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ODONTOLOGIA
achados e perdidos
Fora da caixa, embrulhado no guardanapo ou jogado na bolsa, aparelho removível
acaba sendo perdido ou indo parar no lixo; saiba como conservá-lo por mais tempo
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não faz um ano, Marina de Marchi Gorgueira, 16, viu-se novamente à procura do
aparelho ortodôntico removível. Depois de esquecê-lo em bolsas e em lanchonetes, ela
já estava até acostumada com esse tipo de situação. Mas, dessa vez, tinha certeza de
que o havia deixado na cabeceira da cama. Procura daqui e dali, ela o encontrou: na
boca de Fred, o poodle da família, animado com o novo brinquedo.
"Eu não conseguia pegar o aparelho de volta, chegava perto e ele rosnava", diverte-se
a estudante. A solução foi mandar fazer um novo aparelho -o quarto, o quinto, o sexto?
Marina já nem se lembra. Acostumada a visitar o consultório da ortodontista desde os
quatro anos, ela perdeu a conta de quantos já perdeu ou quebrou. "Na última vez, eu
coloquei na mochila e, quando fui guardar o material, acabei quebrando uma ponta do
aparelho."
Até a mãe de Marina, a publicitária Catarina de Marchi, 44, tem culpa no cartório.
"Fomos a uma lanchonete e eu guardei o aparelho na bolsa enrolado em um
guardanapo. Depois, vi aquele papel amassado e joguei no lixo."
Enrolar o aparelho no guardanapo é uma das causas mais comuns de perda, conta
Ivana Uglik Garbui, diretora da Apeo (Associação Paulista de Especialistas em
Ortodontia). "As pessoas embrulham o aparelho para comer e deixam na bandeja, ou
jogam no lixo.
A gente brinca que o McDo-nald’s é o maior centro de aparelhos perdidos", comenta.
A consultora de comunicação Lara Rocha Garcia, 23, que usou aparelho ortodôntico
dos 9 aos 19 anos, conta que já teve que revirar cestos de lixo após jogar o aparelho
com o resto do lanche, além de ter cometido outros erros comuns, como guardá-lo sob
a carteira, no colégio, de onde ele caía e acabava sendo pisado.
"Meu aparelho era rosado, mas todo remendado com partes brancas, devido às
restaurações", lembra ela, que o tirava ao chegar à escola porque achava o aparelho
removível feio. "Bonito mesmo era o fixo, com elásticos coloridos. Quando coloquei o
fixo, foi ótimo, pois eu não tinha mais de me preocupar com o aparelho quando
comesse alguma coisa."
Dentes de leite
Segundo Garbui, os aparelhos removíveis costumam ser os mais indicados para
crianças que ainda têm dentes de leite, enquanto o fixo é mais usado para tratar a
dentição permanente. "Geralmente, os removíveis são usados numa primeira fase e
ajudam a redirecionar o crescimento dos dentes. O fixo faz um acabamento, com
movimentos que o removível não faz, como corrigir a rotação de um dente."
João Sarmento, professor do departamento de odontologia infantil da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas), ressalta que os dentes de leite têm uma
anatomia diferente, e suas raízes não suportam a força que o aparelho fixo
proporciona.
Depois do tratamento, o aparelho removível também pode ser utilizado para manter o
resultado. De acordo com Sarmento, existem alguns aparelhos removíveis de
contenção que não precisam ser retirados para a alimentação.
Mas, quando é preciso retirar o aparelho para comer, o ideal, afirmam os especialistas,
é guardá-lo em uma caixinha específica. Para evitar esquecimentos, Garbui recomenda
que os pacientes tenham mais de um caixa -estudantes, por exemplo, podem deixar
uma em casa e outra na mochila.
Guardar o aparelho no bolso é outro problema recorrente, que pode tanto quebrar
como deformar a placa ou os fios. Descuidos à parte, problemas como bruxismo
também podem forçar o aparelho e levar à quebra do fio, afirma Garbui.
Independentemente da origem do problema, "se o aparelho deformar, o paciente não
deve tentar ajeitá-lo por conta própria", avisa Sarmento.
"Usar o aparelho assim pode acabar agravando o problema."
O ideal é procurar o dentista o quanto antes, já que, quando o paciente fica sem o
aparelho, toda a seqüência de estímulos que era feita sobre os dentes é interrompida,
diz Garbui. "Não que a recidiva seja total, mas ela ocorre."
Mesmo após dez anos de tratamento, Lara percebeu essa recidiva quando deixou de
usar o aparelho removível -a indicação do dentista era de que continuasse a usá-lo
durante a noite, "mas eu não aguentava mais, queria me libertar", conta a consultora.
Após seis meses, percebeu que um dos dentes voltou a desalinhar. "Tentei colocar o
aparelho de novo, mas ele não cabia mais na boca. Fiquei apavorada", lembra ela. Mas
o desvio, felizmente, não se agravou.
Limpeza
As confusões também são comuns na hora de limpar o aparelho. Marina, por exemplo,
costuma escovar a placa e limpá-la com anti-séptico, o que é correto. Mas também
acredita que mergulhar o aparelho em refrigerante de cola ajuda a limpá-lo, já que a
bebida é corrosiva. Segundo Sarmento, trata-se de um erro. "Além de não limpar nada,
o refrigerante tem pigmentos que são absorvidos pela placa, que é feita de acrílico, e o
aparelho fica feio", diz.
Garbui afirma que a própria pasta de dente também pode impregnar-se na placa com o
tempo e ela pode ser substituída por sabão neutro. Além disso, pastilhas efervescentes
específicas para higienização podem ser utilizadas. Outra recomendação é usar para a
limpeza do aparelho uma escova com cerdas mais duras.
Caso o aparelho vá parar acidentalmente no lixo "e seja resgatado a tempo", a dica é
higienizá-lo com um produto anti-séptico, como a solução de Milton ou o líquido de
Dakin, diz Garbui. Segundo ela, essas substâncias estão à venda em farmácias e se
parecem com a água sanitária, embora sejam mais suaves. O líquido de Dakin, por
exemplo, é utilizado para limpeza no tratamento de canal, afirma. "Basta diluir a
solução em água, deixar o aparelho de molho durante pelo menos 30 minutos e,
depois, escová-lo", explica. Como a solução não tem gosto agradável, Garbui também
sugere lavar o aparelho com anti-séptico bucal antes de voltar a usá-lo.
E nem pensar em ferver o aparelho -como ele é feito de resina, pode deformar em
altas temperaturas.
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