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ROSELY SAYÃO
Pílula do sexo
[...]
O QUE LEVA JOVENS PLENOS DE ENERGIA A ACREDITAR QUE PRECISAM DESSE TIPO DE REMÉDIO?
Um jovem de 19 anos
reclama de um comportamento que
considera quase uma
dependência medicamentosa.
Há dois anos, toda vez que tem
um encontro que pode resultar
em um relacionamento íntimo,
ele toma pílula para ereção. E,
cada vez mais, não se arrisca a
deixar de tomar.
A história dele deve nos fazer
refletir sobre o quanto contribuímos para que os jovens
construam uma visão da sexualidade estreitamente ligada ao
desempenho corporal. Veja: ele
teve sua primeira experiência
sexual pouco antes de completar 16 anos. Muito tarde, em sua
própria avaliação.
Os colegas o incentivaram a
tomar a pílula em sua primeira
vez para evitar que a ansiedade
e o nervosismo atrapalhassem
o processo de excitação. Um
pouco relutante, ele aceitou a
sugestão, tomou e não se arrependeu. Segundo ele, o uso não
provocou nenhum efeito colateral e o resultado foi o que esperava: não falhou e conseguiu
manter a ereção por um período que considerou muito bom.
Depois disso, namorou uma
garota e, durante o tempo em
que esteve com ela, nem se lembrou do remédio porque não
precisou. O namoro acabou e,
desde então, ele tem encontros
ocasionais com garotas que conhece em baladas ou bares. E
foi a partir daí que passou a
usar e abusar da pílula.
O caso desse rapaz não é exceção. Uma pesquisa realizada
na Argentina mostrou que a cada dez medicamentos para ereção vendidos no país, três foram consumidos por menores
de idade. Segundo informações
de médicos que trabalham na
capital argentina, o consumo
desse tipo de medicamento está crescendo entre adolescentes de 15 e 16 anos em todas as
classes sociais.
O que leva jovens plenos de
energia a acreditar que precisam desse tipo de remédio?
Em primeiro lugar, a oferta e
a propaganda. Por que precisamos ter celular e não sabemos
mais viver sem esse aparelho se
por tanto tempo o fizemos muito bem? Porque há uma oferta
generosa dele e porque seu uso
é associado a um estilo. "O
mundo é de quem faz e acontece" é um dos slogans atuais.
Não ter celular é um fato que
hoje inferioriza um jovem e até
mesmo uma criança. Falhar no
momento decisivo é um evento
que deprecia o jovem, portanto,
ele não pode correr tal risco.
Em segundo lugar, temos
promovido a ideia da perfeição
do corpo, da saúde, da aparência. Para estar bem é preciso
mostrar-se bem, não aceitar limites, superar os obstáculos,
evitar contrariedades. Ocorre
que essa ideia, levada ao extremo, retira do jovem o conhecimento de sua humanidade, seu
contato com ela. Ser humano
significa ter e reconhecer limites e defeitos para, inclusive,
tentar superá-los.
Nessa questão do desempenho sexual, os jovens têm tido
medo e talvez seja isso que os
leve a tomar a pílula para ereção. Eles têm medo de falhar,
de serem julgados e rejeitados,
medo de decepcionar.
Talvez possamos colaborar
para que aprendam que é mais
humano buscar coragem para
lutar contra o medo do que tomar medicamentos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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