São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 2002
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Adeptos da permacultura incentivam uso de diesel vegetal, cultivo de plantas comestíveis em jardins e reaproveitamento de água

Instituto ensina convívio harmônico com a natureza

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PORT REYES (EUA)

As construções coloridas são de barro, areia, farinha de trigo e água. A água do banho passa por um filtro de pedrinhas de argila e desemboca em um lago, onde patos nadam tranquilamente. Alimentando-se com os insetos que são atraídos pela umidade, as aves adubam naturalmente o jardim em que os moradores cultivam seus alimentos. Esse é o bucólico cenário onde está instalado o Instituto de Permacultura do Norte da Califórnia, localizado em Point Reyes (EUA), onde moram e trabalham o engenheiro ambientalista James Stark e sua esposa, Penny Livingston-Stark. Eles criaram o instituto em 1989 e seguem os princípios da permacultura, teoria elaborada pelo australiano Bill Mollison nos anos 70, que prega o desenvolvimento de comunidades sustentáveis. O termo permacultura nasceu da contração das palavras permanente e agricultura, em inglês. O movimento prega viver em harmonia total com a natureza. "A idéia é criar comunidades auto-suficientes, ligadas ao ciclo natural e que entendem que a vida na terra é naturalmente resiliente, ou seja, é flexível e tem a capacidade de recuperar sua estrutura original", explica Stark. O instituto dá cursos e oferece soluções para quem está interessado em viver de maneira mais integrada à natureza. Um exemplo é o workshop sobre diesel vegetal, que, segundo os adeptos da permacultura, substitui a gasolina como combustível. "Nos EUA, os restaurantes jogam fora óleo que seria suficiente para abastecer 10% da frota de veículos por um ano", afirma Stark. A sede do instituto, que é também a residência do casal, é um exemplo da vida em permacultura. "Além de manter o calor do sol, as paredes de barro nunca precisam ser pintadas", diz o engenheiro. As cores são obtidas sem acréscimo de tinta e dependem da proporção em que os ingredientes para fazer as paredes foram utilizados. Para que as paredes do quarto ficassem brancas, por exemplo, eles colocaram mais farinha de trigo na massa. A dez metros da entrada, há um pequeno pântano para onde é escoada a água usada na casa. "As plantas do pântano se alimentam dos subprodutos biodegradáveis do sabão, e depois a água é bombeada para o tanque e filtrada", diz Stark.

Reaproveitamento Na cozinha, outro exemplo de utilização de recursos naturais: os armários foram feitos com a madeira de um carvalho que caiu próximo à casa. Uma foto da árvore enfeita a parede de barro. "A permacultura evita o desperdício de energia usada para transporte de materiais, pois você pode ter tudo que precisa perto da sua casa", explica o engenheiro.
A permacultura já chegou ao Brasil (leia texto na pág. 7), e algumas das atividades pregadas por seus adeptos fazem parte do cotidiano dos brasileiros há anos. É o caso das feiras. Nos Estados Unidos, elas foram canceladas por causa das redes gigantescas de empresas alimentícias e de supermercados que compram e empacotam a produção rural.
Segundo Stark, uma maneira mais saudável de aumentar a produção é a parceria rural. Foi a opção da família Strauss, que cria gado leiteiro em Point Reyes. O leite orgânico e envasado em garrafas de vidro como aquelas de antigamente virou mania entre os descolados da Califórnia. Mas, no lugar de crescer e comprar mais terras e mais gado, os Strauss fizeram parcerias com outros fazendeiros de pequeno porte da região e agora supervisionam a produção terceirizada.



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