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s.o.s. família rosely sayão
Pais usam mediador para "dialogar" com filhos
Quando pais que se consideram comprometidos com o desenvolvimento dos estudos do filho querem saber um pouco mais sobre a quantas anda a vida escolar dele, o que costumam fazer? Procuram a escola para conversar a respeito do assunto. Lá, eles perguntam a professores e a coordenadores quais são
os pontos fracos do filho e qual é o aproveitamento dele nas aulas, solicitam a opinião dos
profissionais sobre deverem ou não tomar
uma ou outra atitude na tentativa de melhorar
o rendimento escolar e pedem, até mesmo, a
indicação de algum profissional especializado
quando chegam à conclusão de que essa é
uma atitude necessária (ou de apoio) para o
benefício do filho. Os pais querem colaborar,
querem participar e se fazem presentes na escola. Mais do que isso: acreditam que têm esse
direito.
Os profissionais do espaço escolar, por sua
vez, tomam para si o dever de passar para os
pais de seus alunos todas as informações que
julgam importantes. Consideram essa uma
atitude de sua responsabilidade, que não apenas visa ao atendimento dos pais mas tenta
melhorar a vida de seu aluno.
Os pais mais preocupados em saber como o
filho se porta na escola -se fica isolado ou se
tem amigos, se é passivo ou se tem atitude ativa na busca de sua socialização-, além de
contarem com as informações fornecidas pelos mestres, podem, em algumas escolas, observar diretamente o filho pelo recurso de câmeras conectadas à internet.
No meio da manhã ou da tarde, no trabalho,
aparece uma vontade de ver o filho, de saber
como ele está? Basta um clique e pronto! Aparece a imagem do espaço que o filho costuma
frequentar. Ou, em outros casos, o boletim dele também, é claro.
Grupos de profissionais da investigação
-os detetives particulares- também se têm
oferecido para vigiar o filho de pais que querem saber detalhes do comportamento (hábitos, amizades e locais que ele frequenta). Um
contato, um contrato e, dias depois, chega um
relatório pormenorizado do que o filho faz ou
não faz. Agora, até teste para checar uso de
drogas a tecnologia oferece.
Isso nos faz pensar: o que está acontecendo
com o relacionamento entre pais e filhos? Em
todos os casos citados, há sempre a necessidade de um intermediário para que os pais cheguem mais perto da vida real dos filhos. Vamos convir: isso é bem esquisito já que a interação com o filho é a maneira mais adequada,
próxima e segura de saber como agir com ele,
não é verdade?
E o bom e velho diálogo, talvez o único quesito que apresenta consenso entre profissionais de diversas áreas e diferente formação e
postura a respeito da educação de filhos, para
onde foi? Para o espaço, pelo jeito, já que o
universo dos pais e o dos filhos não se comunicam mais, caminham em paralelo.
Mas os pais não podem se enganar: ter cada
vez mais informações a respeito de seu filho,
informações essas derivadas de terceiros ou de
recursos tecnológicos, pouco ou quase nada
pode contribuir para sua responsabilidade de
educar. Por quê? Principalmente porque,
sempre que é preciso um mediador para saber
do filho, os pais já se afastam um pouco mais
dele e de sua tarefa de educar para que ele
aprenda a se cuidar, a se proteger, a viver com
autonomia e responsabilidade, a exercer o seu
direito de fazer escolhas e de se comprometer
com elas.
Para saber como vai a vida escolar do filho,
nada melhor que perguntar a ele próprio, que
é quem pode dizer, de um jeito ou de outro, a
quantas anda o seu relacionamento com a escola e com o conhecimento. E a vida social? De
novo, basta demonstrar um interesse real, que
fica mais fácil perceber se ele tem angústias ou
inibições que travam suas interações com os
pares. Será que ele usa drogas? Há modos bem
mais próprios de pais do que contratar um detetive para ver o que talvez temam saber.
Esses recursos todos, em geral, ajudam a
construir e a tornar sólido um muro que separa pais e filhos. E assim fica cada vez mais difícil -e pouco afetivo- o ato de educar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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