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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Pistas valiosas para identificar a linha da escola

As escolas que se preparem para uma bela surpresa: os pais estão mudando seus anseios e suas expectativas em relação à vida escolar dos filhos. O que era considerado quase unanimidade quando eles buscavam uma escola para matricular o filho -a excelência no ensino dos conteúdos necessários para a continuidade da vida escolar- pouco a pouco cede lugar a outras questões bem mais valorosas. E é importante ressaltar que isso diz respeito não apenas à pequena parcela da população que pode escolher a escola porque tem poder aquisitivo para tanto. Neste fim de ano, em que se discute a validade de um exame de seleção para crianças que vão iniciar seus passos na escola, essa é uma excelente notícia.
Que motivos norteiam tal mudança neste momento não sabemos ainda, mas é perceptível para quem trabalha em educação que mudaram as perguntas que os pais têm feito aos educadores quando visitam a escola pela primeira vez.
Em vez de a atenção estar voltada para a porcentagem de alunos que a escola consegue aprovar no vestibular, por exemplo, tem sido mais interessante saber se as pessoas que lá se formaram têm valores e princípios éticos, se têm senso de justiça. Tem sido considerada mais valiosa a aprendizagem da colaboração, não mais a da competição. E, mais importante, os pais não estão mais se deixando seduzir por belas palavras. Já não se satisfazem com expressões que podem ser vazias de sentido, como "escola democrática" e "exercício da cidadania", entre outras. Eles querem saber como efetivamente a participação dos alunos ocorre e qual o alcance dessa participação.
Disciplina? Esse conceito começa a ganhar sentido se é ensinado para que possibilite a condição necessária para facilitar ao aluno a apropriação do conhecimento. Liberdade? A que propicia a convivência em grupo e que se pauta pelas regras da civilidade.
Resumindo: os pais estão mais interessados em formação. Esses pais, até há pouco tempo, eram considerados "pais diferentes", e a escola que elegiam era chamada de "alternativa". Era um grupo minoritário. Creio que isso comece a se tornar passado, já que o grupo tem aumentado gradativamente.
A questão para muitos desses pais que não se importam apenas com os conteúdos que serão ensinados na escola é saber como desvendar a concepção da educação praticada, já que ela nem sempre tem uma estrutura visível e pode muito bem ser apenas teórica. É aí que muitos têm pedido ajuda: o que perguntar na escola, o que observar para saber se ela oferece o que procuram?
Para saber se a escola se responsabiliza por ensinar seus alunos a conviver em grupo, é interessante pedir exemplos concretos de como ela procura solucionar as transgressões cometidas pelos estudantes. Para saber como ensina o respeito ao outro, é bom saber o que acontece com um aluno que se comporta de modo desrespeitoso com o professor, que faz bagunça em sala. As maneiras de lidar com esses dilemas da vida escolar podem dar pistas preciosas sobre a posição que a escola adota em sua prática. Ela pode ou não assumir que a tarefa é dela e que faz parte de seu trabalho desenvolver práticas pedagógicas que colaborem para esse aprendizado do aluno. Essa escola que assume pratica a educação em valores. Já a que considera a possibilidade de tirar o indisciplinado da sala não tem esse foco.
Para saber se uma escola é, de fato, democrática, é importante saber que valores coletivos ela prioriza e como isso se dá no dia-a-dia tanto para os professores como para os alunos. O que ela entende por autonomia, como estimula a cooperação, que espaços cria para o diálogo e as consequências que ele acarreta, como desenvolve o senso de justiça, que estratégias usa para trabalhar os conflitos, quais práticas os professores adotam para criar um espírito público nos alunos.
Essa nova meta dos pais traduz-se, para as escolas, em pressão das boas, porque pode provocar mudanças benéficas para todos os envolvidos na educação: alunos, professores e comunidade, que anseia por novos rumos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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