São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005
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S.O.S. família

Rosely Sayão

Pais devem escolher a escola infantil

Muitos pais decidem colocar o filho pequeno na escola de educação infantil agora no segundo semestre. E, para escolher uma escola, fazem visitas a várias delas. São poucos os que já sabem, de antemão, o colégio que querem. Por isso há uma romaria de escola em escola.
Todas elas se parecem muito -são poucas as que conseguiram desenvolver um projeto pedagógico específico para essa idade.


Os pais precisam decidir qual a atitude a ser tomada; mesmo que seja para, mais tarde, se darem conta de que aquela foi uma atitude equivocada


Um fato chama a atenção. Muitos pais levam o filho, geralmente entre dois e quatro anos, e delegam a ele a responsabilidade de escolher. Definitivamente, essa escolha não pode ser da criança.
Baseada em que ela dirá que prefere uma a outra? Provavelmente ela deve se basear, quando consegue responder, em algo que viu e que a seduziu em uma delas. Pode ser um brinquedo, uma piscina, um jardim, um tanque de areia. Pode ser também a pessoa que atendeu a família para mostrar a escola e contar como se trabalha lá. Pode ser qualquer coisa e pode até não ser nada. Muitas podem responder simplesmente porque são cobradas.
Escolher uma escola para o filho pequeno é algo de grande responsabilidade. É coisa de adulto que sabe o que observar, que sabe o que avaliar e como analisar o que vê, que deve saber o que quer para a educação do filho. Não é possível, de modo algum, passar essa responsabilidade a ele. Nada justifica esse comportamento dos pais.
Alguns pais podem pensar que essa é uma boa maneira de conduzir a relação com o filho, de modo a contemplar mais os seus interesses. Os pais querem ouvir os filhos, dialogar com eles, mas, com criança pequena, isso não funciona por motivos bem simples.
Primeiro, porque, para a criança aceitar a escola e se deixar educar pelos professores, ela precisará sentir que os pais confiaram naquela escola, que delegaram a ela a responsabilidade de educar seu filho enquanto ele estiver lá. Os pais são as figuras mais importantes na vida da criança pequena. Vale lembrar isso sempre. E, se é ela a fazer a escolha, fica sem essa importante referência.
Um outro motivo é que a criança pode saber -em geral, sabe muito bem- o que ela quer no momento presente, mas ela não é ainda capaz de se comprometer num futuro próximo com esse querer e, muito menos ainda, avaliar se esse querer fará bem a ela. Por isso mesmo ela precisa dos pais.
Ainda: para escolher é preciso ter autonomia, liberdade, independência. E desde quando criança pequena tem tudo isso? Ela está no processo educativo justamente para que, aos poucos, vá se tornando seu próprio pai, sua própria mãe. Mas isso só ocorre lá pelos 17 ou 18 anos. E olhe lá, porque, do jeito que as relações entre pais e filhos caminham, nem nessa idade eles adquirem tal maturidade.
Não podemos tratar crianças como se fossem adultos em miniatura. Fazer tal pergunta a uma criança é deixá-la à deriva, é abandoná-la, é abdicar de exercer o papel que cabe ao adulto. Os pais precisam honrar o compromisso assumido quando trouxeram um filho a este mundo. Mas há pais que fazem isso sem perceber. Fazem até pior. Uma professora contou-me um diálogo que ouviu entre a mãe e o filho de cinco anos de idade. A criança estava febril e, por isso, a escola pediu à mãe que fosse buscá-la. Pois não é que a mãe perguntou se ela achava melhor ir ao consultório do pediatra ou se preferiria ir ao pronto-socorro?
Uma das tarefas da mãe é exatamente a de cuidar dos filhos enquanto eles não podem se cuidar. Os pais precisam decidir qual a atitude a ser tomada. Mesmo que seja para, mais tarde, se darem conta de que aquela foi uma atitude equivocada. Esse é um ônus do adulto. Mas deixar a bomba nas mãos da criança realmente é um absurdo. Será que alguns pais estão infantilizados a esse ponto ou é puro descaso com o filho?

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br



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