São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008
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ROSELY SAYÃO

Conflitos da adolescência

Quando uma família tem um filho, a chegada desse novo integrante muda bastante a estruturação e a dinâmica do grupo. O crescimento da criança, com a conseqüente passagem para diferentes etapas da vida, impõe novas mudanças aos pais e ao grupo familiar, e tal processo entra em sua fase de desfecho quando o filho chega à adolescência.
Muita gente já ouviu dizer que, quando os filhos adolescem, os pais adolescem junto. Pois isso só faz sentido se a fase da adolescência for tomada como tempo de amadurecer.
É nesse período que, ao deixar de ser criança, o filho começa sua trajetória rumo à autonomia. O amadurecimento é múltiplo: sexual, social, afetivo e cultural, entre outros, e possibilitará que, num futuro bem próximo, o filho conquiste sua liberdade em relação à sua família de origem.
Do mesmo modo, os pais também participam de tal processo, já que o amadurecimento do filho resultará em mudanças e reorganizações pessoais e do grupo: um de seus integrantes partirá e, fatalmente, os pais deverão voltar a olhar para sua vida pessoal e/ou de casal -e, novamente, reorganizá-la. Esse é um momento difícil para pais e filhos porque exige a busca de um novo equilíbrio para cada um deles e para o grupo que formam. Pais e filhos enfrentam seus próprios conflitos e, ao mesmo tempo, os que surgem entre si.
Acontece que a família é um grupo social permeável e, portanto, sofre as influências do contexto cultural em que vive. E, aí, o processo de transformação da família, que já é delicado, hoje ganha contornos de grande complexidade.
Por um lado, os adultos estão submetidos a alguns ideais -entre eles o da busca desesperada da felicidade e da eterna juventude- que interferem decisivamente na posição que assumem perante os filhos. Estabelecer relações mais de amizade e cumplicidade do que de autoridade, evitar conflitos, escapar do movimento contínuo de ora apertar, ora soltar os limites que os filhos ainda têm são atitudes que muitos pais assumem hoje em dia. Isso sem falar do abandono precoce que muitos pais praticam por conta da impotência que sentem perante um filho questionador e em busca de confrontos.
De outro lado, os jovens se tornaram o principal alvo do mercado publicitário e isso faz com que adquiram novas necessidades, interesses e anseios: a busca de aventura, o "fazer para acontecer", a recusa do cotidiano maçante etc. Vale lembrar também o esforço que muitos pais realizam para que os filhos atinjam um superávit de satisfação, o que provoca jovens enfastiados: pouco ou nada desejam porque tudo ou quase tudo têm.
A presença educativa dos pais na vida dos filhos na adolescência é tão necessária quanto na infância. É o desencontro dessas duas gerações que tem, muitas vezes, possibilitado ocorrências desastrosas. Acidentes provocados por direção perigosa combinada com bebida alcoólica, brigas violentas e fugas inconseqüentes são exemplos disso. Sinal de que eles precisam da retaguarda familiar ainda.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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