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Adultos também sofrem com a hiperatividade
Transtorno nem sempre "some" na adolescência; portador deve ser tratado por toda a vida se os sintomas prejudicarem seu bem-estar
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Conviver com uma criança ou com um adolescente que não agüenta ficar parado por
mais que alguns minutos, é dispersivo, fala pelos
cotovelos e age impulsivamente não é fácil. Mas
o problema pode ser ainda maior quando é um
adulto que se comporta dessa maneira. Essas são
características dos transtornos de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH), que, ao contrário do que se imaginava, não se alteram com o
término da adolescência e podem atrapalhar
bastante e por toda a vida o cotidiano do portador e de quem está ao seu lado.
Os sintomas permanecem os mesmos, mas o
grau de cobrança aumenta, afirma o psiquiatra
Mario Louzã, coordenador do Projeto Déficit de
Atenção e Hiperatividade no Adulto (PRODATH), do Hospital das Clínicas (SP). Isso ocorre principalmente nos casos em que os transtornos não foram identificados precocemente.
Espera-se que um adulto seja "maduro" e
cumpra suas obrigações familiares e profissionais. O próprio hiperativo tem essa expectativa
em relação a si mesmo. Em alguns casos, porém,
sem o acompanhamento adequado, os portadores desse tipo de transtorno não conseguem estabelecer metas ou organizar-se e, além dessas dificuldades, têm de enfrentar críticas e preconceitos.
Auto-estima
Um estudo apresentado no último congresso da Associação Americana de Psiquiatria, realizado no início deste mês, quantificou as implicações dos TDAH na fase adulta.
Após entrevistar 1.001 adultos portadores dos
transtornos, os analistas do instituto de pesquisa
norte-americano Ropert concluíram que os hiperativos apresentam dificuldades de relacionamento e sérios problemas de auto-estima, o que
aumenta em três vezes o risco de sofrer de estresse, depressão e outros problemas emocionais.
Essa associação entre TDAH e distúrbios psicológicos é constatada no dia-a-dia dos consultórios. De acordo com o neurologista João Radvany, do hospital Albert Einstein (SP), em mais
da metade dos casos, o adulto que ainda não recebeu o diagnóstico de portador do transtorno
procura ajuda médica por se sentir deprimido.
"Com o tempo, descobre-se que o quadro depressivo foi provocado pelos TDAH."
A pesquisa indicou outro dado preocupante: a
maior suscetibilidade dos portadores de se envolverem com álcool e drogas. Mais de 60% fumam, e 52% já usaram algum tipo de droga.
Dos entrevistados, apenas 18% concluíram
curso superior, comparados com 26% dos americanos em geral. Nos Estados Unidos, um adulto tem, em média, 3,4 empregos em dez anos; entre os portadores dos transtornos, esse número
sobe para 5,4. Além disso, 43% dos entrevistados
declararam terem sido demitidos ou pedido demissão por causa dos sintomas dos TDAH.
Tratamento
Os resultados da pesquisa feita
pelos norte-americanos não devem ser generalizados, porém levam a duas conclusões. Em primeiro lugar, um adulto que desconfie ser hiperativo deve procurar um especialista para fazer
uma avaliação. Segundo: se o transtorno
interfere no bem-estar do paciente, o tratamento
deve ser feito por toda a vida.
"Essa questão é controversa. Afinal, não podemos deixar de notar que algumas crianças realmente melhoram após determinado tempo de
tratamento", diz o psiquiatra Wimer Bottura Junior, que coordena um grupo de apoio para portadores de TDAH da Associação Paulista de Medicina. Os casos em que o transtorno melhora
com o amadurecimento, contudo, são exceções.
O tratamento combina medicação e acompanhamento psicológico. "Em geral, trata-se os
transtornos com medicação psico-estimulante,
antidepressivos e terapia", explica o psiquiatra
Fernando Ramos Asbahr, da USP.
Acredita-se que os TDAH afetem de 1,5% a 3%
da população em geral. As causas ainda são desconhecidas; especula-se que o problema esteja
associado a algum desequilíbrio químico cerebral que envolva neurotransmissores. O que já se
sabe é que existe predisposição genética e que o
problema é mais freqüente entre homens.
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