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s.o.s. família
Desatinos de escola têm de ser combatidos
rosely sayão
Passada a correria característica do início
das aulas, os pais começam a se aproximar da educação que a escola pratica e de suas
incoerências em relação ao que promete
-que no discurso é sempre pertinente e coerente-, observando as lições enviadas e ouvindo o que a criançada conta. Esta última semana passei ouvindo queixas e
dúvidas e conversando com pais e alunos
adolescentes sobre o que consideram os
absurdos da escola. Muitos pais estavam
indignados -e com razão.
É bom que os pais saibam que podem e
devem lutar contra os desatinos que a escola comete. Os pais devem apenas lembrar que não se trata de defender o filho,
mas de cobrar da escola que cumpra seus
objetivos com competência. Essa é uma
excelente parceria que pode ajudar a escola a melhorar o seu trabalho.
Vou começar com o que aconteceu em
uma escola de educação infantil e aproveitar para lembrar que todos os casos dizem respeito a escolas particulares. Um
menino de dois anos e sete meses foi matriculado no chamado maternal. A escola
deu uma lista de material para os pais
comprarem, e eles o fizeram sem titubear. Agora, vejam: a escola pediu que o
garoto levasse vários cadernos quadriculados e outros tantos com linhas. O que um garoto de menos de três anos vai fazer com isso?
Dá para respeitar uma escola que pretende
colocar uma criança dessa idade sentada, com
lápis e caderno, para fazer seja o que for nos limites desses minúsculos quadrados e espaços
entre as linhas? Não dá por um motivo principal: esse tipo de escola não tem a mínima idéia
do que é e de como estimular o desenvolvimento de crianças com até seis anos. Uma escola precisa ter professores formados, que tenham estudado e continuem a fazê-lo, que façam seus trabalhos com base nas teorias do
conhecimento disponíveis.
O pior é que os pais dizem que mudar de escola é trocar seis por meia dúzia. Considerando poucas exceções, é verdade. Por isso o melhor é batalhar para que a escola mude. Os pais
devem solicitar à escola o embasamento teórico que justifique trabalhar com crianças dessa
idade de tal maneira.
Agora, um exemplo ocorrido em uma escola
de ensino fundamental. Segundo o que a mãe
do garoto apreendeu, eles estão trabalhando
as regras iniciais de convivência no espaço escolar. Ótimo! É mesmo no começo dos trabalhos que os alunos precisam saber como se
comportar na escola quando em sala de aula,
no recreio etc. E é de cara também que eles
precisam saber que todo espaço tem suas regras. Ocorre que as regras estão sendo ensinadas como se ensina língua portuguesa ou matemática: os alunos devem escrevê-las tais
quais lições teóricas e, depois, a professora
corrige.
E não é que o aluno escreveu: "Na saída, os
alunos devem esperar os pais no lugar certo".
E foi corrigido pela professora que apontou a
lição em sua forma correta: "Na saída, os alunos devem esperar os pais no espaço combinado". Se não estivesse em jogo coisa tão séria
quanto a educação no espaço escolar, isso seria engraçado. Mas, quando uma escola imagina que seus alunos vão aprender a se comportar decorando regras, a coisa fica bem
complicada. Isso tudo se aprende mesmo é na
prática, com a condução dos professores. E
mais: quem conseguiu escrever a lição corretamente foi o aluno, não foi?
Por fim, uma aluna do ensino médio contava como era difícil para os professores controlar a disciplina em classe. Quando interroguei
se nenhum deles dava conta, ela disse que um
deles dava. Conforme o barulho crescia, ele
chutava armários, jogava a cadeira contra a
parede, dava murros na mesa etc. E ela ainda
acrescentou: se eu fosse professora, não faria
isso. Sensata a aluna, não é?
A educação na escola pode melhorar muito,
e a contribuição dos pais é de grande importância. Quando a escola comete desatinos tais
como os contados hoje, é preciso arrumar
tempo e ir lá e defender ações éticas e competentes. Dignas, afinal.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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