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Utilizado em situações de risco e em decisões imediatas, raciocínio intuitivo é muito rápido e surpreende porque surge sem explicação
Intuição é resultado de busca no subconsciente
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Marcelo Massarani (primeiro à esq.), coordenador do curso de engenharia mecânica da Poli, realiza experimentos com seus alunos para trabalhar a intuição |
ANTONIO ARRUDA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando uma pessoa diz: "Não me pergunte por que, nem eu sei o motivo", e anuncia uma decisão completamente inesperada, pode ter certeza de que ela não agiu guiada por forças sobrenaturais, mas usou um tipo de
raciocínio, o intuitivo. Nesse caso, o que ocorre é um processamento muito
rápido de informações e experiências armazenadas no subconsciente. Em
cerca de meio segundo, o sistema nervoso central, agindo como um buscador, vasculha esse grande banco de dados e traz o resultado da pesquisa à consciência de sopetão, sem avisar por que, quando ou onde.
"Quando uma pessoa intui, o que vem
à mente é o resultado de uma pesquisa
que ela não percebeu que fez, porque o
cérebro agiu muito rapidamente", explica o psiquiatra Henrique Schützer del
Nero, 42 anos, coordenador do grupo de
ciência cognitiva da Escola Politécnica da
USP (Poli). Recentemente, ele vivenciou
uma situação em que agiu por intuição.
Parado no cruzamento entre duas grandes avenidas de São Paulo, Del Nero viu
um garoto aproximar-se de seu carro e
não teve dúvida: tirou o cinto de segurança, abriu a porta e saiu. "Intuí que poderia ser um assalto e acreditei, até porque a
intuição tem forte sentido de verdade,
mas não deu certo", diz o médico.
Del Nero somente decifrou por qual razão agiu assim depois do incidente. Enquanto o menino se aproximava, o buscador cerebral localizou, sem que ele percebesse, informações armazenadas no
seu subconsciente sobre a série de sequestros que têm ocorrido na cidade e
sobre o fato de que o jornalista Pedro Bial
acabara de ser vítima de um assalto. Simultaneamente, uma nova informação
foi captada: próximo de seu carro, havia
um palhaço encostado em uma árvore,
que poderia ser cúmplice do menino na
suposta tentativa de assalto.
Del Nero conseguiu identificar alguns
elementos que possivelmente estavam
associados ao seu raciocínio intuitivo naquele momento. Mas pode ter havido
inúmeros outros. Tentar recuperar esses
porquês é uma das dicas para estimular a
intuição (leia mais na pág. 11). Essa tentativa, porém, nem sempre dá certo.
"A intuição é um todo novo e sempre é
percebida como um acontecimento inesperado. E há aquela intuição que podemos chamar de genuína: mesmo que tente identificar os fatores que o levaram a
tomar uma atitude, o indivíduo não vai
encontrar nenhuma explicação", afirma
Paulo Henrique Bertolucci, 46, chefe do
setor de neurologia do comportamento da Unifesp.
Rapidez
O raciocínio intuitivo é exigi-
do quando a pessoa está diante de novidades ou de situações de risco ou precisa
tomar alguma decisão rapidamente. Foi
por isso que Marcelo Massarani, 36,
coordenador do curso de engenharia mecânica da Poli, decidiu desenvolver a intuição de seus alunos, trabalho que vem
realizando desde o início deste ano.
"Hoje o profissional lida com a falta de
tempo e o excesso de informação. Ele tem
de adquirir habilidade para tomar decisões, já que os prazos na rotina de trabalho estão cada vez mais curtos", explica.
No segundo semestre, ele pretende reunir 60 alunos a cada quinze dias e propor
experimentações para que eles desenvolvam a intuição.
Massarani começou a pesquisar o tema
há dois anos e diz ter certeza de que a intuição é uma forma de pensamento. Para
o professor, entender a intuição é uma
preocupação recente, que ainda deve
render muitas pesquisas.
Ou já está rendendo. Estudo recente,
realizado por William Gehring e Adrian
Willoughby, do departamento de psicologia da Universidade de Michigan
(EUA), e publicado na revista "Science"
no mês passado, registrou as atividades
cerebrais de 12 pessoas de ambos os sexos, com idade entre 19 e 30 anos, enquanto elas faziam apostas simuladas.
Os pesquisadores observaram que há
uma região no córtex cerebral que gera
estímulos elétricos quando a pessoa deve
tomar decisões rápidas que envolvem ganho ou perda. São situações em que as
pessoas precisam trabalhar com respostas ágeis, automáticas, como ocorre com
os controladores de vôo ou os operadores do mercado financeiro.
Há indícios de que os impulsos gerados
no córtex registravam os erros e os acertos. Escolhas feitas após um erro pareceram mais arriscadas aos participantes e
passaram a ser associadas a grandes perdas. Quando eles tinham que apostar
após o córtex ter registrado um ganho, a
sensação de erro evidente era amenizada.
De acordo com o estudo, já se tem uma
pequena evidência de que o processo
neurológico em humanos não é rápido o
suficiente para produzir conscientemente essa avaliação, mas ele está diretamente relacionado ao comportamento de escolha do indivíduo.
Em entrevista à Folha, Gehring disse
que é "totalmente plausível que a atividade cerebral observada nas pesquisas esteja envolvida em alguns tipos de raciocínio intuitivo". "Se um jogador, por exemplo, utiliza seu "sentido instintivo" e aposta em determinada alternativa, esse "sentido instintivo" pode ser influenciado pela
atividade cerebral que avalia as perdas",
explica o pesquisador.
Por ser difícil compreender o que é intuição, as pessoas acabam achando que
estão diante de uma revelação divina.
"Aqueles que não trabalham o pensamento intuitivo em si buscam-no no outro. Quando vai a um vidente, talvez a
pessoa esteja à procura de imagens que
ela não está acostumada a buscar em sua
mente", diz Anna Mathilde Pacheco e
Chaves, professora do departamento de
psicologia social da USP.
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