São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2000
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foco nele

Beleza pede autoconhecimento, diz cirurgião plástico

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O gaúcho Ricardo Moro, que há 12 anos trocou o Brasil pela Itália, costuma deixar de lado o título médico de cirurgião plástico para se apresentar como consultor de imagem.
Moro defende a beleza como algo que transcende a estética e critica a atual banalização do uso da cirurgia estética.
Para ele, que se dedica duas horas diárias à meditação, beleza física é um "contexto geral, e não apenas o resultado de uma cirurgia bem-feita. Cada um deve seguir não só seu tipo físico, mas também seu tipo mental."
Sobre o padrão de estética ditado pela moda, Moro afirma: "Eu acho que existem dois tipos de pessoas, as que seguem moda e as que fazem moda. Não quero que minhas pacientes sigam a moda, quero que elas façam moda. Porque moda é comércio, é tendência, e tendência muda a todo momento.
Em setembro, ele inaugura em São Paulo uma filial do seu Centro de Pesquisa de Imagem, instalado em Roma. Leia a sua entrevista abaixo.

Folha - A cirurgia plástica garante a beleza da mulher?
Moro
- Beleza é um contexto. Não adianta nada colocar lindos seios numa mulher que não sabe se vestir, não sabe se comportar, não tem um estilo. A beleza física é um contexto geral, e não apenas o resultado de uma cirurgia bem-feita. A cirurgia plástica é superimportante para ajudar no equilíbrio da imagem. Mas a beleza completa só vem quando o corpo, a mente e o espírito estão em equilíbrio. Senão, você corre o risco de virar a "loira burra". Eu insisto que a beleza vem por meio do autoconhecimento. Sou contra a paciente que passa de uma cirurgia para outra de um modo neurótico.

Folha - E como funciona o seu trabalho?
Ricardo Moro
- Meu trabalho se desenvolve em cima do que chamo consultoria de imagem. Ou seja, não me limito a um defeito físico específico. Meus pacientes, após passarem por um estudo de psicoestética, fazem um trabalho completo: como devem se maquiar, qual o melhor corte de cabelo... Tenho uma consultora de moda que os ajuda a se vestir de acordo com o próprio estilo. Tudo isso sem esquecer a parte psicológica porque a base do meu trabalho é a harmonia entre corpo, mente e espírito. Esse é o trabalho que venho desenvolvendo na Itália e que pretendo começar a fazer em setembro no Brasil. Será uma espécie de filial do meu Centro de Pesquisa de Imagem, em Roma.

Folha - Como se consegue esse contexto harmônico?
Moro
- Após um estudo de psicoestética, com a ajuda de testes, descobre-se o estilo da pessoa: romântica, sensual, clássica... É preciso descobrir a essência de cada um para encontrar beleza e elegância. Por exemplo, se a mulher for vulgar e sentir-se bem dessa forma, ela será bonita. Se for intelectual, deve comportar-se como uma intelectual, vestir-se como tal, ou seja, estar em paz com sua índole, explorar o seu tipo e encontrar a sua beleza.

Folha - Suas pacientes conseguem encontrar a própria beleza?
Moro
- A harmonia entre o corpo, a mente e o espírito é uma questão de equilíbrio, e só se tem equilíbrio por meio do autoconhecimento. É ele que vai determinar sua imagem. Infelizmente, o autoconhecimento é um caminho muito difícil, nem todos conseguem percorrê-lo. É aí que entra o meu trabalho.

Folha - O senhor acha que o aumento da expectativa de vida contribuiu para esse boom da cirurgia plástica?
Moro
- A cirurgia plástica, hoje, não está mais vinculada ao envelhecimento. Pelo menos na minha experiência, a faixa etária que recorre a esse tipo de cirurgia é dos 15 anos aos 55, 60 anos. E a maior concentração é dos 25 aos 45 anos. O problema é que hoje em dia existe mais competitividade, e aí é que entra a falta de equilíbrio: não basta ser só uma mulher com uma certa experiência, uma certa capacidade de produção, você tem que ser bonita, e as pessoas acham que fazendo a cirurgia vão alcançar isso.

Folha - O senhor é a favor do envelhecimento natural?
Moro
- Envelhecer naturalmente não está fora de moda, não é errado. Agora, se estamos falando de pessoas que querem combater o envelhecimento natural, proponho técnicas naturais de resolução. Não uso técnicas que paralisem músculos e expressão. As rugas são sinais de expressividade em um rosto, acho que as pessoas devem preservar essa expressividade.
Mas existem técnicas que podem retardar ou evitar a cirurgia. Baseada numa técnica que é bastante utilizada em todo o mundo, a das infiltrações, desenvolvi uma técnica para remodelação da face, a qual chamo de "restyling".

Folha - Como foi desenvolvida?
Moro
- Reuni uma equipe de artistas, composta por um diretor de iluminação de cinema, um maquiador de efeitos especiais, um maquiador de moda, um caricaturista e um fotógrafo retratista. Fizemos um workshop de uma semana, estudando modelos de várias idades. Em cada modelo, o maquiador explicava como faria a maquiagem para tirar certas sombras e cancelar defeitos daquela face. Por meio desse workshop, consegui estabelecer precisamente os pontos principais que podem ser preenchidos com essas infiltrações para conseguir um efeito jovem.



foco nele

Nome: Ricardo Moro
Idade: 42 anos
Profissão: cirurgião plástico e consultor de imagem
O que faz: coordena o Centro de Pesquisa de Imagem, em Roma (Itália)
Filosofia de vida: desenvolver um trabalho de consultoria de imagem em que a cirurgia plástica é apenas um dos serviços oferecidos. Para ele, a beleza só é obtida se houver um equilíbrio entre corpo, mente e espírito




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