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Plantas da Amazônia reinam nos potes de cosméticos, de xampus e condicionadores a óleos de banho e sabonetes
Os poderes das plantas da floresta
Divulgação
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Coleta da resina da árvore breu-branco feita no Pará para a Natura |
DA REPORTAGEM LOCAL
Priprioca, andiroba, cumaru, copaíba, preciosa, breu-branco, murumuru... Cada vez surge um ingrediente novo, de nome pouco ou nada familiar, nos potes de cosméticos nacionais. E vai entender por que essas matérias-primas de apelo ecológico vão parar em xampus, perfumes,
condicionadores, cremes hidratantes e aromatizadores de ambiente, entre outros produtos. O que há em comum entre todas elas é o local de origem: a Amazônia.
Os ativos da biodiversidade amazônica, extraídos de cascas, folhas,
raízes, sementes ou frutos, têm sido cada vez
mais explorados pelas indústrias de cosméticos. Hoje as maiores empresas brasileiras já
possuem suas linhas de produtos "amazônicos".
O potencial da biodiversidade da floresta é
enorme. Estudo da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e da Abhipec
(Associação Brasileira da Indústria de Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) identificou, entre as mais de 200 mil espécies de plantas da Amazônia, que 120 podem ter aplicação
imediata na área cosmética. Mas pouco mais
de 20 são usadas, diz o engenheiro químico
Artur Gradin, que coordenou o estudo.
A Natura impulsionou o crescimento desse
mercado com o lançamento, há três anos, da
linha Ekos. Mas muito antes disso, dez anos
atrás, a gigante rede inglesa The Body Shop já
incluía na sua linha de cosméticos a castanha-do-pará. Aliás, quem já usou sabe como o óleo
extraído dessa semente funciona bem no creme hidratante.
E, para deixar o cabelo macio, é indicada
manteiga de cacau -no xampu, claro. Já do
cumaru, cuja madeira se transforma em belas
tábuas para piso, extrai-se um extrato que perfuma! Porém quem garante tais propriedades?
Habitantes da floresta, como os índios. Eles
usam a semente do cumaru para se perfumar,
também usam o óleo de copaíba em feridas e
arranhões e o de buriti como protetor solar. As
índias, em especial, sabem que o óleo de certas
plantas deixa a cabeleira mais brilhante e macia. Foi no rastro desse conhecimento popular
de estética e de saúde que a indústria nacional
e internacional partiu para o investimento nas
plantas amazônicas. O ponto de partida da linha Ekos, por exemplo, foi a escolha dos ativos com mais tradição popular.
O primeiro produto da Amazônia usado pelo grupo inglês Croda do Brasil, um dos maiores fornecedores de ativos amazônicos, foi
apresentado informalmente por um ex-habitante da floresta à gerente de marketing técnico Vânia Maria Pacchioni. Durante uma feira
de cosméticos, em São Paulo, um senhor entregou a ela uma sacola cheia de "produtos da
floresta". E lá estava a manteiga de cupuaçu,
bruta. "Uma jóia. Aquela gordura era só o resto de um processo artesanal, porque eles extraem uma espécie de chocolate do fruto."
A história de outras empresas do ramo também é curiosa. No Pará, estão duas das mais
tradicionais marcas, Juruá e Chamma da
Amazônia. O carro-chefe da primeira é o sabonete Juruá, feito à base de mel de abelha,
castanha-do-pará e cacau. Possui proteínas e
propriedade hidratante e anti-rugas e ainda
promete remover manchas brancas e prevenir
celulite e estrias.
A história da marca começa com a chegada,
ao Pará, do avô italiano das três atuais proprietárias, fugido da Primeira Guerra Mundial. Francisco Filizzola, farmacêutico, fixou-se nas proximidades do rio Juruá e comprou
fazendas e seringais. "Ele arrendava as propriedades para os trabalhadores, que pagavam com matérias-primas, como óleos, copaíba, andiroba, patchuli e priprioca", conta uma
das sócias, Sonia Filizzola Busman. A partir
dos insumos recebidos, ele passou a criar fórmulas e a fabricar sabonetes com andiroba.
"Fazia em um tacho grande, com banha de
tartaruga."
As fórmulas foram esquecidas por anos, até
que Izabel Filizzola, filha de Francisco e mãe
de Sonia, já aposentada, redescobriu cadernos
deixados pelo pai e investiu na produção do
sabonete. Hoje a Juruá conta com uma extensa linha de cosméticos, com destaque para o
sabonete Lixaspuma, esfoliante natural inspirado no banho de Cleópatra, em que o leite de
cabra foi substituído pelo de búfala -também matéria-prima local.
A outra marca paraense é a Chamma da
Amazônia, também ligada à imigração. Filho
de libaneses, o acraeno Oscar Chamma, que
foi criado em Belém, começou a criar produtos utilizando as matérias-primas locais. Sem
formação acadêmica, mas apaixonado por
química e pela Amazônia, Chamma foi autodidata e chegou a ganhar registro no Conselho
Regional de Farmácia. "Ele adquiria óleos essenciais de plantas locais e misturava com insumos importados", explica Fátima Chamma,
filha de Oscar e diretora-executiva da Fluidos
da Amazônia, que fabrica a Chamma. Entre
seus produtos mais conhecidos está o Banho
de Chamma, perfume de ervas aromáticas.
Leia, ao lado e na página seguinte, uma relação de plantas usadas em cosméticos e as propriedades atribuídas a cada uma. Nem todas
possuem comprovação científica no uso cosmetológico. "Em geral, têm ação quando ingeridas", diz Cecilia Veronica Nunez, pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas) que atualmente participa de um estudo
para identificar, entre outras, a atividade antioxidante das plantas amazônicas.
"Eu produzo extrato de açaí, que tem uma
ação antioxidante já comprovada. Se, quando
colocado no cosmético, vai ter, não se sabe",
diz o químico Joaquim Baymam, da Universidade Federal do Pará e proprietário da Erva
Ativa, empresa de insumos. O que também
conta é a quantidade e a forma como o insumo
é usado no produto, completa ele.
"As plantas funcionam e funcionam muito
bem. Infelizmente, muitas [empresas] acrescentam-nas só para marketing. Nesses casos, a
quantidade de extrato e óleo é tão baixa que,
eventualmente, pode não fazer efeito. Vira um
cosmético comum", diz o professor de química de produtos naturais Lauro Barata, da Unicamp.
A Vita Derm, uma das maiores empresas de
cosméticos do país, em parceria com pesquisadores franceses, está formando um grupo
para estudar os princípios ativos vegetais da
Amazônia. As pesquisas serão feitas aqui, e os
testes, na França, usando a bioengenharia cutânea, diz Marcelo Schulman, presidente da
Vita Derm e da Associação Brasileira de
Bioengenharia Cutânea.
(CRISTINA CAROLA; COLABOROU AUGUSTO PINHEIRO)
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