São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001
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firme e forte

Sedentarismo infantil é uma ameaça

Caio Guatelli/Folha Imagem
Crianças fazem exercícios na praça Roosevelt, no centro de SP, durante evento promovido pelo projeto Agita São Paulo para reduzir o sedentarismo infantil


KARINA KLINGER - DA REPORTAGEM LOCAL

O sedentarismo não é mais um problema exclusivo dos adultos. Crianças e adolescentes estão cada vez menos ativos, e o resultado mais evidente dessa falta de atividade física é registrado pela balança. Longe de serem apenas um incômodo estético, os quilos a mais preocupam os profissionais de saúde. No Brasil, estima-se que uma em cada quatro crianças entre cinco e dez anos esteja acima do peso e que haja 1,5 milhão de obesos nessa faixa etária. Além de causar obesidade, o sedentarismo é o principal responsável pelo aumento da incidência, entre as crianças, de doenças antes restritas aos adultos. Há estudos que mostram que um sedentário mirim tem três vezes mais chances de adotar esse padrão na vida adulta do que uma criança ativa. Mais um motivo para os pais estimularem as atividades físicas dos filhos.
"Não é preciso formar atletas desde o berço, mas mostrar que o exercício físico significa hábito saudável e que só traz benefícios ao longo da vida", explica o fisiologista Victor Matsudo, diretor do Celafiscs (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul) e responsável pelo projeto Agita São Paulo, cujo objetivo é reduzir o sedentarismo entre trabalhadores, idosos e estudantes de 6.000 escolas da rede pública do Estado de São Paulo.
Sugerir brincadeiras mais agitadas para os filhos, como cabra-cega e pega-pega, tirando-os da frente da TV, do videogame e do computador, já é um bom começo. Outra forma de evitar o sedentarismo infantil é estimular qualquer atividade que promova desgaste físico, como passear com o cachorro e ir a pé para a escola.

Necessidades diferentes Não é simples, nem para os especialistas, determinar qual a quantidade mínima de exercícios que uma criança deve praticar diariamente. O que é válido para os adultos pode não ser suficiente durante a infância.
Foi o que mostrou uma pesquisa divulgada na semana passada e realizada na Universidade de Buffalo em Nova York (EUA). Analisando dados de centenas de crianças, os pesquisadores observaram que elas se exercitavam tanto quanto os adultos. Elas praticavam, no mínimo, 30 minutos de atividade de alta intensidade ou mais de 60 minutos de atividade de baixa intensidade todos os dias.
Por que, então, a obesidade infantil nos Estados Unidos continua crescendo? Além da dieta inadequada, uma possível explicação para isso seja a forma como a criança passa o restante do dia. "São atividades do cotidiano que fazem com que elas não sejam consideradas sedentárias", afirma James Roemmich, professor assistente de pediatria da universidade e co-autor da pesquisa.
Na forma de exercícios, na prática de esportes ou simplesmente brincando, as atividades físicas proporcionam vários benefícios físicos e psicológicos para as crianças. Entre eles, melhor desenvolvimento motor, fortalecimento muscular, sociabilização e melhor compreensão dos conceitos de espaço e tempo.

Exemplo em casa Segundo o pediatra Mario Maja Bracco, especializado em medicina esportiva e professor da Unifesp, os pais não devem esquecer que são modelos para os filhos. "Ser ativo é algo que faz parte do hábito da própria família e serve como parâmetro para as crianças e para os adolescentes", afirma.
Também vale a pena ficar de olho nas aulas de educação física do currículo escolar. De acordo com estudos feitos por Bracco, o tempo, na maiorias das vezes, não é suficiente. "A própria criança fica enrolando e acaba não se exercitando. A mãe insiste em dizer que o filho tem aula três vezes por semana, mas ele continua obeso", ressalta o pediatra Ary Lopes Cardoso, chefe do Grupo de Nutrição do Instituto da Criança (SP).
Pesquisas do Celafiscs realizadas em escolas estaduais da capital e do interior de São Paulo mostraram que, durante algumas aulas de educação física, as crianças se exercitavam por apenas dez minutos. No restante do tempo, ficavam paradas, em fila, esperando sua vez.
Cardoso aconselha que crianças e adolescentes pratiquem atividade física sob orientação pelo menos três vezes por semana. É importante, porém, tomar cuidado para não sobrecarregar a garotada. "Como sempre, é preciso recorrer ao bom senso. Cada indivíduo é um caso isolado, não é possível generalizar", afirma o pediatra.


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