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s.o.s família - rosely sayão
Pistas valiosas para identificar a linha da escola
As escolas que se preparem para uma bela
surpresa: os pais estão mudando seus anseios e suas expectativas em relação à vida escolar dos filhos. O que era considerado quase
unanimidade quando eles buscavam uma escola para matricular o filho -a excelência no ensino dos conteúdos necessários para a continuidade da vida escolar- pouco a pouco cede lugar a outras questões bem mais valorosas. E é importante ressaltar que isso diz respeito não apenas à pequena parcela da população que pode escolher a escola porque tem
poder aquisitivo para tanto. Neste fim de ano,
em que se discute a validade de um exame de
seleção para crianças que vão iniciar seus passos na escola, essa é uma excelente notícia.
Que motivos norteiam tal mudança neste
momento não sabemos ainda, mas é perceptível para quem trabalha em educação que mudaram as perguntas que os pais têm feito aos
educadores quando visitam a escola pela primeira vez.
Em vez de a atenção estar voltada para a porcentagem de alunos que a escola consegue
aprovar no vestibular, por exemplo, tem sido
mais interessante saber se as pessoas que lá se
formaram têm valores e princípios éticos, se
têm senso de justiça. Tem sido considerada
mais valiosa a aprendizagem da colaboração,
não mais a da competição. E, mais importante, os pais não estão mais se deixando seduzir
por belas palavras. Já não se satisfazem com
expressões que podem ser vazias de sentido,
como "escola democrática" e "exercício da cidadania", entre outras. Eles querem saber como efetivamente a participação dos alunos
ocorre e qual o alcance dessa participação.
Disciplina? Esse conceito começa a ganhar
sentido se é ensinado para que possibilite a
condição necessária para facilitar ao aluno a
apropriação do conhecimento. Liberdade? A
que propicia a convivência em grupo e que se
pauta pelas regras da civilidade.
Resumindo: os pais estão mais interessados
em formação. Esses pais, até há pouco tempo,
eram considerados "pais diferentes", e a escola que elegiam era chamada de "alternativa".
Era um grupo minoritário. Creio que isso comece a se tornar passado, já que o grupo tem
aumentado gradativamente.
A questão para muitos desses pais que não
se importam apenas com os conteúdos que serão ensinados na escola é saber como desvendar a concepção da educação praticada, já que
ela nem sempre tem uma estrutura visível e
pode muito bem ser apenas teórica. É aí que
muitos têm pedido ajuda: o que perguntar na
escola, o que observar para saber se ela oferece
o que procuram?
Para saber se a escola se responsabiliza por
ensinar seus alunos a conviver em grupo, é interessante pedir exemplos concretos de como
ela procura solucionar as transgressões cometidas pelos estudantes. Para saber como ensina o respeito ao outro, é bom saber o que
acontece com um aluno que se comporta de
modo desrespeitoso com o professor, que faz
bagunça em sala. As maneiras de lidar com esses dilemas da vida escolar podem dar pistas
preciosas sobre a posição que a escola adota
em sua prática. Ela pode ou não assumir que a
tarefa é dela e que faz parte de seu trabalho desenvolver práticas pedagógicas que colaborem para esse aprendizado do aluno. Essa escola que assume pratica a educação em valores. Já a que considera a possibilidade de tirar
o indisciplinado da sala não tem esse foco.
Para saber se uma escola é, de fato, democrática, é importante saber que valores coletivos
ela prioriza e como isso se dá no dia-a-dia tanto para os professores como para os alunos. O
que ela entende por autonomia, como estimula a cooperação, que espaços cria para o diálogo e as consequências que ele acarreta, como
desenvolve o senso de justiça, que estratégias
usa para trabalhar os conflitos, quais práticas
os professores adotam para criar um espírito
público nos alunos.
Essa nova meta dos pais traduz-se, para as
escolas, em pressão das boas, porque pode
provocar mudanças benéficas para todos os
envolvidos na educação: alunos, professores e
comunidade, que anseia por novos rumos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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