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S.O.S Família
Rosely Sayão
Sobre a responsabilidade
Não há lugar para a
criança nem para o
velho neste mundo.
A juventude é muito
mais do que um período -curto, por sinal- da vida. É um valor sociocultural, uma obrigatoriedade, um estilo de vida assumido por quase todos. Crianças mimetizam o jovem tanto
na aparência quanto no modo
de falar e de se comportar e até
nas atitudes diante da vida e
dos adultos, que as tratam como pequenos adultos.
Esse fato tem provocado os
mais variados problemas para
as crianças, principalmente para as que vivem a chamada primeira infância (os seis primeiros anos). E tem gerado problemas também aos pais, em suas
tarefas educativas. Para falar a
verdade, as aspirações educativas dos adultos têm sido pouco
realistas, e esse fato gera conturbadas situações no relacionamento entre pais e filhos.
Há regras e exigências em demasia sendo jogadas sobre essas pequenas crianças. Como
não respondem adequadamente, elas são abandonadas e sucumbem a seus impulsos. É então que surgem essas crianças
com as quais é difícil conviver:
birrentas, mandonas, choronas, desrespeitosas, barulhentas, teimosas, inquietas etc.
Vamos analisar alguns exemplos. Não é incomum que os
pais tentem passar aos filhos
pequenos algumas tarefas, próprias do mundo deles, para que
aprendam a ser responsáveis.
Assim, muitas crianças recebem a incumbência, por exemplo, de guardar seus brinquedos após usá-los.
O que não é levado em consideração nessa hora é que a
criança ainda não consegue assumir responsabilidades sozinhas, mesmo as mais simples.
Esse é um dos motivos que a fazem reagir, negar, desobedecer.
O que se pede a ela é mais do
que ela pode assumir. Ela pode,
sim, aprender o princípio da
responsabilidade se for solicitada sempre a ajudar os pais
quando eles arrumam a bagunça. Ou seja: os pais se responsabilizam e realizam as tarefas, e
os filhos os ajudam.
Outra situação que costuma
provocar embates é a hora das
refeições. Muitos pais têm o anseio legítimo de que os filhos os
acompanhem nas poucas refeições que fazem juntos. Nada
mais interessante do que esse
momento para a família se reunir e colocar a conversa em dia.
Mas é demais exigir isso de uma
criança. Ela come porque tem
fome, apenas isso. Não consegue ficar sentada e partilhar
momentos sociais. Depois de
comer, ela quer brincar, e aceitar esse fato é mais realista.
Assim é com todas as atividades cotidianas: tomar banho,
escovar os dentes, trocar de
roupa, entrar no carro. Esperar
que o filho aprenda a fazer tudo
isso por conta própria, ou seja,
que obedeça ao simples comando verbal dos pais, é exigir demais. São os adultos que devem
se responsabilizar e levar o filho a fazer. Com condução física, inclusive.
E os castigos? Castigar uma
criança pequena na expectativa
de que esse seja um instrumento educativo é irreal! Se a criança faz birra, ela não deve ser
castigada, e sim desfocada do
motivo que a levou a se comportar assim. E, de preferência,
de maneira lúdica. Essa é a linguagem que ela entende, e é isso que funciona. Se a criança
não faz o que deveria ou faz o
que não deveria, deve ser conduzida ou impedida, e não castigada. Vamos reservar os castigos para as crianças maiores,
que já podem aprender com isso.
Para ensinar a criança pequena, os adultos devem fazer o
que querem que ela aprenda e
solicitar sua colaboração. Com
as maiores de seis anos, os pais
podem exigir mais, porque elas
são capazes de assumir pequenas responsabilidades: elas devem fazer, e os pais devem apenas ajudar. Não parece que
muitos têm invertido essa
equação?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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