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foco nele
Dietas da moda copiam práticas do passado
KATIA FERRAZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Variações sobre um mesmo tema e cópias de propostas do passado. É assim
que o endocrinologista Henrique Suplicy classifica as centenas de dietas que surgem a cada estação e que, segundo ele, prometem o impossível: perder e manter
peso sem mudar o hábito alimentar.
"Se você pesquisar, vai encontrar mais de 2.000 tipos de dieta hipocalórica, que
prevêem o consumo de até 1.400, 1.500 calorias diárias. Mas, na realidade, existem apenas três tipos de dieta: a rica em gorduras e pobre em carboidratos, a pobre em gorduras e rica em carboidratos e a dieta balanceada", diz Suplicy, que é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional do Paraná e membro do conselho consultivo da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade). Ele apresentará o resultado de seu estudo sobre dietas da moda no 25º Congresso Brasileiro de Endocrinologia, que começa no sábado (21/9), em Brasília. Leia entrevista abaixo.
Folha - Qual é a sua opinião sobre as novas dietas que têm surgido?
Henrique Suplicy - Minha opinião é bastante crítica. Alguns espertalhões descobriram um filão na sociedade, já que ser
magro é um sinônimo de status, e começaram a lançar verdadeiros best-sellers.
Essas dietas não passam de livros que variam sobre o mesmo tema e não resolvem absolutamente nada, pois o indivíduo não vai manter a dieta a longo prazo.
Os únicos beneficiários são os autores, que enriquecem.
Folha - O que você quer dizer com variações sobre um mesmo tema?
Suplicy - As pessoas pensam que utilizam uma técnica nova, mas, na realidade, adotam práticas utilizadas há décadas. As dietas surgiram há menos de 150 anos e provocaram um grande impacto na sociedade. A dieta que elimina os carboidratos da alimentação, por exemplo, é a primeira de que se tem notícia, datando de 1863. Foi chamada de dieta "banting", que era o sobrenome de um paciente de um cirurgião inglês. Ele prescreveu uma dieta rica em gorduras que foi considerada revolucionária. Na palestra que vou apresentar no congresso, mostrarei um exemplar da revista "O Cruzeiro", de 1954, que traz uma modelo usando um biquíni de época e que incita os leitores a conseguirem aquele corpo adotando uma certa dieta. Alguns anos depois, essa mesma dieta foi apresentada como grande descoberta. Isso acontece com todas.
Folha - Da primeira dieta até hoje, o que
mudou?
Suplicy - As dietas foram mudando de
nome, e as pessoas seguem-nas como se
fossem novidades. As pessoas buscam
milagres que não existem. Submetem-se
a todo tipo de tratamento sem se darem
conta de que não estão fazendo nada de
novo e de que o resultado pode ser frustrante. Se você pesquisar, vai encontrar
mais de 2.000 tipos de dieta hipocalórica,
que prevêem o consumo diário de até
1.400, 1.500 calorias. Mas, na realidade,
existem apenas três tipos de dieta: a rica
em gorduras e pobre em carboidratos, a
pobre em gorduras e rica em carboidratos e a balanceada.
Folha - Se há só três tipos, por que as pessoas são seduzidas pelas dietas da moda?
Suplicy - O gordinho gosta de comer
muito, então surgem algumas opções
que atingem diretamente esse perfil de
usuário, incentivando-o a comer alimentos gordurosos, por exemplo. Como essa
dieta não tem carboidratos, acaba sendo
hipocalórica, e o indivíduo emagrece, porém sem saúde. Quando quiser consumir
carboidratos novamente, o que não leva
muito tempo, no máximo 15 dias, acaba
engordando, e a culpa é da dieta.
Folha - Até que ponto as dietas da moda
podem ser prejudiciais?
Suplicy - Elas são prejudiciais apenas se
forem seguidas durante muito tempo.
Mesmo as dietas mais incorretas do ponto de vista nutricional não interferem na
saúde se forem adotadas por um curto
espaço de tempo. O problema é que não
fazem bem nem mal, por isso insisto na
questão da reeducação alimentar. O termo dieta tem sido abolido do vocabulário, é uma tendência mundial. Dieta significa sacrifício e transitoriedade, ou seja,
você faz durante um certo tempo. Não
adianta se iludir pelos quilos perdidos
pela supressão drástica da comida, não é
o tipo de dieta que faz emagrecer ou não.
O resultado é um efeito temporário da
diminuição da ingestão de calorias. A
meta é conseguir que o paciente realmente mude de hábito.
Folha - Essa posição reflete uma mudança
no conceito de obesidade?
Suplicy - Esse conceito realmente não é
mais o mesmo de anos atrás, quando o
gordo era considerado uma pessoa fraca
e sem caráter, marginalizado. Hoje, a
medicina considera o obeso uma vítima
tanto da genética quanto do progresso
que gera a falta de atividades físicas. As
pessoas são escravas do controle remoto,
das máquinas de lavar. Comem mais alimentos gordurosos, e apenas uma parcela faz exercícios físicos.
Folha - Qual dieta realmente funciona?
Suplicy - Existe um ditado que deveria ser seguido à risca: café da manhã de rei, almoço de sábio e jantar de mendigo. Além disso, uma dieta só vai dar resultado se for feita uma reeducação alimentar. A dieta balanceada é a única que permite essa reeducação, um hábito que você pode manter permanentemente em qualquer lugar do mundo. As dietas também precisam ser personalizadas. O médico tem de avaliar o modo de vida da pessoa e o que ela está fazendo de errado.
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