São Paulo, quinta-feira, 19 de julho de 2007
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Aprender um novo idioma

Sabe aquela idéia de que não se aprende um idioma depois de uma certa idade? Não é bem assim. Está certo que as crianças têm mais facilidade em algumas áreas, como na fala e na pronúncia. Mas a maior experiência de vida dos adultos lhes confere vantagem em outros campos, como na gramática e na compreensão de textos. "A afirmação de que só é possível aprender idiomas na infância é controversa. Os estudos têm mostrado que é um mito. Se há interesse e motivação, é possível, sim, aprender quando mais velho", garante Mariney Pereira, professora da pós-graduação em lingüística aplicada da UnB (Universidade de Brasília).
Entre os estudos que avaliam a influência da idade no aprendizado, uma das hipóteses é que, a partir dos 11 anos, não é mais possível falar uma nova língua sem sotaque. Mas, segundo Pereira, são só hipóteses, e não teorias consolidadas. "O que se tem demonstrado é que é possível aprender um idioma estrangeiro independentemente da idade. Se houver motivação, dá para contornar até a dificuldade na parte oral." Os benefícios de se aventurar em um novo idioma depois dos 60 incluem manter a memória ativa -aprender palavras de um novo vocabulário ajuda a exercitar essa função. Pesquisas na área da psicologia também mostram que esse aprendizado melhora a auto-estima e favorece a socialização.
Ao acompanhar uma turma de inglês com alunos de 60 a 80 anos para seu mestrado, Pereira observou que as aulas eram para eles uma oportunidade de sair de casa e de se relacionar melhor com amigos e familiares. "Uma das estratégias que eles adotavam para aprender era ensinar os outros: o companheiro, os filhos ou os netos", conta. Para muitos entrevistados, a motivação para aprender vinha da vontade de aproveitar o tempo livre para viajar, Foi a dificuldade para se comunicar em viagens que levou a dona-de-casa Maria do Carmo Nobuko Umeda, 75, a começar as aulas de inglês, aos 63 anos. "Quando meu marido era vivo, a gente viajava muito. Eu ficava com um ar de bobalhona porque não entendia nada, não sabia pedir uma água", conta.
Ela diz que sente um pouco de dificuldade, mas que é muito prazeroso conseguir traduzir as palavras. Atualmente, está orgulhosa por ter lido um livro de 35 páginas todo em inglês. "Fiquei surpresa comigo. É maravilhoso saber o que significa cada coisa. Escrevia num caderno o que eu não entendia para depois consultar no dicionário", diz. Além das aulas de idiomas, a dona-de-casa aprende computação, faz curso de boneca de tecido, participa de um coral onde canta em japonês, é voluntária em um hospital e dá aulas de ikebana (arte japonesa de arranjos florais).
No ano passado, ela também fez um curso de espanhol durante seis meses, que a ajudou a se comunicar em uma viagem para Buenos Aires. "Conseguia pedir comida nos restaurantes. Foi muito bom ver que eles me entendiam."


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