São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004
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s.o.s. família

Desatinos de escola têm de ser combatidos

rosely sayão

Passada a correria característica do início das aulas, os pais começam a se aproximar da educação que a escola pratica e de suas incoerências em relação ao que promete -que no discurso é sempre pertinente e coerente-, observando as lições enviadas e ouvindo o que a criançada conta. Esta última semana passei ouvindo queixas e dúvidas e conversando com pais e alunos adolescentes sobre o que consideram os absurdos da escola. Muitos pais estavam indignados -e com razão.
É bom que os pais saibam que podem e devem lutar contra os desatinos que a escola comete. Os pais devem apenas lembrar que não se trata de defender o filho, mas de cobrar da escola que cumpra seus objetivos com competência. Essa é uma excelente parceria que pode ajudar a escola a melhorar o seu trabalho.
Vou começar com o que aconteceu em uma escola de educação infantil e aproveitar para lembrar que todos os casos dizem respeito a escolas particulares. Um menino de dois anos e sete meses foi matriculado no chamado maternal. A escola deu uma lista de material para os pais comprarem, e eles o fizeram sem titubear. Agora, vejam: a escola pediu que o garoto levasse vários cadernos quadriculados e outros tantos com linhas. O que um garoto de menos de três anos vai fazer com isso?
Dá para respeitar uma escola que pretende colocar uma criança dessa idade sentada, com lápis e caderno, para fazer seja o que for nos limites desses minúsculos quadrados e espaços entre as linhas? Não dá por um motivo principal: esse tipo de escola não tem a mínima idéia do que é e de como estimular o desenvolvimento de crianças com até seis anos. Uma escola precisa ter professores formados, que tenham estudado e continuem a fazê-lo, que façam seus trabalhos com base nas teorias do conhecimento disponíveis.
O pior é que os pais dizem que mudar de escola é trocar seis por meia dúzia. Considerando poucas exceções, é verdade. Por isso o melhor é batalhar para que a escola mude. Os pais devem solicitar à escola o embasamento teórico que justifique trabalhar com crianças dessa idade de tal maneira.
Agora, um exemplo ocorrido em uma escola de ensino fundamental. Segundo o que a mãe do garoto apreendeu, eles estão trabalhando as regras iniciais de convivência no espaço escolar. Ótimo! É mesmo no começo dos trabalhos que os alunos precisam saber como se comportar na escola quando em sala de aula, no recreio etc. E é de cara também que eles precisam saber que todo espaço tem suas regras. Ocorre que as regras estão sendo ensinadas como se ensina língua portuguesa ou matemática: os alunos devem escrevê-las tais quais lições teóricas e, depois, a professora corrige.
E não é que o aluno escreveu: "Na saída, os alunos devem esperar os pais no lugar certo". E foi corrigido pela professora que apontou a lição em sua forma correta: "Na saída, os alunos devem esperar os pais no espaço combinado". Se não estivesse em jogo coisa tão séria quanto a educação no espaço escolar, isso seria engraçado. Mas, quando uma escola imagina que seus alunos vão aprender a se comportar decorando regras, a coisa fica bem complicada. Isso tudo se aprende mesmo é na prática, com a condução dos professores. E mais: quem conseguiu escrever a lição corretamente foi o aluno, não foi?
Por fim, uma aluna do ensino médio contava como era difícil para os professores controlar a disciplina em classe. Quando interroguei se nenhum deles dava conta, ela disse que um deles dava. Conforme o barulho crescia, ele chutava armários, jogava a cadeira contra a parede, dava murros na mesa etc. E ela ainda acrescentou: se eu fosse professora, não faria isso. Sensata a aluna, não é?
A educação na escola pode melhorar muito, e a contribuição dos pais é de grande importância. Quando a escola comete desatinos tais como os contados hoje, é preciso arrumar tempo e ir lá e defender ações éticas e competentes. Dignas, afinal.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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