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Toda doença tem uma relação com a psique e com as emoções da pessoa; quando há problemas nessa área, o corpo sente
Quando a doença do corpo vem da mente
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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A empresária Acácia Lima, 35, ficou duas semanas com a garganta inflamada
depois de "engolir" um insulto |
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Carina Edenburg e os filhos, Stephanie e Nicholas: somatização em família após o divórcio
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ANTONIO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje a empresária Acácia Lima, 35, coloca o bom humor para
funcionar, brincando de engolir um sapo para o fotógrafo
-veja a imagem abaixo. Mas, há um mês, por causa de um "sapo" ela passou duas semanas com uma inflamação violenta.
"Surgiu uma bola na minha garganta. Quase não conseguia tomar água." O "sapo", no caso, foram os desaforos ouvidos de uma pessoa com quem trabalhava.
O que aconteceu com Lima é chamado
pela medicina de somatização: transferência para o corpo do que deveria ser vivido e suportado no plano psíquico. Ou
seja: o corpo manifesta-se, porque psiquicamente a pessoa não conseguiu dar
conta do impacto que o acontecimento
provocou.
E é consenso entre os médicos que seguem a medicina psicossomática: toda
doença tem relação direta com manifestações psíquicas e emocionais. Assim,
desconfortos e desajustes psíquicos vão
produzir diretamente sintomas e doenças no corpo ou então irão agravar as
doenças que a pessoa já possui.
Dificuldade para respirar e palpitação
são alguns dos sintomas somáticos mais
comuns (leia outros na pág. 8). Quanto
ao agravamento de doenças, ele pode
ocorrer tanto no caso de uma simples gripe quanto em um quadro patológico
mais sério, como câncer. A recuperação
de uma cirurgia, por exemplo, pode ser
prolongada se o estado psicológico do
paciente estiver debilitado.
As manifestações somáticas, às vezes, tomam grandes proporções, perdurando
anos e ganhando a forma de doença crônica -caso das pessoas hipocondríacas.
Mas essa ligação entre psiquismo e saúde
do corpo costuma ser considerada apenas
quando se fala em algumas determinadas
doenças, na verdade, um grupo de sete patologias que foram bastante estudadas no
anos 60. São elas: asma brônquica, úlcera,
retocolite ulcerativa, hipertensão, eczema,
hipertireoidismo e artrite reumatóide.
"Essa visão tornou-se reducionista, limitante, porque o ser humano é integral,
mente e corpo são indissociáveis. Assim,
todas as doenças são de algum modo psicossomáticas", afirma o psiquiatra José
Atílio Bombana, coordenador do programa de estudos de somatização do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Para o psiquiatra Carlos Briganti, diretor
do Movimento Interdisciplinar de Psicossomática (MIP), "haverá um dia em que o
homem vai olhar para trás e dar risada
ao saber que existia uma faculdade para
ensinar medicina e outra para ensinar
psicologia".
Somatizadores em potencial
Segundo a psicodinâmica (que estuda os
processos mentais e emocionais subjacentes ao comportamento humano), os
somatizadores em potencial são pessoas pouca dadas a elaborações psíquicas, que têm uma excessiva ligação com
a realidade e cuja vida é pouco recheada
de fantasia e imaginação.
A falta de contato da pessoa com as
suas questões de ordem psicológica
tende a causar um estado de permanente angústia, diz o psiquiatra Rubens
Hirsel Bergel.
"A pessoa tem esse sentimento e não
sabe por quê. E a angústia é o fogo que
alimenta a permanência dos sintomas
de uma doença", afirma ele.
Nesse sentido, diz Paulo Henrique
Bertolucci, do Setor de Neurologia do
Comportamento da Unifesp, pessoas
com doenças crônicas, por exemplo,
que vivem deprimidas e angustiadas
vão ser mais afetadas pela doença do
que as que encaram a vida com mais otimismo e confiança.
Prender afeto dói
Até reprimir afeto causa males ao corpo. Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, o psiquiatra José
Roberto Siqueira Castro, as doenças
surgem e se agravam por causa da dificuldade de as pessoas expressarem seus
sentimentos no mundo. "As pessoas
que represam os afetos são limitadas do
ponto de vista humano. Daí, estão muito mais suscetíveis a manifestarem no
corpo o que não estão conseguindo resolver no coração."
Defesa fraca
O primeiro fator que
leva ao surgimento de sintomas somáticos ou ao agravamento de doenças é a
queda na imunidade, diz o psicólogo José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da
Unifesp. "Se a pessoa está triste ou deprimida, é notável o prejuízo na resposta imunológica. O organismo sente na
hora."
Outra resposta orgânica é a liberação
dos hormônios corticóides, como a
adrenalina, que ocorre em decorrência
de um estímulo externo (um susto, por
exemplo). Mas, quando essa liberação
se repete com frequência, torna-se danosa, já que ela significa contração dos
vasos sanguíneos e dos músculos e aumento da pressão arterial.
"Pessoas que vivem em situações de
desamparo, que se sentem sem saída e
sob ameaça e não procuram superar isso psiquicamente vão ter uma resposta
orgânica inevitavelmente", alerta Leite.
Muitas vezes, o próprio paciente prefere um medicamento em substituição a
uma terapia ou outro recurso que o ajude a trabalhar sua psique. "Ele quer um
remedinho milagroso para resolver seus
dramas", diz a psiquiatra Cecília Helena
Piraíno Grandke, do comitê de psicossomática da Associação Paulista de Medicina e do Ambulatório de Psicossomática da Universidade Santo Amaro
(Unisa).
Mas Grandke acredita -e nesse ponto, todos os médicos ouvidos concordam-que a maioria dos médicos têm
grande parcela de responsabilidade.
"Eles não abordam questões emocionais e psíquicas nem se interessam pela
história de vida do paciente. É por essa
falta de visão que muitas pessoas sofrem
sem necessidade", critica.
Sendo assim, vale a dica: observar se,
por trás do mal físico que o aflige, há
questões psicológicas sobre as quais pode-se interferir.
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