São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2001
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foco nele

Grau de felicidade varia segundo o país

MICHAEL BOND - DA "NEW SCIENTIST"

Todo mundo quer ser feliz, certo? Errado, diz Ed Diener, professor da Universidade de Illinois, nos EUA, e um dos mais ativos psicólogos do chamado campo do "bem-estar subjetivo". Ele descobriu, em suas pesquisas, que felicidade não é apenas um sentimento inerente a todos os seres humanos. É algo intimamente ligado à cultura. E sabe do que mais? Dinheiro realmente traz felicidade, mas, para extrair o máximo prazer dele, você precisa ter conhecido a pobreza.

Pergunta - Onde encontramos as pessoas mais felizes do mundo?
Ed Diener - Os povos dos países escandinavos parecem ser os mais felizes. Renda é importante para a felicidade e está correlacionada à democracia, aos direitos humanos e à longevidade. Mas, se você tirar o elemento renda, verá que os fatores culturais parecem fazer grande diferença. Se tirarmos a renda da equação, os mais felizes são os latinos.

Pergunta - Por quê?
Diener - Os latinos tendem a olhar o lado bom das coisas. Eles perguntam: "O que posso fazer para me divertir?". Eles se preocupam mais com as coisas boas que podem ganhar do que com as ruins.

Pergunta - E quem são os mais infelizes?
Diener - Alguns países ex-comunistas e países muito pobres constantemente aparecem como os mais infelizes. Tirando a questão da renda, os asiáticos são bem menos felizes do que se espera. Quando você pergunta a japoneses, chineses e coreanos quão satisfeitos eles estão com a vida, eles olham para o que deu errado. Se nada muito relevante deu errado, eles estão satisfeitos.

Pergunta - Por que é mais difícil para os asiáticos serem felizes?
Diener - No Ocidente, a cultura individualista faz com que o sentimento pessoal tenha muito mais importância que no Oriente. Quando avaliam sua satisfação em relação à vida, japoneses e coreanos dão mais peso ao que os pais deles pensam sobre a vida que os filhos levam. O que eles próprios pensam ou desejam não tem tanto valor.

Pergunta - Os asiáticos estão numa situação pior por serem menos felizes?
Diener - As culturas asiáticas funcionam muito bem. O importante é que todos nós precisamos de todas as emoções. O problema não é apenas a incapacidade de sentir felicidade, mas também a incapacidade de sentir algumas emoções negativas que surgem. Essas emoções negativas fazem coisas por nós.

Pergunta - Que vantagens a felicidade traz?
Diener - No Ocidente, se você é uma pessoa alegre, seu casamento tem mais chance de durar e você tem mais chance de ganhar dinheiro e de ser bem-sucedido no trabalho. Se isso acontece porque todo mundo gosta de pessoas felizes nas sociedades ocidentais -e você é recompensado por isso-, não sabemos. Em geral, pessoas felizes têm um sistema imunológico mais forte, e há algumas evidências de que vivem mais.

Pergunta - Você descobriu que as pessoas têm uma grande capacidade de se adaptar a doenças fatais ou a deficiências físicas. Por quê?
Diener - Não quero dizer que saúde não seja importante. Pessoas com problemas físicos relatam níveis menores de felicidade. Mas outros, quando descobrem, por exemplo, que não podem mais estar no time de basquete, percebem que há novas coisas para eles. Notam que há coisas positivas em suas vidas, como o apoio social e o amor da família, para as quais não haviam dado muito valor. Mas há algumas coisas na vida que realmente derrubam uma pessoa e das quais você nunca se recupera totalmente. Uma delas é o desemprego. Desempregados se recuperam, mas não retomam o nível de satisfação que tinham antes. Viúvos e viúvas se recuperam, mas isso leva vários anos.

Pergunta - Ganhar na loteria traz felicidade?
Diener - Isso, como o casamento, eleva o nível de felicidade, mas só dura um ano ou dois.

Pergunta - A ciência pode dizer algo sobre a felicidade além do que já foi apontado pelos filósofos?
Diener - Bertrand Russell, certamente um grande intelectual, escreveu um livro sobre felicidade no qual declarou que ter filhos era uma das chaves para a felicidade. Mas pesquisas mostram que isso não é verdade. Pessoas com ou sem filhos estão igualmente felizes. Descobrimos que as pessoas ficam mais satisfeitas quando têm um bebê, mas retornam ao nível anterior de satisfação depois de um ano ou dois e podem ter até uma queda em relação ao nível médio de satisfação. Então, por mais inteligente que Russell fosse, suas reflexões não resistem a estudos cuidadosos.

Pergunta - O que você acha do "boom" do mercado de livros de auto-ajuda?
Diener - Em parte, deve-se à percepção de que você é responsável pela própria felicidade. Você não vai aprender sobre isso na escola. Então há um vácuo. Mas as expectativas também estão maiores. As pessoas acham que deveriam estar felizes o tempo todo. Você encontra pessoas que são, de fato, felizes, mas lutam para serem ainda mais felizes. Não fomos construídos para sermos felizes. Fomos construídos para sermos positivos, mas não para ficarmos imersos num estado de euforia. Deveríamos ficar num estágio médio para que, quando alguma coisa boa acontecesse, a gente pudesse se alegrar mais.


Tradução de Márcia Detoni


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