São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008
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ENTREVISTA

Feito em casa

O educador japonês Saburo Shochi, 101, discute sua proposta de interação entre pais e filhos por meio da construção de brinquedos com sucata

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vésperas de completar 102 anos, o educador japonês Saburo Shochi é especialista em infância e brincadeiras. E, aos poucos, também vem se especializando em viagens -há quatro anos, começou uma série de voltas ao mundo para divulgar seu método de ensino para crianças pequenas: uma proposta de interação entre pais e filhos por meio da construção de brinquedos artesanais com sucata. Nesta semana, ele chegou ao Brasil para quatro palestras (duas estavam previstas para ontem, uma para hoje e a última para sábado).
Além de se dedicar às palestras, ele coordena a Shiinomi, escola voltada para crianças com necessidades especiais.
Shochi, que teve dois filhos com paralisia cerebral, criou a instituição em 1954 -foi a primeira desse tipo no Japão. Leia trechos da entrevista concedida à Folha por e-mail.

 

FOLHA - Países orientais e ocidentais têm uma visão diferente da educação infantil?
SHOCHI
- Na educação ocidental, o individualismo é estimulado desde cedo, buscando revelar os alunos mais brilhantes. Na oriental, a escola é uma espécie de extensão da família, onde as crianças aprendem sobre o sentido de viver.

FOLHA - Como funciona o seu programa de brinquedos artesanais?
SOCHI
- Utilizando tesoura, cola, tubos, caixas, cartolina e canetas, podemos criar brinquedos e despertar na criança o prazer da criatividade. O auxílio dos pais é necessário para a execução dos brinquedos, e isso ensina às crianças o respeito aos pais, que, por sua vez, sentem-se realizados. Usando sucata, as crianças aprendem a valorizar os recursos que têm. Faz-se um brinquedo por mês. Se ele quebra, é consertado. Se a criança se cansa dele, pode-se mudar sua cor, seu formato... A transmissão da noção de progresso e da possibilidade de melhorias é muito importante.

FOLHA - Como foi criar a Shiinomi?
SABURO SHOCHI
- Naquele tempo, crianças portadoras de necessidades especiais eram tidas como menos inteligentes e proibidas de freqüentar a escola para não atrapalhar as outras. Construí uma escola onde essas crianças pudessem receber uma educação adequada. O principal obstáculo foi a ausência de experiência.

FOLHA - Qual era a sua meta?
SHOCHI
- O principal problema a ser enfrentado com as crianças portadoras de necessidades especiais é o complexo de inferioridade. Se não tratado, isso tende a se aprofundar e, aos dez ou 15 anos, a criança corre o risco de se tornar uma pessoa socialmente inadaptável. Trabalhando com pequenos grupos, inibe-se o sentimento de inferioridade. A criação do próprio material permite um ensino personalizado e, em vez de numa sala de aula convencional, as atividades têm melhores resultados se forem conduzidas ao ar livre.


Palestra gratuita "Educando o Coração"
Hoje, às 14h, no auditório da Faculdade de Educação da USP (av. da Universidade, 308, Bloco B, Cidade Universitária, São Paulo). Informações sobre vagas: 0/xx/11/3091-3574
Sábado (16/8), às 13h, na Associação Miyagui Kenjinkai do Brasil (r. Fagundes, 152, Liberdade, São Paulo). Não precisa de inscrição. Informações: 0/xx/11/3385-6607


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