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Consumir só o que tem utilidade prática e dar tempo para o corpo descansar são defesas contra a enxurrada de notícias
Excesso de informação acaba sendo armadilha
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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O cardiologista Luiz Antônio Machado César checa e-mails e consulta revistas médicas pela Internet em sua sala no Instituto do Coração (SP) |
DANIELA FALCÃO
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Dificuldade de concentração, ansiedade, cansaço
ao acordar e incapacidade de tomar decisões
simples, como escolher um filme ou que prato comer.
Se você anda sentindo parte desses sintomas talvez
seja o caso de pensar duas vezes antes de comprar
mais um livro ou assinar a revista recém-lançada.
A abundância de informações produzidas nos últimos
30 anos, a facilidade de acessá-las graças à Internet e a
voracidade do homem em querer saber sempre mais
-potencializada pela competição profissional- estão
deixando executivos, médicos, analistas financeiros e
profissionais de tecnologia literalmente doentes (leia
texto ao lado).
"Informação não é mais sinônimo de resolução de
problemas. Muitas vezes, vira até a causa deles. O excesso de notícias pode ser tão ruim quanto a ignorância, dificultando a tomada de decisões e levando à paralisia",
analisa o psicólogo britânico David Lewis. Para entender o raciocínio de Lewis, basta lembrar que uma das
técnicas mais usadas por advogados de acusação para
atrapalhar o trabalho da defesa é justamente responder
a um pedido de informação entupindo os adversários
com papéis inúteis misturados à peça relevante.
"O cérebro possui mecanismos de filtragem que evitam a absorção de informação em excesso. Mas, quando
a pessoa quer prestar atenção em tudo, ela neutraliza o
filtro e passa a absorver tudo. Só que não consegue processar essa enxurrada de informações direito e termina
tendo um decréscimo na capacidade de raciocinar analiticamente", explica a psicóloga Marilda Lipp, do Laboratório de Estresse da PUC-Campinas.
A reação do corpo à enxurrada de dados no mundo
moderno tem boa explicação. Mais unidades de informações foram produzidas de 1970 para cá do que ao longo dos últimos 5.000 anos. "O cérebro humano foi preparado para absorver um número limitado de informação por unidade de tempo. Mas o mercado de trabalho
cada vez mais competitivo fez o homem desrespeitar os
limites, indo além do que consegue dar conta. É impossível ouvir três músicas ao mesmo tempo, mas tem gente que tenta", afirma João Figueiró, psicoterapeuta do
Hospital das Clínicas (SP).
Internet
Embora tenha sido identificada por psiquiatras britânicos e norte-americanos pela primeira vez em
meados dos anos 80, a sobrecarga de informações (ou
"information overload", como eles chamam por lá) virou epidemia mesmo com a explosão da Internet. A suspeita de que tanta notícia deixa as pessoas doentes ganhou força após a divulgação de uma megapesquisa feita pela Reuters em 1996, em que um terço dos 1.313 executivos entrevistados admitiu sofrer problemas de saúde por causa do excesso de informação.
A cada dia, mil novos títulos de livros são editados no
mundo. Só a Índia produz 800 filmes por ano (nos EUA,
a média é 450), e cada norte-americano recebe pelo correio cerca de 60 bilhões de folhetos de propaganda
anualmente. "Há informação demais sendo produzida
hoje, e o acesso é muito fácil, o que faz com que as pessoas se sintam na obrigação de estar sempre muito bem
informadas, de saber a última novidade na área", diz
Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Hospital das Clínicas especializada em estresse. "Só que é humanamente
impossível estar bem informado hoje", pondera.
Descartar o inútil
Para não ficar atolado no mar de
informações, o principal é selecionar com critério as informações que serão absorvidas, diferenciando o dado
interessante daquele que é relevante para o trabalho. "É
muito importante saber separar um do outro e conseguir deixar de lado aquilo que, embora atraente, não terá
utilidade imediata. Só que a maioria das pessoas não
consegue fazer isso. Para descartar o que não é útil, é
preciso ter capacidade de análise aguçada, uma das primeiras coisas que ficam comprometidas quando alguém sofre de sobrecarga", diz Meleiro. Sem a triagem
inicial, a tarefa de processar a informação para transformá-la em conhecimento vira um suplício. "Há um gap
entre o volume de informações produzido e os instrumentos que temos para assimilá-lo e transformá-lo em
conhecimento útil. A origem da sobrecarga vem daí",
diz Paul Saffo, diretor da ONG californiana Instituto do
Futuro.
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