|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
firme e forte
Ashtanga é tipo de ioga frenética
Flávio Florido/Folha Imagem
|
Alunos do professor Cristóvão de Oliveira praticam a ashtanga em uma sala totalmente fechada, no Espaço Vidya, em São Paulo |
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles suam copiosamente dentro de
uma sala, muitas vezes completamente fechada. Também gritam, suspiram, às vezes choram e, sem constrangimento, arrotam e liberam gases. Movimentam o corpo todo sem tempo para descanso. Sentam no chão, deitam, saltam, alongam, contraem os músculos e contorcem dorso e membros. Tudo é
muito frenético, intenso e ágil. É assim
que se comportam os praticantes da ashtanga vyniasa, estilo de ioga que se popularizou nos EUA depois que Madonna e
Sting declararam-se seus fãs. E, por aqui,
ganha cada vez mais adeptos.
Seus principais benefícios, segundo
praticantes e professores, são flexibilidade, tonicidade, força muscular, equilíbrio, consciência corporal e ainda -por
mais incoerente que possa parecer-
tranquilidade e serenidade mental.
"Só depois de praticar a ashtanga descobri verdadeiramente meu corpo, seus
limites e suas possibilidades. Antes, a minha postura correta era a que o espelho me dava. Hoje, é a que minha consciência
me mostra", comenta a professora de balé clássico Gláucia Bittar, 32, aluna de
ashtanga há um ano e meio.
Como ela, a atriz Adriana Patias, 26,
que nunca havia feito ioga antes por
"preconceito com o misticismo" que envolve a prática, diz ter quebrado diversas
barreiras impostas pelo seu corpo, que
melhorou a postura e o modo de andar.
Ashtanga, em sânscrito, significa oito
partes, em referência aos oito princípios
da ioga. Vyniasa significa sincronia. "O
que a ashtanga vyniasa faz é unir em uma
única prática, principalmente por meio
da atividade física, esses oito princípios,
que, na ioga tradicional, são realizados
separadamente", explica Cristóvão de
Oliveira, 37, terapeuta corporal que
aprendeu a ashtanga na Índia e dá aulas
da técnica em São Paulo.
As posturas realizadas pelo iogue promovem o exercício e a percepção corporais. Cada uma delas age sobre partes específicas do corpo, como quadril, pescoço ou braços.
O grande diferencial da ashtanga é que
algumas posturas são realizadas sem intervalo, uma seguida da outra, num ritmo marcado por inspirações e expirações profundas, realizadas somente pelo
nariz, o que faz os praticantes suarem em
bicas durante as aulas. Vide a modelo
Fernanda Lima na página ao lado, que
pratica a técnica há quase um ano.
"Essa sequência de movimentos é o que
chamamos de vyniasa, que vai justamente fazer o "link" entre uma asana (postura)
principal e outra", explica Oliveira. A
professora Gisele Jacob, que dá aulas de
ashtanga na academia Reebok, não indica a técnica para quem não tem conhecimento anterior da ioga tradicional, "porque a pessoa pode ter dificuldade de
aprender os movimentos".
"Comecei com algumas aulas de hata
ioga porque os movimentos não são contínuos e você pode percebê-los mais", diz
o auxiliar administrativo João Carlos Rodrigues, 22, aluno de ashtanga há um
mês. Ele confirma que não é fácil, no início, entrar no ritmo da prática. "Mas o
trabalho corporal realizado na ashtanga é
muito mais intenso do que na ioga tradicional, por isso decidi ficar."
Foi esse caráter energético da ashtanga
que fez o administrador de empresas e
ex-maratonista Aldo Lareano, 49, abandonar aos poucos as maratonas. "Com a
ashtanga, eu consigo o mesmo condicionamento que obtinha com a corrida, com
a vantagem de perceber mais meu corpo
e poder meditar enquanto faço exercício", diz.
O praticante dá um tempo na movimentação por alguns poucos minutos (o
tempo de realizar cinco respirações)
quando faz as asanas principais. É nesse
momento que a respiração adquire sua
maior importância. "Durante toda a prática, a respiração atua no sentido de trazer consciência ao praticante. Nas asanas
principais, ela auxilia o iogue a manter o
"encaixe" da postura, ou seja, a permanecer corretamente na posição e, assim, obter melhores resultados sobre o corpo",
explica Regina Nuyken, 32, pianista que
se "converteu" à ashtanga quando morou na Alemanha e pratica a atividade,
como professora do Surya Espaço de Yoga, há aproximadamente seis anos.
Outro princípio da técnica: o praticante
deve realizar as chamadas "uddhyana
bandas". Significa manter a musculatura
do abdômen e do períneo enrijecida, a
fim de conferir simetria aos movimentos
(manter um braço tão alongado quanto o
outro, por exemplo). "Com o baixo abdômen contraído, o praticante expande o
ar pela costela, aumentando o tórax. Já a
contração do períneo dá mais firmeza e
estabilidade aos exercícios", explica Nuyken. Os professores garantem: "A ashtanga é uma prática ideal para o homem
que vive na correria da modernidade".
Texto Anterior: Especiais para a 3ª idade Próximo Texto: Onde Índice
|