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foco nela
Volta ao mundo aos 70 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Muito falante e animada, a escritora Geraldina Marx é uma aventureira de
primeira linha. Numa fase da vida em que muitos idosos querem somente o
sossego e a tranquilidade, ela preferiu correr o mundo.
Tinha 70 anos quando decidiu fazer a primeira viagem ao exterior. E não parou
mais. Percorreu os cinco continentes.
Conheceu da Muralha da China às pirâmides do Egito, de casas de prostituição
em Amsterdã ao Vaticano e de tribos
africanas à Disneylândia.
Agora, aos 90 anos, relata as suas peripécias no livro "Viagens do Arco-da-Velha - As Histórias da Volta ao Mundo de
uma Escritora de 90 Anos" (251 págs., R$
29, ed. Publisher Brasil, tel. 0/xx/11/3813-1836), o quarto de sua carreira (ela escreveu três romances).
Mais do que um diário de viagem, o livro é uma fonte de informações sobre a
vida social e cultural dos países por onde
Geraldina passou. É também o relato de
uma existência. A autora diz, em um dos
capítulos de "Viagens do Arco-da-Velha": "Nesse ocaso de minha vida, num
calmo, doce e melancólico viver, nada seria mais gratificante que sair, descerrar a
cortina do mundo, conhecer terras, hábitos, costumes, gente...". Leia a sua entrevista abaixo.
(Antonio Arruda)
Folha - Como surgiu a idéia de viajar pelo
mundo?
Geraldina Marx - Meu marido morreu
em 1975 e, até então, eu não viajava muito, só fazia aquelas viagenzinhas para estações de águas. Um tempo depois, uma
amiga me convidou para irmos à Europa.
Eu achei graça. Imagine! Para mim, ir à
Europa era quase impossível, porque
achava que custava muito dinheiro. Mas
ela me explicou que era possível pagar
em prestações. Daí eu me animei e fomos. Em 29 dias, conhecemos dez países.
Foi cansativo, é preciso muita disposição.
Depois dessa primeira viagem, tomei coragem e decidi que iria continuar.
Folha - E qual foi a sensação dessa primeira aventura?
Geraldina - Maravilhosa. Eu pisava naquelas pedras de Florença, de Roma e tinha uma sensação de veneração, de respeito sagrado por aqueles mármores,
aquelas estátuas seculares. Eu falava com
meus botões: "Será possível que eu estou
aqui, meu Deus? Eu estou mesmo no Vaticano, no Coliseu?".
Folha - Essa viagem foi feita com uma
amiga. A senhora fez alguma sozinha?
Geraldina - A maior parte fiz sozinha.
Na primeira, visitei a Grécia, o Egito, Israel e uma ponta da Turquia. Aliás, quando vi as pirâmides e a esfinge, nossa, que
sensação inenarrável! Uma sensação de
eternidade. Como aquilo tudo foi feito há
tanto tempo e até hoje está em pé? E também passeei de camelo, o que foi divertidíssimo. Mas, que fique entendido, nessas viagens eu saio sozinha e me incorporo a um grupo. E eu até gosto, porque
passo a ser a vedete da turma. Como
sempre sou a mais velha e muito falante,
as pessoas ficam me paparicando.
Folha - Qual a cidade mais bonita que conheceu, a que mais a emocionou?
Geraldina - Isso é difícil dizer, porque
cada local era uma nova experiência. Mas
a que mais me emocionou foi Málaga, na
Espanha, porque minha mãe nasceu lá.
Tive uma sensação muito comovente.
Fui à catedral e pensei: "Poxa vida, minha
mãe pisou aqui, frequentou esse lugar,
deve ter feito a primeira comunhão
aqui!". Conheci o bairro, a rua onde ela
morou e ficava imaginando em qual casa
ela teria vivido. E viajar para a Ásia também foi muito peculiar. Quando eu me
defrontei com a Muralha da China, eu me
emocionei demais, porque é uma coisa
sobre a qual sempre ouvimos falar, mas,
quando vemos aquilo, que tem tantos
anos, é marcante.
Folha - E o livro? Desde o início, pensava
em escrevê-lo?
Geraldina - Não. Escrevia mais para ter
como recordação. A cada viagem que eu
fazia, além de mandar cartas e fotos para
meus netos, eu chegava em casa e fazia as
anotações sem a intenção de publicar.
Era uma espécie de diário, que mais tarde
eu fui apurando. Como eu andava bem
perto da guia de turismo para saber o que
ela estava falando do local, incluí informações muito boas. E coloquei muito do
meu conhecimento também, coisas que
eu pesquisei depois. E daí, há uns quatro
anos, conversando com meus editores,
comentei as viagens, e eles sugeriram que
eu fizesse um livro. Quando estava tudo
mais ou menos organizado, meu filho faleceu, em 1999. Ele sabia do livro que eu
iria publicar. Fiquei arrasada, completamente abalada, então deixei o livro de lado. Daí o médico, os familiares e a minha
nora acharam que eu deveria ir viajar.
Tanto eles fizeram que eu fui viajar de
novo. E surgiu o último capítulo do livro,
que se chama "A Mais Preciosa Viagem".
Folha - E ela foi no Brasil?
Geraldina - Foi. E foi a "mais preciosa",
primeiro, porque conheci uma coisa extraordinária, que é a estrada que liga Curitiba ao porto de Paranaguá, descendo
pela serra. E também por ter conhecido o
Sul, aquele aspecto telúrico das pessoas,
os imigrantes que trabalham de uma forma muito artesanal, aqueles que cultivam a uva e fazem seu próprio vinho. Isso tudo foi maravilhoso e me distraiu do
desgosto que eu estava sentindo.
Folha - E qual é a próxima viagem?
Geraldina - Há uma moça de El Salvador que conheci na Grécia e me ligou, insistindo para que eu fosse conhecer o seu país. Se me der na cabeça, eu vou!
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