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s.o.s. família
Filhos de pais separados sofrem, sim
rosely sayão
"Eu não me separo por causa dos filhos."
Essa frase foi muito usada por homens
e mulheres que, descontentes com a situação
do casamento que viviam, encontravam nos
filhos a justificativa para a permanência em
um tipo de vida desconfortável, frustrante ou,
às vezes, de grande sofrimento. Esse tempo já
se foi, e as pessoas não jogam mais sobre os filhos tamanha responsabilidade. Mas, mesmo
em época de tantas separações e divórcios,
uma dúvida permanece para muitos pais: no
caso de separação, os filhos são afetados?
Não dá para ser "pós-moderno" e dizer que,
para os filhos, tanto faz se os pais estão juntos
ou não. Sim, para os filhos há uma grande diferença entre crescer com a presença dos pais
sob o mesmo teto, crescer com a presença dos
dois de forma alternada ou crescer com a presença de um só deles.
A criança vai sofrer com a separação dos
pais? Vai. Vai sentir falta da presença segura e
constante de um deles? Vai também. Ela pode
reclamar da situação, sentir-se abandonada?
Sem dúvida que sim! Mas o filho pode, também, superar essas frustrações, essa vicissitude da vida e seguir em frente. E com menor dificuldade se os pais colaborarem com ela e não
abdicarem de seu papel.
A separação de um casal quase sempre é
muito sofrida: são muitos sonhos que se perdem, é um projeto de vida que deixa de existir,
são mágoas e ressentimentos que crescem a
cada segundo.
E os pais não podem imaginar que os filhos
não percebem o que está acontecendo. Tentar
poupar os filhos dessa situação é subestimar a
criança e a sensibilidade que ela tem para perceber as situações que a cercam.
Claro que isso não significa contar para a
criança o que está acontecendo usando linguagem adulta, muito menos expor a criança
a sentimentos que ela não tem condições de
entender ou em que ela não pode interferir.
Mas os pais precisam encontrar um modo de
se comunicar com o filho sobre a separação e
conversar com ele sobre o assunto.
E, mesmo sofrendo o próprio sofrimento, os
pais precisam suportar o sofrimento dos filhos
nesse momento delicado.
Sim, isso pode ser bastante difícil para o
adulto. Uma jovem mãe escreveu contando
que estava se sentindo desnorteada quando a
filha, de quase 4 anos, gritava, lamentando a
ausência do pai, fato que estava ocorrendo
com muita frequência. Depois de tentar reagir
às crises de birra por umas duas vezes, a mãe
desistiu e deixou a filha chorando sozinha em
um quarto, enquanto ia chorar no outro.
Provavelmente essa mãe está com dificuldades para distinguir a própria situação daquela
que a filha está vivendo. A filha está sentindo a
falta do pai, e a mãe, que está com ela, precisa
entender isso e ampará-la para que ela possa
suportar essa ausência.
O filho pode ter 1, 3, 5, 8 ou 15 anos de idade.
Em todos os casos, a separação dos pais será
sentida. Cada criança reage de um modo, e os
pais precisam estar atentos para saber como e
quando intervir. O que os pais não podem é
relevar determinados comportamentos do filho, levando em conta o sofrimento pelo qual
ele está passando, ou sentir-se incompetentes
para compreender o que está acontecendo.
Não! Os filhos precisam continuar aprendendo a viver, a suportar as frustrações que a vida
lhes apresenta, a enfrentar as perdas indesejadas e, para isso, dependem dos pais.
Um novo relacionamento deve e pode surgir
com os filhos depois de uma separação. Mas a
tarefa continua a mesma: educar. Se os pais,
mesmo separados, cumprem sua obrigação, o
filho terá mais chances de se desenvolver de
forma coerente com o potencial que tem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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