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SAÚDE
Necessidade e vontade
Professor da University College London defende a criação de uma necessidade
que leve os fumantes a largar o cigarro
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Em visita ao Rio para o
11º Simpósio Internacional sobre Tratamento de Tabagismo,
na semana passada, o professor
de psicologia da saúde Robert
West, da University College
London, defendeu alterações
na abordagem médica para o
combate ao fumo.
FOLHA - O que é a teoria da motivação e como ela pode ser útil para
os fumantes?
ROBERT WEST - O ponto principal da teoria é que, para entender o que uma pessoa vai fazer,
é preciso compreender o que
ela mais quer e do que mais
precisa naquele momento.
Querer, na teoria, é sentir prazer antecipado ao imaginar algo, enquanto precisar é sentir
alívio antecipado. Por um lado,
as pessoas são motivadas por
coisas que acham que vão dar
satisfação, e, por outro, por coisas que acham que vão aliviar
ou evitar dor e desconforto.
São essas vontades e necessidades que comandam nosso comportamento. Crenças sobre o
que é bom ou ruim, certo ou errado, útil ou inútil, não nos influenciam a não ser que nos façam querer ou precisar de algo.
FOLHA - E como conseguir isso?
WEST - Temos que gerar imagens que levem as pessoas a
querer ou precisar parar de fumar. Os médicos, por exemplo,
deveriam adotar uma abordagem diferente da tradicional.
Normalmente, o que se faz hoje
é perguntar se o paciente fuma,
se está interessado em parar e,
em caso positivo, oferecer ajuda. O correto é não perguntar se
ele quer parar, mas sim manifestar preocupação com sua
saúde e depois mostrar que
nunca houve tantos recursos
disponíveis para quem quer parar de fumar. Assim, o médico
cria uma ansiedade para que o
paciente sinta necessidade de
parar e depois oferece a possibilidade de alívio a esse desconforto. Mas é preciso fazer com
que o paciente tome alguma
atitude naquele momento, porque em muitos casos a ansiedade passa depois que ele deixa o
consultório. O médico pode receitar um remédio e marcar
uma nova consulta para dali a
15 dias ou encaminhar o paciente para outro especialista
que possa ajudá-lo a parar. É
preciso guiá-lo para a ação.
FOLHA - E como evitar que a pessoa tenha uma recaída?
WEST - É preciso que a vontade
ou a necessidade de fumar seja
menor do que a vontade ou a
necessidade de não fumar.
Uma das formas de fazer isso é
com adesivos ou pastilhas de
nicotina. Mas não é suficiente.
O fumante precisa estabelecer
alguma coisa importante na
sua vida que gere vontades ou
necessidades poderosas de não
fumar. Eu acho que precisa ser
uma regra, como a que os vegetarianos se impõem quando decidem não comer carne. Se toda
vez que eles vissem carne tivessem que decidir se deveriam ou
não comê-la, provavelmente
acabariam comendo às vezes.
Mas eles têm uma regra e nem
precisam pensar sobre isso.
FOLHA - Proibições de fumar em
locais fechados podem ajudar?
WEST - Elas podem ser muito
efetivas. Adotamos essa proibição na Inglaterra em julho de
2007 e, nos nove meses seguintes, assistimos a uma queda de
cinco ponto percentuais na
prevalência do tabagismo.
FOLHA - O que mais os governos
podem fazer?
WEST - Elevar os preços dos cigarros. Mas é importante investir parte do ganho de receita
no combate ao contrabando e
em programas de prevenção ao
tabagismo. E impedir a publicidade dos produtos de tabaco.
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