|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NEUROGOLOGIA
tic tic nervoso
Mais comuns na infância e na adolescência, tiques nervosos podem surgir por fatores genéticos ou traumas psicológicos e são controlados com terapia e remédios
VINÍCIUS LUIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Traumas psicológicos,
alterações no sistema
nervoso central ou fatores genéticos podem ser a origem dos tiques
nervosos, movimentos involuntários e repetidos, como piscar os olhos, balançar a cabeça,
fazer caretas, estalar a língua
ou repetir várias palavras.
Cacoetes como esses podem
gerar situações engraçadas para quem vê, mas constrangedoras para quem manifesta os tiques. "A complicação varia de
acordo a gravidade. Um tique
mais proeminente, do tipo motor, pode gerar um quadro depressivo, baixa autoestima e
comprometimento da vida profissional e social", afirma Tatiana Mourão, professora do Departamento de Saúde Mental
da Faculdade de Medicina da
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais).
Apenas o exame clínico pode
diferenciar hábitos comuns,
como esfregar os olhos ou passar a mão nos cabelos, de um tique nervoso. Em geral, um tique é definido quando o hábito
se torna involuntário e causa
ansiedade quando a pessoa não
pode manifestá-lo.
Mourão explica que, atualmente, os tiques são classificados pela medicina no mesmo
espectro dos TOCs (Transtornos Obsessivo-Compulsivos).
Os TOCs são ações compulsivas realizadas para reduzir o
nervosismo, como lavar as
mãos repetidas vezes ou criar
rituais como sair pela mesma
porta em que entrou.
Segundo a psiquiatra Ana
Hounie, uma das organizadoras do livro "Tiques, Cacoetes e
Síndrome de Tourette" (Artmed, R$ 59, 200 págs.) e integrante do Projeto Transtornos
do Espectro Obsessivo-Compulsivo da Universidade de São
Paulo, 30% das pessoas que
têm TOC também apresentam
tiques. Outras 10% sofrem da
síndrome de Tourette, distúrbio neurológico, mais comum
em meninos, que gera uma série de tiques nervosos.
Síndrome
A auxiliar administrativa Andréia Queiroga, 41, começou a
notar uma necessidade de organização em seu filho quando
ele tinha quatro anos. Além da
vontade de colocar tudo no lugar, o menino, que hoje está
com 13 anos, tem uma série de
tiques, como imitar o "glu-glu"
do peru, estalar a língua, esticar
o braço, virar a cabeça para trás
e até soltar palavrões.
Todos esses tiques foram gerados pela síndrome de Tourette, que atinge 1% da população
mundial e foi diagnosticada no
filho de Andréia em 2005. "Ele
está numa fase em que há crescimento dos sintomas. Na escola há um convívio tranquilo,
mas, fora dela, os colegas fazem
piada. É muito difícil", relata a
mãe do garoto.
A origem da síndrome pode
ser hereditária, explica a psiquiatra Ana Hounie. "A pessoa
já tem uma certa tendência,
que pode ser desencadeada por
um trauma psicológico ou físico ou pelo uso de medicamentos", explica.
De acordo com ela, a doença
se manifesta na infância e atinge seu auge na adolescência,
quando aparecem tiques mais
complexos, como falar palavrões ou fazer gestos obscenos.
A razão, segundo a psiquiatra, pode ser o aumento de hormônios na puberdade, que poderiam acentuar os sintomas,
mas ainda não há comprovação
científica para a hipótese.
Hounie recomenda que o paciente seja acompanhado por
um médico psiquiatra. O tratamento é feito com psicoterapia
e medicamentos antipsicóticos, que atuam nos neurotransmissores para inibir movimentos involuntários.
No caso da síndrome de Tourette, o tratamento serve para
reduzir a ansiedade e evitar que
surjam novos tiques, já que os
sintomas persistem durante a
adolescência e podem desaparecer somente com a chegada
da vida adulta.
Em quem apresenta tiques
comuns, os movimentos podem ser controlados por tempo
indeterminado, mas podem
voltar em casos de estresse e
traumas físicos ou emocionais.
Texto Anterior: Ravióli de ricota e serralha Próximo Texto: Injeção de ânimo Índice
|