São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006
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Ingredientes

Galinha-d'angola veio direto da África para o Brasil

RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aves ruidosas que parecem gritar "tô fraco, tô fraco" o tempo todo fazem parte das lembranças de quem vive ou já passou férias no campo. A galinha-d'angola (Numidia meleagris), essa espécie inconfundível, ainda é chamada por aqui de angolinha, capote, catirê e cocá e também tem nomes divertidos em outros idiomas: "pintade" (em francês), "guinea-fowl" (em inglês) e "faraona" (em italiano).
Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, em sua "História da Alimentação no Brasil" (ed. Global), essa galinha conhecida desde o Egito Antigo é o único animal africano que continua a fazer parte do cardápio brasileiro.
Comum na região subsaariana, parece ter vindo diretamente da África para o Brasil, sem escalas no continente europeu. "Acredita-se que sua pátria de origem seja a região de Guiné, não Angola", diz João Luís Almeida Machado, professor de gastronomia do Senac.
Criada como ave ornamental e fornecedora de carne e ovos, a galinha-d'angola adaptou-se bem ao clima do país e é vista como aliada no controle biológico devido ao hábito de se alimentar de formigas, lagartas, cobras e insetos. No interior, onde costuma ser criada solta, ajuda ainda a denunciar intrusos e a espantar ratazanas com seus sons estridentes.
São três as variedades mais conhecidas: as de penugem cinza com pintas brancas, as totalmente brancas e uma híbrida, que resulta do cruzamento das outras. O macho apresenta uma crista que lembra um chifre, enquanto, na fêmea, essa protuberância é arredondada.
Sua carne de sabor forte é muito apreciada em vários pratos da culinária. "O sabor é mais parecido com o da carne de faisão, e a carne é escura e um pouco mais seca do que a de frango", afirma Machado.
A carne da galinha-d'angola possui ainda baixo teor de gordura e é utilizada geralmente em assados e cozidos. Seus ovos têm gosto semelhante ao dos ovos das galinhas comuns, mas são bem menores e costumam ser menos utilizados.
De acordo com a enciclopédia "The Penguin Companion to Food", o mundo clássico é o responsável pela lenda que deu origem ao nome da espécie, Meleagris. As irmãs de Meleager, príncipe da Macedônia que morreu inesperadamente, choraram tanto que foram transformadas por uma divindade em uma ave, cujas pintas de tom perolado representam suas lágrimas.


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