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FOCO NELE
Universitário cria acessórios para deficientes
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Retribuir à população a oportunidade
de estudar em uma universidade pública
e, ao mesmo tempo, participar de concursos na faculdade foram os motivos
que levaram o estudante de engenharia
da computação Marcio Rogério Juliato,
nos últimos dois anos de curso, a desenvolver acessórios que ajudam deficientes
a utilizarem o computador.
O primeiro foi um equipamento que
"traduz" textos de computador para
braile. Em seguida, com a ajuda de um
colega, Juliato criou um mouse econômico para pessoas com problemas de coordenação motora. Ambos lhe renderam
prêmios da universidade e elogios dos
professores, mas ficarão fora do mercado
até que alguma empresa viabilize a comercialização. Mas, apesar de querer que
suas criações cheguem aos consumidores, Juliato não está preocupado com
possíveis lucros. "Acho que eu fiz minha
parte, não fiz isso por dinheiro", diz.
Folha - Como surgiu a idéia de desenvolver um mouse para deficientes?
Marcio Rogério Juliato - Acabei de me
formar em engenharia de computação na
Unicamp [Universidade Estadual de
Campinas]. Em uma reunião entre uma
empresa de programas para computador, a RCT Softwares Educativos, e o Instituto de Computação da Unicamp, no
começo do ano, foi decidido que a empresa levaria dúvidas e o instituto as solucionaria. Fui chamado para participar do
projeto e a RCT me deu a idéia de fazer
um mouse para deficientes. Houve um
concurso da faculdade de engenharia elétrica e decidimos inscrever esse projeto.
Ganhamos o primeiro lugar.
Folha - Ganhamos? Quantas pessoas participaram do projeto?
Juliato - Eu e mais um colega de classe, o
Daniel Ferber.
Folha - Vocês desenvolveram dois protótipos. Como funciona cada um?
Juliato - Fizemos um simples e o outro
que chamamos de estendido. O simples
tem movimentação para cima e para baixo, direita e esquerda, além dos botões de
agarrar e soltar objetos. Esse é para quem
tem maior problema de coordenação
motora ou para quem está aprendendo a
usar o computador. O estendido tem as
mesmas funções, mas se movimenta para as diagonais, além dos cliques do aparelho comum. Dá até para ajustar a velocidade com que a seta anda na tela do
computador -se a seta tiver movimentos muito rápidos na tela, a pessoa pode
não conseguir usar o equipamento. O
mouse também possui coleta de dados
estatísticos, assim o professor consegue
saber qual a maior dificuldade do aluno.
Folha - Quem pode usar esse mouse?
Juliato - O foco principal é qualquer
pessoa que tenha problema com coordenação motora fina e que não consiga usar
o mouse normal, que exige movimentos
muito delicados. Foi desenvolvido para
portadores de deficiência física ou mental, crianças ou adultos.
Folha - Foi testado com portadores de deficiência?
Juliato - Sim. Fizemos testes com duas
crianças com problemas de coordenação
motora fina. Elas se adaptaram bem.
Folha - O mouse requer algum programa
para ser usado?
Juliato - Não há necessidade de instalar
um software especial. Basta ligar o fio do
mouse que desenvolvemos na saída do
mouse comum. Dá até mesmo para ligar
o mouse normal no adaptado para deficientes, assim um professor, por exemplo, pode ajudar o aluno a operá-lo.
Folha - É como ter aulas de direção?
Juliato - Exatamente. No carro de auto-escola, o instrutor consegue ter um controle sobre o que o aluno faz. Assim é
com o mouse para deficientes. Outra
vantagem é que não é preciso ligar e desligar o mouse a cada troca de pessoas no
computador. Os dois podem ficar instalados ao mesmo tempo.
Folha - O mouse já foi patenteado?
Juliato - Sim. A patente é minha. Agora
estamos tentando transformar em algo
que possa ser vendável. Já tem empresas
interessadas, mas não é nada certo ainda.
Folha - Qual é o diferencial do mouse que
vocês desenvolveram e os que já estão no
mercado?
Juliato - O preço. Nós nos propusemos
a elaborar um mouse mais econômico.
De nada adianta ser caro e ninguém ter
acesso. Um mouse para deficientes custa
entre R$ 700 e R$ 1.200. Desde o início,
projetamos o equipamento para ser mais
barato. O básico custará cerca de R$ 300
e, o estendido, R$ 400.
Folha - Você já tinha desenvolvido algum
equipamento para deficiente?
Juliato - Sim. No ano passado, desenvolvi uma placa de leitura em braile. É
um software que "traduz" o texto que está na tela do computador para o braile.
Ainda não tem ninguém interessado em
viabilizar esse projeto.
Folha - Você pretende seguir carreira na
área de tecnologia para portadores de deficiência?
Juliato - Isso nunca me passou pela cabeça. Tudo foi por mero acaso. Acho que,
se tivesse pensando em ganhar dinheiro,
eu me envolveria em outro tipo de projeto. Estudei em uma universidade pública, a responsabilidade social é muito
grande. Acho necessário dar algo em troca à população, que é quem nos sustenta
na universidade. Não vou conseguir mudar o mundo, mas posso tentar mudar
um pouco o ambiente onde estou.
Mais informações sobre o mouse e a placa de leitura em braile podem ser obtidas pelo e-mail
marcio.juliato@ic.unicamp.br
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