São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002
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A ainda polêmica medicina ortomolecular ataca os radicais livres para evitar as doenças resultantes do desgaste das células

Vitaminas prometem reequilibrar moléculas

ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL

A Universidade Federal de São Paulo, por meio do seu Centro de Estudos do Envelhecimento, realizou no mês passado um evento que pode acelerar a obtenção de respostas para uma questão que há mais de 20 anos intriga pacientes, médicos e pesquisadores brasileiros: a eficácia das vitaminas e demais antioxidantes no combate aos radicais livres (RLs), um dos principais responsáveis pelo envelhecimento do organismo. Pois esse é também o principal mote da chamada medicina ortomolecular, prática não reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina, mas que faz relativo sucesso há pelo menos dez anos no Brasil.
A premissa sobre a qual a medicina ortomolecular se apóia até é compartilhada pela medicina ortodoxa: os radicais livres, substâncias químicas produzidas pelo corpo e aumentadas por fatores externos, são problema quando o organismo não dispõe de antioxidantes suficientes para eliminá-los. Aí ocorre o chamado estresse oxidativo, um desequilíbrio molecular que está envolvido no processo de todas as doenças. O pomo da discórdia está no tratamento.
A medicina ortomolecular prescreve doses diferenciadas de vitaminas, sais minerais e demais antioxidantes. E a medicina ortodoxa alega que a eficácia de tal procedimento não possui comprovação científica.
"O estresse oxidativo está envolvido, em maior ou menor grau, em todas as doenças. O problema é que, na hora em que eu uso os antioxidantes, não consigo provar sua eficácia", diz José Antônio Atta, chefe do Ambulatório de Clínica Geral do Hospital das Clínicas de São Paulo. De acordo com Luiz Roberto Ramos, geriatra da Unifesp, resta esclarecer "o quanto é possível interferir nesse processo em humanos de uma forma benéfica e consistente". Isso a ciência ainda não sabe responder.
Até existem estudos isolados sobre a eficácia de substâncias antioxidantes em determinadas doenças (os dois principais versam sobre a vitamina E para pacientes com mal de Alzheimer e o uso de vitamina C em alguns tipos de câncer), mas falta muito para que um estudo populacional conclusivo seja publicado.
"Para mim, não importa não haver estudo populacional que prove a ação dos antioxidantes na prevenção de doenças. É uma questão de lógica e de observação de resultados", diz o homeopata e médico ortomolecular Silvio Laganá de Andrade.
Para o angiologista Guilherme Paulo Deucher, um dos precursores da medicina ortomolecular no país, "a população, melhorando sua saúde, é a melhor resposta que podemos querer".
O evento promovido no mês passado pela Unifesp -1º Simpósio Internacional Estresse Oxidativo e Envelhecimento: Implicações Clínicas- procurou incutir no universo acadêmico a noção de que é preciso deixar o preconceito de lado e olhar com olhos críticos e científicos conceitos da chamada medicina ortomolecular, explica Ramos. Um preconceito que não é exclusivamente com essa corrente médica, mas com "qualquer procedimento dito médico que não tenha comprovação científica", diz José Antônio Atta.
A resolução 1.500, de 1998, do Conselho Federal de Medicina (CFM), autoriza o uso de "vitaminas, sais minerais, ácidos graxos ou aminoácidos com finalidades de modular o "estresse oxidativo'". Contudo diversos métodos são considerados "destituídos de comprovação científica suficiente". Entre eles estão a prescrição de megadoses de vitaminas e o uso de antioxidantes para melhorar o prognóstico de doenças agudas ou em estado crítico.



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