São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2011
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CORRIDA

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

O jeito certo de correr


Exercícios educativos podem reduzir lesões, mas não são receita de bolo; cada corredor leva sua história no passo


Gente, como aquela guria corria feio!
Os braços sobravam para os lados, cotovelos apontando em direções opostas, como se ela tentasse decolar, e não correr. As coxas se juntavam nos joelhos, e as pernas se abriam descoordenadas, com as laterais dos pés voando em paralelo ao solo.
Dito isso, é preciso que fiquem claras duas coisas.
Em primeiro lugar, ela tinha me passado; estava, portanto, mais rápida do que eu, o que não é nenhuma vantagem, mas demonstra que, de alguma forma, ela aplicava sua energia com sucesso.
Em segundo, ela parecia estar se divertindo à grande e certamente não daria a mínima bola para eventuais críticos da biomecânica de sua corrida.
Afinal, a corrida é uma diversão, um prazer, uma forma de direcionar as energias que borbulham em nosso corpo. É também uma forma de testar a nós mesmos, de procurar fazer melhor, de desafiar nossas certezas. E foi assim que a tal guria que corria feio me fez pensar se, afinal, haveria um jeito certo de correr.
Fui consultar especialistas ""leia no blog (maiscorrida.folha.com.br) as entrevistas na íntegra. E cheguei à conclusão de que pouco se sabe a respeito. Há indicações disso e daquilo, mas certeza, com tudinho provado por A mais B, necas de pitibiriba.
Não há um jeito certo de correr ""cada corredor leva sua história no seu passo. Mas, com os chamados exercícios educativos, os técnicos afirmam que é possível tornar a corrida mais econômica e reduzir o risco de lesões.
Os exercícios, porém, não são receita de bolo nem meia de tamanho único. Volume e intensidade variam conforme o atleta e devem ser monitorados por um especialista, ainda que qualquer um de nós encontre dicas em sites e publicações especializadas.
Os especialistas, por sinal, nem sempre concordam em relação ao tipo de exercício adequado. Há até quem aponte que os tais movimentos educativos podem, em si, também significar risco de lesão para os desavisados.
Noves fora, dá nisto: se você quer melhorar seu tempo, é recomendável procurar uma orientação especializada; se não, meta o pé no asfalto do jeito que bem entender.
O que vale mesmo é o prazer, o sangue nos olhos, as ventas abertas e o vento na cara.
Por isso, talvez a primeira frase desse texto devesse ser escrita assim: Gente, como corria bem aquela guria!

RODOLFO LUCENA, 53, é editor do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista, autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record) e foi editor do caderno Tec da Folha



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