São Paulo, quinta-feira, 16 de julho de 2009
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NEUROGOLOGIA

tic tic nervoso

Mais comuns na infância e na adolescência, tiques nervosos podem surgir por fatores genéticos ou traumas psicológicos e são controlados com terapia e remédios

VINÍCIUS LUIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Traumas psicológicos, alterações no sistema nervoso central ou fatores genéticos podem ser a origem dos tiques nervosos, movimentos involuntários e repetidos, como piscar os olhos, balançar a cabeça, fazer caretas, estalar a língua ou repetir várias palavras.
Cacoetes como esses podem gerar situações engraçadas para quem vê, mas constrangedoras para quem manifesta os tiques. "A complicação varia de acordo a gravidade. Um tique mais proeminente, do tipo motor, pode gerar um quadro depressivo, baixa autoestima e comprometimento da vida profissional e social", afirma Tatiana Mourão, professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Apenas o exame clínico pode diferenciar hábitos comuns, como esfregar os olhos ou passar a mão nos cabelos, de um tique nervoso. Em geral, um tique é definido quando o hábito se torna involuntário e causa ansiedade quando a pessoa não pode manifestá-lo.
Mourão explica que, atualmente, os tiques são classificados pela medicina no mesmo espectro dos TOCs (Transtornos Obsessivo-Compulsivos). Os TOCs são ações compulsivas realizadas para reduzir o nervosismo, como lavar as mãos repetidas vezes ou criar rituais como sair pela mesma porta em que entrou.
Segundo a psiquiatra Ana Hounie, uma das organizadoras do livro "Tiques, Cacoetes e Síndrome de Tourette" (Artmed, R$ 59, 200 págs.) e integrante do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo da Universidade de São Paulo, 30% das pessoas que têm TOC também apresentam tiques. Outras 10% sofrem da síndrome de Tourette, distúrbio neurológico, mais comum em meninos, que gera uma série de tiques nervosos.

Síndrome
A auxiliar administrativa Andréia Queiroga, 41, começou a notar uma necessidade de organização em seu filho quando ele tinha quatro anos. Além da vontade de colocar tudo no lugar, o menino, que hoje está com 13 anos, tem uma série de tiques, como imitar o "glu-glu" do peru, estalar a língua, esticar o braço, virar a cabeça para trás e até soltar palavrões.
Todos esses tiques foram gerados pela síndrome de Tourette, que atinge 1% da população mundial e foi diagnosticada no filho de Andréia em 2005. "Ele está numa fase em que há crescimento dos sintomas. Na escola há um convívio tranquilo, mas, fora dela, os colegas fazem piada. É muito difícil", relata a mãe do garoto.
A origem da síndrome pode ser hereditária, explica a psiquiatra Ana Hounie. "A pessoa já tem uma certa tendência, que pode ser desencadeada por um trauma psicológico ou físico ou pelo uso de medicamentos", explica.
De acordo com ela, a doença se manifesta na infância e atinge seu auge na adolescência, quando aparecem tiques mais complexos, como falar palavrões ou fazer gestos obscenos.
A razão, segundo a psiquiatra, pode ser o aumento de hormônios na puberdade, que poderiam acentuar os sintomas, mas ainda não há comprovação científica para a hipótese.
Hounie recomenda que o paciente seja acompanhado por um médico psiquiatra. O tratamento é feito com psicoterapia e medicamentos antipsicóticos, que atuam nos neurotransmissores para inibir movimentos involuntários.
No caso da síndrome de Tourette, o tratamento serve para reduzir a ansiedade e evitar que surjam novos tiques, já que os sintomas persistem durante a adolescência e podem desaparecer somente com a chegada da vida adulta.
Em quem apresenta tiques comuns, os movimentos podem ser controlados por tempo indeterminado, mas podem voltar em casos de estresse e traumas físicos ou emocionais.


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