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foco nele
Grau de felicidade varia segundo o país
MICHAEL BOND - DA "NEW SCIENTIST"
Todo mundo quer ser feliz, certo? Errado, diz Ed Diener, professor da Universidade de Illinois, nos EUA, e um dos mais
ativos psicólogos do chamado campo do
"bem-estar subjetivo". Ele descobriu, em
suas pesquisas, que felicidade não é apenas um sentimento inerente a todos os
seres humanos. É algo intimamente ligado à cultura. E sabe do que mais? Dinheiro realmente traz felicidade, mas, para
extrair o máximo prazer dele, você precisa ter conhecido a pobreza.
Pergunta - Onde encontramos as pessoas
mais felizes do mundo?
Ed Diener - Os povos dos países escandinavos parecem ser os mais felizes. Renda
é importante para a felicidade e está correlacionada à democracia, aos direitos
humanos e à longevidade. Mas, se você
tirar o elemento renda, verá que os fatores culturais parecem fazer grande diferença. Se tirarmos a renda da equação, os
mais felizes são os latinos.
Pergunta - Por quê?
Diener - Os latinos tendem a olhar o lado bom das coisas. Eles perguntam: "O
que posso fazer para me divertir?". Eles
se preocupam mais com as coisas boas
que podem ganhar do que com as ruins.
Pergunta - E quem são os mais infelizes?
Diener - Alguns países ex-comunistas e
países muito pobres constantemente
aparecem como os mais infelizes. Tirando a questão da renda, os asiáticos são
bem menos felizes do que se espera.
Quando você pergunta a japoneses, chineses e coreanos quão satisfeitos eles estão com a vida, eles olham para o que deu
errado. Se nada muito relevante deu errado, eles estão satisfeitos.
Pergunta - Por que é mais difícil para os
asiáticos serem felizes?
Diener - No Ocidente, a cultura individualista faz com que o sentimento pessoal tenha muito mais importância que
no Oriente. Quando avaliam sua satisfação em relação à vida, japoneses e coreanos dão mais peso ao que os pais deles
pensam sobre a vida que os filhos levam.
O que eles próprios pensam ou desejam
não tem tanto valor.
Pergunta - Os asiáticos estão numa situação pior por serem menos felizes?
Diener - As culturas asiáticas funcionam muito bem. O importante é que todos nós precisamos de todas as emoções.
O problema não é apenas a incapacidade
de sentir felicidade, mas também a incapacidade de sentir algumas emoções negativas que surgem. Essas emoções negativas fazem coisas por nós.
Pergunta - Que vantagens a felicidade
traz?
Diener - No Ocidente, se você é uma
pessoa alegre, seu casamento tem mais
chance de durar e você tem mais chance
de ganhar dinheiro e de ser bem-sucedido no trabalho. Se isso acontece porque
todo mundo gosta de pessoas felizes nas
sociedades ocidentais -e você é recompensado por isso-, não sabemos. Em
geral, pessoas felizes têm um sistema
imunológico mais forte, e há algumas
evidências de que vivem mais.
Pergunta - Você descobriu que as pessoas têm uma grande capacidade de se
adaptar a doenças fatais ou a deficiências
físicas. Por quê?
Diener - Não quero dizer que saúde não
seja importante. Pessoas com problemas
físicos relatam níveis menores de felicidade. Mas outros, quando descobrem,
por exemplo, que não podem mais estar
no time de basquete, percebem que há
novas coisas para eles. Notam que há coisas positivas em suas vidas, como o apoio
social e o amor da família, para as quais
não haviam dado muito valor. Mas há algumas coisas na vida que realmente derrubam uma pessoa e das quais você nunca se recupera totalmente. Uma delas é o
desemprego. Desempregados se recuperam, mas não retomam o nível de satisfação que tinham antes. Viúvos e viúvas se
recuperam, mas isso leva vários anos.
Pergunta - Ganhar na loteria traz felicidade?
Diener - Isso, como o casamento, eleva
o nível de felicidade, mas só dura um ano
ou dois.
Pergunta - A ciência pode dizer algo sobre a felicidade além do que já foi apontado pelos filósofos?
Diener - Bertrand Russell, certamente
um grande intelectual, escreveu um livro
sobre felicidade no qual declarou que ter
filhos era uma das chaves para a felicidade. Mas pesquisas mostram que isso não
é verdade. Pessoas com ou sem filhos estão igualmente felizes. Descobrimos que
as pessoas ficam mais satisfeitas quando
têm um bebê, mas retornam ao nível anterior de satisfação depois de um ano ou
dois e podem ter até uma queda em relação ao nível médio de satisfação. Então,
por mais inteligente que Russell fosse,
suas reflexões não resistem a estudos cuidadosos.
Pergunta - O que você acha do "boom"
do mercado de livros de auto-ajuda?
Diener - Em parte, deve-se à percepção
de que você é responsável pela própria
felicidade. Você não vai aprender sobre
isso na escola. Então há um vácuo. Mas
as expectativas também estão maiores.
As pessoas acham que deveriam estar felizes o tempo todo. Você encontra pessoas que são, de fato, felizes, mas lutam
para serem ainda mais felizes. Não fomos
construídos para sermos felizes. Fomos
construídos para sermos positivos, mas
não para ficarmos imersos num estado
de euforia. Deveríamos ficar num estágio
médio para que, quando alguma coisa
boa acontecesse, a gente pudesse se alegrar mais.
Tradução de Márcia Detoni
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