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foco nele
Cirurgião plástico detona obsessão por vaidade
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ao receber no consultório uma paciente de 54 anos absolutamente satisfeita
com seu corpo, mas que pedia intervenções estéticas por insistência do marido,
o cirurgião plástico Rolando Zani aconselhou-a a trocar de marido em vez de
mudar de aparência. Afinal, disse ele, o
problema parecia ser com ele, não com
ela. Zani encampa a luta contra a banalização das cirurgias plásticas e dos tratamentos estéticos. Segundo ele, uma grande parcela dos pacientes procura nas "lipos" e sessões de botox soluções para
problemas emocionais, não físicos. Professor da Unifesp, ele acaba de lançar o livro "Bonito é Ser Você!" (208 págs., R$
23,90, ed. Gente, tel. 0/xx/11/3675-2505).
Sobre a obsessão pela estética que toma
conta das brasileiras, ele é pessimista:
"Acredito que isso vai se intensificar ainda mais. A medicina da vaidade não tem
limites, não conhece crises nem recessão". Leia a entrevista abaixo.
Folha - O que o levou a escrever o livro?
Rolando Zani - Em 35 anos de profissão,
vi pessoas correndo riscos desnecessários
e exagerando nas cirurgias. A idéia é fazê-las pensar mais. Não estou dizendo que
cirurgia plástica é ruim. Ao contrário, ela
é boa, mas dentro de certos limites.
Folha - Como reagir a pacientes que querem a intervenção que é desnecessária?
Zani - O importante é saber recusar. De
cada dez pacientes que me procuram, sete eu recuso. Há pacientes que, diante de
uma recusa, foram procurar outro médico e depois voltaram insatisfeitos.
Folha - A que o senhor atribui essa busca
exacerbada pelos tratamentos estéticos?
Zani - Muitas pessoas tendem a compensar um vazio com a vaidade excessiva, pensando que, ao melhorar a aparência, resolverão os problemas de suas vidas. No livro, eu conto sobre duas pacientes que fizeram cirurgias para aumentar as mamas. Uma delas modificou
o modo como se via após a cirurgia. A
outra continuou se sentindo da mesma
maneira, apesar dos peitos maiores.
Folha - O importante é a pessoa mudar a
sua auto-imagem?
Zani - Toda vez que a cirurgia plástica
não é acompanhada do aumento da auto-estima, ela não funciona. Muitas vezes
as pessoas acham que o problema está na
aparência, no corpo e esquecem que o
importante é estarem bem com elas mesmas. Muitas mulheres procuram a lipoaspiração, por exemplo, como forma
de emagrecimento, mas ela só funciona
para quem já é magro e tem algumas gordurinhas localizadas.
Folha - O senhor acha que essa onda do
botox e das plásticas é passageira ou veio
para ficar?
Zani - Eu acredito que isso vai se intensificar ainda mais. A medicina da vaidade
não tem limites, não conhece crises nem
recessão. Existe um lado positivo na medicina da beleza, ela incentiva as pessoas
a se cuidarem mais, a tratarem da pele e
da saúde. O que eu critico é o excesso. As
pessoas acham que a cirurgia é uma varinha de condão que vai resolver todos os
problemas, mas, enquanto não modificarem o modo como se sentem em relação
a elas mesmas, continuarão insatisfeitas.
Folha - As mulheres são as que mais o
procuram?
Zani - Cerca de 95% dos meus pacientes
são mulheres. Elas se espelham em padrões comercializados de beleza e não se
valorizam como são. Já atendi muitas
mulheres na faixa dos 20 anos que são
lindas, mas se acham gordas e feias. Já recebi até convite para participar de aplicações de botox. Algumas mulheres organizam reuniões em casa e contratam um
médico para fazer as aplicações, dividindo os custos entre elas.
Folha - Qual a faixa etária das clientes?
Zani - Depende do tipo de cirurgia, mas
há muitas mulheres bem jovens que descobrem um pneuzinho e querem fazer lipoaspiração. E mulheres na faixa dos 40
anos que procuram melhorar a imagem
como forma de aceitação social.
Folha - Por que o senhor afirma no livro
que o cirurgião plástico é um psiquiatra
com bisturi na mão?
Zani - O cirurgião plástico tem de estar
bem atento ao que se passa com o paciente. Ele precisa conversar para descobrir
os motivos que levaram a pessoa a querer
mudar alguma parte do seu corpo. Ao
contrário das outras áreas da medicina,
em que o médico indica a intervenção, a
cirurgia plástica é a única na qual o paciente é quem indica a própria cirurgia, o que exige um preparo e atenção especial
do médico.
(SIMONE IWASSO)
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