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S.O.S. família
rosely sayão
Pais devem ensinar prazer da convivência
H á pouco tempo, conversamos sobre a
qualidade do tempo que os pais dedicam
ao convívio com os filhos, já que os inúmeros
afazeres que têm tornam esse tempo bastante
curto. A conversa provocou os leitores, que
enviaram uma correspondência bem variada em relação ao tema, com comentários, depoimentos e lamentos. Uma questão foi comum a quase todos os leitores. Eles pediam sugestões de atividades que pudessem reunir pais e filhos em torno de um mesmo interesse. Uma leitora até contou que, como os filhos têm idades muito diferentes, estava com dificuldade para conciliar o tempo restrito que tem em casa para dar atenção a eles e ao marido.
Bem, a primeira coisa sobre a qual é importante refletir é justamente essa tendência de muitos pais de sair em busca de algo diferente
ou interessante para fazer quando estão com
os filhos. Aí é um tal de procurar programas,
atividades culturais e artísticas, viagens, que
acaba roubando boa parte do tempo que poderia ser passado com os filhos.
Não é preciso tanto empenho para criar motivações para que os filhos se interessem em
desfrutar da companhia dos pais. Basta -o
que não é pouco- estabelecer com os filhos,
desde cedo, o hábito de fazer coisas simples
juntos, de ter boas conversas sobre qualquer
assunto, de expressar o prazer de estar lado a
lado, mesmo que num bom embate de idéias,
mesmo que num conflito. Companheirismo
familiar, esse é o ponto. E isso se aprende.
Para que os pais possam ensinar aos filhos o
gosto pela convivência familiar, é preciso que
isso faça parte da vida deles, que gostem de estar com os filhos. E essa é uma descoberta que
se faz pouco a pouco, à medida que o filho
cresce. Nos primeiros anos, sentar no chão
com o filho, engatinhar com ele, jogar bola são
maneiras de mostrar o prazer de conviver; alguns anos depois, ler gibis ou livros de história
juntos, desenhar ou pintar, tomar sorvete à
tarde são outros modos de mostrar ao filho
que é gostoso estar junto com ele.
Quando o filho passa a frequentar a escola,
que lhe dá acesso às letras e ao conhecimento,
acompanhar a vida escolar, sem, entretanto,
invadir a privacidade dele, é um outro ótimo
jeito de iniciar um assunto. É assim, com a experiência, que o filho percebe que os pais gostam de ouvir seus comentários, gostam de
conviver com ele nas situações comuns da vida. É assim que ele sente que faz parte dessa dinâmica, que tem um papel bem definido no
grupo familiar.
E há situação mais presente e comum na vida de todas as famílias que as refeições? Pelo menos uma ou duas vezes por semana, a família tem a chance de se reunir para planejar e preparar uma refeição, se quiser. Hoje, mesmo em cidades menores, o estilo de vida não mais permite que toda a família esteja presente em, pelo menos, uma refeição diária em conjunto, sem pressa nem atropelo. Mas, se os pais querem dedicar parte de seu tempo livre à
construção de um relacionamento familiar
consistente e próximo, eles podem usar qualquer recurso para isso, até a refeição.
Criança adora cozinha. Tanto é verdade que
logo os pais percebem que precisam proteger
os filhos dos riscos que a cozinha apresenta:
facas, fogão, beiradas, pequenos grãos etc.
precisam ficar fora de alcance. Mas, se acompanhada bem de perto, a criança pode colaborar na realização de uma refeição.
A alegria e o prazer que o filho experimenta
nessa atividade feita em conjunto não reside
tanto na execução de uma tarefa doméstica,
mas na percepção de que ele pode fazer algo
que trará benefício e prazer a todos e de que
sua presença não atrapalha, ao contrário, é desejada por seus pais.
Uma vez me referi à família como uma panelinha especial, da qual seus membros gostam de fazer parte. Para crianças e jovens, talvez a sensação de pertencer a um grupo nunca tenha sido tão importante quanto é hoje, nessa
loucura em que se tornou a vida moderna.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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