessoas que têm rapidez de raciocínio e domínio sobre o que fazem às
vezes têm noção de que o atraso é
apenas um detalhe e que vão desempenhar seus papéis tão bem quanto
os pontuais", diz Ana Bahia Bock,
presidente do Conselho Regional de
Psicologia (SP), que também afirma
ser uma "pessoa pontualmente atrasada". "Sempre começo minhas aulas
com 15 minutos de atraso. No começo, os alunos estranham, mas logo
percebem que são compensados com
uma aula de qualidade e que é isso
que importa."
O atraso pode até revelar uma atitude defensiva. "Se a pessoa quer evitar
uma situação que, de antemão, ela sabe que será desagradável, então o
atraso passa a ser uma medida protetora", afirma a psicanalista Ana Rosa
Sancoviski, diretora da área de ensino
da Divisão de Psicologia do Hospital
das Clínicas (SP). Segundo Marcatto,
é muito comum funcionários chegarem atrasados ao trabalho quando estão insatisfeitos com o que fazem.
O ritmo biológico, de acordo com
Marcatto, é outra explicação para os
atrasos. "Está comprovado cientificamente que cada pessoa tem um horário de melhor desempenho, e, sem
dúvida, é mais difícil para os notívagos cumprirem compromissos nas
primeiras horas do dia", explica ele.
É o caso do decorador Marcelo
Vieira, que separa previamente a roupa que usará no dia seguinte para se
atrasar menos. Vieira programa dois
despertadores para não perder a hora. "Mesmo assim não dá. Prefiro ficar mais tempo na cama e depois sair
desesperado; já estou habituado a ser
o último da fila."
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