São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003 |
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Combate ao desperdício de alimento e defesa da saúde do corpo e do planeta são algumas das metas do novo conceito Comida entra na mira do consumo consciente
DA REPORTAGEM LOCAL
O mundo produz diariamente comida em quantidade suficiente para alimentar -e bem- toda a população do planeta, no entanto 24 mil pessoas morrem todo os dias por não terem acesso a ela. No Brasil, a falta de alimento na mesa confronta-se com uma realidade aparentemente oposta: 44
milhões passam fome enquanto 70 milhões estão acima de peso -o que não
significa que se alimentem de forma saudável. Mas o contra-senso não pára
aí: todos os dias, no Brasil, o destino de 70
mil toneladas de alimentos é o lixo.
Um novo conceito chega ao Brasil com
o objetivo de reduzir o desperdício e
equilibrar a balança da distribuição de
comida no país. É o consumo consciente
na alimentação, lançado nos Estados
Unidos há quatro anos pela ONG New
American Dream e cujo nome já explica a
que veio: ir contra o "american dream"
(sonho americano), estilo de vida baseado, entre outros, no "quanto mais, melhor". Segundo a ONG, os americanos
consomem mais de 40% da gasolina do
mundo e mais papel, alumínio, energia,
água e comida per capita do que qualquer outra sociedade do planeta.
Por aqui, uma mentalidade antiga ainda persiste, a filosofia que diz "melhor sobrar do que faltar" e que resulta na valorização da fartura, especialmente de comida. O fato é que de 20% a 30% dos alimentos adquiridos para abastecer uma
casa vão para o lixo.
"É uma herança dos anos de inflação,
em que era melhor estocar por razões
econômicas, em vez de comprar "picadinho", o que deveria ser feito hoje", diz a
nutricionista Tereza Watanabe, da Diretoria de Alimentação do Sesi-SP, que desenvolve o programa Alimente-se Bem
por R$ 1 -de aproveitamento integral
dos alimentos.
O desperdício de comida não se restringe às residências. Apenas os supermercados descartam cerca de 13 milhões de toneladas de alimento por ano, e as feiras livres jogam fora mais de mil toneladas em
frutas, legumes e verduras. São R$ 12 milhões em comida jogados fora, o que poderia alimentar 30 milhões de carentes
por ano. A constatação é da ONG Instituto Akatu, que desenvolveu um extenso
estudo sobre o assunto, denominado "A
Nutrição e o Consumo Consciente", que
está disponível em seu site.
"O consumidor tem de saber que o ato
da compra é divido em três fases: a compra em si, o consumo e o descarte do que
sobrou. O consumo ético nada mais é do
que levar em conta esses fatores, que estão atrelados uns aos outros", diz o presidente do Akatu, Helio Mattar.
No ato da compra, o consumidor engajado avalia o produto com base em critérios que incluem a qualidade da matéria-prima utilizada na produção, o valor nutricional do alimento e a responsabilidade social do fabricante. Nessa tarefa, os
melhores aliados são as certificações conferidas a empresas alimentícias, como os
selos Empresa Amiga da Criança, que assegura não ter havido mão-de-obra infantil em sua fabricação, ou SBC-Funcor,
que garante que o alimento não oferece
risco ao sistema cardiovascular (leia mais
sobre selos na página 8).
A forma de preparo do produto é a segunda preocupação desse consumidor,
que vai, por exemplo, aproveitar o máximo dos alimentos para reduzir o desperdício. E o último passo é o descarte responsável do que sobrou. Nesse caso, ele
participa do processo de coleta seletiva
do lixo. Essas ações integram a chamada
política dos três "erres", conjunto de medidas que visam reduzir o consumo e
reutilizar e reciclar matérias-primas e recursos naturais.
Reduzir não é comer menos, mas adquirir o suficiente para o consumo.
"Além de planejar desde o que se coloca
no prato, para não precisar jogar fora, é
essencial se programar antes de ir ao supermercado, para comprar apenas o necessário", diz a presidente da Sociedade
Brasileira de Alimentação e Nutrição, Silvia Cozzolino (leia mais na pág. 8).
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