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Vitória de Narciso
Cosméticos, que já foram considerados supérfluos e artigos de luxo, entraram com tudo na cesta básica dos consumidores das classes C e D
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
Gastar com cosméticos
deixou de ser supérfluo para
as classes C, D e E. Passou a
ser visto como um investimento em qualidade de vida
e bem-estar.
Dados de pesquisa feita
pelo instituto Data Popular
com 5.000 pessoas, no último trimestre de 2010, mostram que, juntas, as chamadas "classes emergentes" são
maioria no mercado da beleza, que já foi para poucos.
Nos últimos sete anos, por
exemplo, a venda de esmaltes para a classe C passou de
40% para 53% do total.
É claro: a própria classe
média brasileira aumentou.
Segundo Renato Meirelles,
sócio-diretor do instituto, hoje, de cada 100 brasileiros, 56
são da classe C.
Ocupar espaço no mercado da vaidade, portanto, era
uma consequência mais do
que esperada.
"Além da melhora econômica, podemos dizer que a
autoestima dessas pessoas
melhorou. Elas estão trabalhando mais, circulando em
outros ambientes."
Entre 2002 e 2009, aumentou em 4,3 vezes o número de
mulheres da classe C que trabalham.
Para Paulo Roberto Al Assal, diretor-geral da Voltage,
agência de tendências de
mercado, o acesso aos cosméticos aconteceu como o
acesso a outros mercados.
"As pessoas estão consumindo vários outros produtos que não consumiam, inclusive os de beleza."
Não houve, para ele, um
"aumento da vaidade", só
mais dinheiro no bolso.
"Essas pessoas sempre foram vaidosas e quiseram se
cuidar. Só estão se dando direito a mais luxos."
LUXO A BAIXO CUSTO
Ao mesmo tempo que aumentou o poder aquisitivo da
classe média, começaram a
surgir produtos mais acessíveis e de boa qualidade.
É o luxo com bom custo-benefício, um terceiro caminho entre os produtos inacessíveis e os populares. Na
opinião de Al Assal, essa é
uma tendência mundial.
"Estão sendo criados produtos de qualidade e mais
baratos, desde roupas até
cremes e maquiagens."
A diversificação do mercado também passou a atender
algumas demandas desses
novos compradores.
VENDA DO BEM-ESTAR
Segundo o sociólogo Dario
Caldas, do birô de tendências
Observatório de Sinais, outros motivos ajudam a entender a participação de outras
camadas sociais no mercado
de cosméticos no Brasil.
Entre eles, por exemplo, a
própria cultura de culto ao
corpo. "A relação do brasileiro com a estética e com a higiene é muito antiga. Esse fenômeno da classe C é só a cereja do bolo, mais um combustível para esse aumento."
Hoje, o Brasil já tem o segundo mercado de produtos
de beleza do mundo, perde
só dos Estados Unidos.
Segundo Caldas, isso pode, sim, ter relação com aumento da vaidade e fortalecimento do individualismo.
"Vivemos cada vez mais
em uma cultura individualista. A vaidade está sentada
nesse trono. Produtos que
valorizam a autonomia individual e o bem-estar passaram a ser importantes em todos os aspectos."
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