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Maiores de 50 fazem viagem de intercâmbio
Pacotes seniores oferecem cursos de línguas aliados a aulas de moda ou de história da arte e a programas como chá dançante e boliche
DA REPORTAGEM LOCAL
Liberte-se dos filhos, da rotina, do estresse, da solidão
ou ainda de um desejo eventualmente nunca satisfeito de
ter feito uma viagem de intercâmbio aos 18 anos. Seja qual for a sua história, desde que tenha mais
de 50 anos, é possível aventurar-se em
um programa de estudos no exterior para aprender ou aperfeiçoar uma língua
estrangeira aliado a muitos passeios e a
atividades extracurriculares.
Batizados de "golden age", "special
age" ou "mature students", os programas
são montados pelas próprias escolas no
exterior -em geral, no Canadá e em países da Europa- e vendidos aqui por empresas de intercâmbio. Apesar de 36 das
maiores agências brasileiras oferecerem
esse serviço, ele é muito pouco conhecido. Elas vendem uma média de dez pacotes por ano.
"Achei que era velho para fazer isso,
mas, mesmo assim, resolvi ir. Quando vi
que na minha classe havia pessoas de 80
anos com muita gana de estudar, tive a
sensação de que eu teria um longo período de vida útil", diz o administrador de
empresas gaúcho Léo Medina Martins,
69, que fez uma imersão na cultura britânica por 30 dias, na cidade litorânea de
Bournemouth, na Inglaterra.
Solteiro, conta que quase arrumou uma
namorada: "Cria-se um companheirismo inexplicável". E acrescenta que o intercâmbio foi melhor do que uma viagem
de turismo. "Meu grupo teve muito espaço para passeios e atividades fora de aula.
Foi como turismo, mas com o diferencial
do aperfeiçoamento de uma língua."
Uma das particularidades dos pacotes
para seniores é o número reduzido de horas-aula em comparação com os programas tradicionais. O intuito disso é dar
mais espaço a atividades extracurriculares e de lazer, como aula de gastronomia
e moda, partidas de boliche ou golfe e
chás dançantes e passeios turísticos.
Outra diferença dos programas seniores está na escolha do destino. "Geralmente, as aulas são realizadas em cidades
mais tranqüilas, menos agitadas, onde as
coisas são próximas umas das outras",
diz Cláudia Farina, proprietária da SIP-Student International Programs. Mas
existe também oferta em grandes metrópoles, como Paris.
Um entusiasta de intercâmbio na maturidade é o ex-professor de inglês e
atualmente tradutor Eugênio Barros. Há
dez anos, comprou um pacote para a Inglaterra. Gostou tanto que, hoje, aos 73,
promove os pacotes, servindo de tira-dúvidas de interessados. Ganhou da agência
para a qual colabora uma viagem e, em
troca, atuou como guia do grupo.
Mas nem todo viajante maduro acha
graça na proposta de pacote diferenciado
para essa faixa etária. "Acho meio morto", diz a costureira aposentada e viúva
Pia Annunciata Montório Ribas, 74, que
acaba de chegar de um intercâmbio na
Inglaterra, onde fez um curso inglês de
três semanas, porém com estudantes de
todas as idades -possibilidade que existe nos pacotes seniores.
"Minha cabeça é jovem. Sempre trabalhei pela integração entre jovem e idoso e
acredito que intercâmbio só para idosos
aumenta o separatismo entre as gerações.
Eu era a mais velha, nem por isso me senti excluída", diz ela. Já para Maria Apparecida Borges Campos, 75, também viúva, essa resistência é típica de brasileiro.
"Somos "quadrados". Lá fora esse tipo de
curso é muito comum", diz. Pedagoga
aposentada, ela escolheu um pacote para
a Inglaterra em um curso exclusivo para
alunos com mais de 50 porque não queria se sentir deslocada. "Eu me senti independente, viva. As pessoas dependentes
morrem mais cedo", diz ela, que pretende repetir a dose para aperfeiçoar outra
língua. "Quem sabe, o espanhol."
"Pelo mesmo motivo que executivos
querem fazer o curso com executivos, os
mais velhos procuram pessoas da mesma
idade, com os mesmos interesses", diz
Claudia Martins, gerente de marketing
do STB-Student Travel Bureau.
Interessados não faltam, acredita Tatiana Marinho, gerente da Upgrade Intercâmbio, empresa de Belo Horizonte. O
que limita uma maior demanda dos intercâmbios na terceira idade, para ela, é o
fato de, muitas vezes, as pessoas mais velhas não imaginarem que podem estudar
no exterior. "Muitos pais vêm fechar o intercâmbio dos filhos e confessam que
gostariam de ter podido viajar a estudos,
mas que agora não dá mais, pois estão
"velhos"."
O que pode desanimar os interessados
é o preço: os pacotes costumam ser até
50% mais caros que os convencionais, diz
Cláudia Farina, proprietária da SIP-Student International Programs.
Um curso de italiano, por exemplo,
combinado com aulas de história da arte
durante quatro semanas em Florença, na
Itália, custa R$ 2.633,92 (cálculo do preço
de venda do euro em 11/3).
A duração média dos cursos é de três
semanas e, como nos intercâmbios convencionais, a hospedagem costuma ser
em casas de família.
"Procuramos hospedá-los em casas de
pessoas onde moram ou onde já moraram pessoas de idade avançada. Normalmente, as pessoas mais velhas são mais
exigentes do que os mais jovens, que "topam tudo". Se a residência não agradar,
existe a possibilidade de mudar de casa
imediatamente ou hospedar-se em hotel", afirma Lilian Nogueira, gerente de
intercâmbios da empresa curitibana
BtoW-Brazilian to the World.
Exigências, aliás, que ela diz começar
ainda aqui, durante a escolha do programa. "As pessoas mais velhas são mais detalhistas e querem saber, com antecedência, todos os passos que vão dar." E a programação costuma mesmo ser intensa.
Para dar conta de todas as atividades, é
preciso estar com a saúde sob controle.
Clineu Almada, professor de geriatria
da Unifesp (Universidade Federal de São
Paulo), afirma que não há contra-indicação ao idoso que pretende viajar sozinho
para o exterior em pacotes desse tipo. "Se
as condições de saúde são boas, não vejo
problema nenhum."
Já aqueles que sofrem de alterações importantes de memória e de humor ou que
sejam portadores de doença crônica degenerativa que não esteja controlada devem viajar acompanhados."
É obrigatório a contratação de um plano de saúde para toda a duração da viagem, diz Lilian Nogueira. "Mas isso é válido para todas as idades e já está incluso
no preço final do pacote do intercâmbio."
(ANA PAULA DE OLIVEIRA)
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