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ROSELY SAYÃO
Olho por olho
Uma notícia parece
que puxa outra: nos
últimos tempos, o tema da violência entre crianças e adolescentes, geralmente ligados entre si pela
escola, está em diversas reportagens. Agressões físicas com
conseqüências sérias entre
grupos ou de um grupo contra
um aluno e intimidações das
mais variadas estão em maior
evidência. E não importa a idade das crianças, tampouco a
classe social a que pertencem: a
violência está presente em todos os segmentos.
Tal fato exige que foquemos
nossa atenção, em primeiro lugar, no mundo adulto. Devemos resistir à tentação de demonizar as gerações mais novas. Se elas se relacionam de tal
maneira é porque, primeiramente, vivem em uma sociedade bastante tolerante com a
violência e que até a estimula.
Um exemplo: na prática, a
maioria dos pais tem boa intenção e ensina aos filhos que não
devem fazer uso da violência de
nenhum tipo. A não ser, é claro,
se forem agredidos. A orientação dada, nesses casos, costuma ser que reajam com violência. Desse modo, o ato violento
reativo é incentivado. Mas violência é violência, ativa ou reativa, e sabemos que gera mais
violência ainda.
Do mesmo modo, a escola
também faz diferença entre as
duas modalidades: alunos que
praticam um ato violento em
primeiro lugar costumam ser
penalizados mais duramente
do que os que reagem com violência. Como resultado, crianças e jovens criam a idéia de que
quem agride é corajoso e quem
não revida é covarde.
Parece que esse fenômeno de
disseminação de relacionamentos violentos entre os mais
novos tem como principal causa a ausência de relações reais
entre os adultos e eles. Em nome da liberdade das crianças,
de sua autonomia e do exercício de sua criatividade, entre
outras coisas, nos retiramos de
seu mundo e permitimos a
construção de uma "república
de crianças e de jovens".
O que não consideramos é
que, na ausência da autoridade
dos adultos, eles ficam submetidos à ditadura de seus pares
ou do grupo em que convivem.
E quem conhece crianças e
adolescentes sabe que eles são
muito mais tirânicos e rígidos
do que os adultos. Eles não suportam as diferenças se não
aprendem a conviver com elas,
por isso excluem e intimidam;
seguem a lei do mais forte, por
isso agridem; querem de qualquer maneira submeter seus
pares a um único ponto de vista. Ficam, portanto -como refere Hannah Arendt-, submetidos à tirania da maioria.
Muitos atos violentos praticados são aceitos como "coisa
de criança ou de adolescente".
Claro que desavenças sempre
existirão, mas é preciso diferenciar a experimentação para
aprender a conviver em grupo
das relações baseadas em violência descontrolada. E é bom
ressaltar que todas as crianças,
principalmente na escola, participam desse tipo de relação:
tanto as que estão envolvidas
diretamente em situações de
violência quanto as que observam. Estas últimas também são
atingidas diretamente.
Toda essa violência nas relações entre os mais novos talvez
seja apenas a maneira que eles
têm para mostrar que precisam
da autoridade dos adultos para
não ficar à mercê de seus próprios caprichos e impulsos e os
dos outros.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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