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SAÚDE
À flor da pele
As varizes atingem pessoas de ambos os sexos, e a faixa etária dos
pacientes está caindo ano a ano; problema pode ser grave e tem causas
hereditárias
FLÁVIA GIANINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A bancária Luciana Rodrigues dos Santos,
24, matriculou-se na
academia decidida a
abandonar a vida sedentária.
Menos de dois meses depois,
sentia dores insuportáveis nas
pernas após a rotina de exercícios e foi obrigada a procurar
um médico. Ela tomou um susto quando soube que precisaria
de cirurgia para retirar varizes.
A surpresa não era para menos. Suas pernas não apresentavam as veias alongadas, tortuosas e dilatadas que ela reconheceria como varizes -nem
as pequenas veias avermelhadas conhecidas por vasinhos.
Com exceção da dor e de uma
coceirinha incômoda durante
os exercícios, a bancária não
apresentava outros sintomas
característicos de varizes, como inchaço e ardor, e chegou a
duvidar do diagnóstico.
Mas o resultado do ultra-som
usado para medir o diâmetro
das veias não deixou dúvida sobre o estágio de dilatação de
suas varizes e a necessidade de
removê-las. "Fiquei preocupada sobre como será esse problema no futuro, pois só tenho 24
anos e nenhum filho", conta.
O angiologista e cirurgião
vascular Fernando Soares Moreira está acostumado com
semblantes surpresos no seu
consultório. "Algumas pessoas
têm varizes enormes e nenhum
sintoma, ao passo que muitas
não têm nenhum vasinho aparente e sintomas graves. Mesmo imperceptíveis, elas podem
atrapalhar a circulação", diz. A
afirmação serve de alerta para
quem apresenta os sintomas,
mas não sabe de onde eles vêm
e, por isso, não procura ajuda.
Vários são os mitos que rondam as varizes. Um dos mais
sólidos é que a doença é coisa
de mulher de meia-idade que já
teve filhos. Apesar de atingirem
quatro vezes mais mulheres e
serem quase regra durante a
gravidez, as varizes estão presentes em 20% a 30% da população, incluindo os homens. Segundo os médicos, a idade dos
pacientes vem caindo.
Hoje, 80% dos pacientes de
Fernando Moreira têm entre 15
e 27 anos. O dado é alarmante,
já que a doença tende a piorar
com o tempo. Fatores externos
evitáveis, como uso precoce de
anticoncepcionais, ficar sentado no trabalho e sedentarismo
são os culpados pela diminuição da faixa etária, acredita o
médico. O estilo de vida é determinante, mas a hereditariedade é o principal fator de risco.
"Quem tem parentes com varizes apresenta o dobro de chances de desenvolver a doença",
diz o cirurgião vascular André
Luiz Pinotti.
Origem
As varizes começam quando
as válvulas venosas -por onde
o sangue retorna das extremidades do corpo para o coração- perdem a elasticidade e
dilatam de modo a não conseguir mais cumprir sua função.
O sangue passa, então, a refluir,
o que provoca mais dilatação e
refluxo, levando à formação de
varizes.
Apesar de serem a principal
reclamação das mulheres, os
vasinhos são um problema puramente estético, mas podem
estar associados a varizes.
O tratamento alivia os sintomas e previne a evolução da
doença -que pode resultar em
trombose venosa, dermatites
ou mesmo úlceras, segundo Pinotti- e sua escolha depende
da veia a ser tratada. A escleroterapia (injeção de uma solução
dentro dos vasos) "seca" a veia,
permitindo que ela seja reabsorvida pelo corpo. O procedimento dura cerca de 20 minutos e não exige repouso. Uma
nova técnica com aplicação em
forma de espuma potencializa
o efeito do remédio e pode ser
usada com sucesso em varizes
de médio calibre.
Já a cirurgia convencional é
indicada para retirada de varizes com grosso calibre, que já
acarretam problemas funcionais. Geralmente, é feita com
anestesia local, e as varizes são
retiradas por pequenos cortes
na pele. O paciente pode ficar
um dia internado, retomando a
rotina em uma semana.
Hoje, a cirurgia de varizes a
laser é a queridinha dos consultórios, já que é menos invasiva
e oferece recuperação mais rápida. Nela, uma microfibra ótica com laser de iodo é introduzida na veia doente. Ela fecha
totalmente as paredes, e o organismo desvia o sangue para
veias saudáveis.
Após mais de uma década
trabalhando em pé, o vendedor
Tamyr Youssef El Kouri, 36, assistia ao aumento das varizes
das pernas, mas foi só a dor incessante que o fez tomar uma
atitude. "Tinha medo da cirurgia e não queria ficar afastado
da academia", conta.
Na consulta, descobriu que
quase sempre os pacientes recebem alta no mesmo dia e o
tempo de recuperação varia de
três a 15 dias. "Só precisei ficar
fora da academia um mês", diz.
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