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estética
Tratamento gasoso
Novidade no combate à celulite e à gordura localizada, a carboxiterapia (injeção de gás carbônico puro sob a pele para melhorar a oxigenação dos tecidos e a circulação sangüínea) divide especialistas
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Sou pequena e não
sou gorda, mas tenho um culote considerável." Com essa autodescrição, a profissional
de marketing Karen Lopes, 30,
explica o que a fez experimentar a última novidade em tratamentos para celulite e gordura
localizada, a carboxiterapia.
Karen, que já se submetia a outros procedimentos da medicina estética para reduzir medidas, conta que, quando a nova
técnica chegou à clínica que
freqüenta, resolveu testar.
"Adorei", diz ela, que calcula ter
perdido cerca de dez centímetros na região do quadril após
aproximadamente 15 sessões.
A carboxiterapia consiste na
injeção de gás carbônico puro
sob a pele, o que, segundo os
adeptos da técnica, melhora a
oxigenação dos tecidos e a circulação sangüínea. "O organismo tem mecanismos para equilibrar o volume de oxigênio e
gás carbônico na circulação. Se
injetamos CO2 em determinado local, esse mecanismo recebe a mensagem de enviar mais
O2 para o local, dilatando as
veias e melhorando o fluxo sangüíneo e a quantidade de oxigênio na região", explica Viviana
Brant de Carvalho, fisioterapeuta da clínica de medicina estética e terapêutica Thyfere.
A tese é que, ao melhorar a
circulação, a carboxiterapia favorece a eliminação das toxinas
e do líquido retido sob a pele
(causas da celulite) e facilita a
quebra das moléculas de gordura. Além disso, ao insuflar o
gás sob a epiderme, provoca-se
uma irritação do tecido, o que
estimula a produção de elastina
e colágeno e pode diminuir a
flacidez. "A carboxiterapia revolucionou o tratamento da flacidez porque apresenta resultados em locais onde as outras
técnicas não funcionam bem,
como a parte interna da coxa ou
a região do tríceps", afirma Wilmar Jorge Accursio, diretor da
Sociedade Brasileira de Medicina Estética -especialidade
não reconhecida oficialmente
pelo CFM (Conselho Federal
de Medicina).
Esse suposto efeito estimulador da produção de colágeno
amplia as indicações do tratamento, segundo Accursio. Marcas de estrias podem ser atenuadas e a flacidez nas pálpebras e o "bigode chinês" (o sulco naso-geniano, que vai da aba
do nariz aos lábios) podem diminuir com as injeções de gás,
também de acordo com Accursio. A descrição dos efeitos em
pacientes que já testaram o método na face é bastante subjetiva: "É ótimo, rejuvenesce e dá
uma levantada na expressão",
conta a secretária Gisleine Gabriel, 52, que se submeteu a 12
sessões de agulhadas no rosto.
Accursio vai mais longe em
sua promoção da técnica. "Por
mecanismos que ainda não estão claros, a carboxiterapia regula a produção das placas de
queratina na pele, melhorando
quadros de psoríase, nos quais
há excesso de produção de queratina", afirma.
Para Cid Yazigi Sabbag, diretor do Centro Brasileiro de Psoríase, há uma contradição nessa indicação. "Se a carboxiterapia estimula a regeneração dos
tecidos, como pode ser usada
para tratar psoríase, que se caracteriza pela hiperproliferação das células da pele?", questiona Sabbag. Ele acrescenta
que o trauma físico na pele pode levar à manifestação da
doença no local e pergunta:
"Será que a agulha e a picada não farão aparecer uma nova
lesão de psoríase?". Sabbag
acredita que o próprio fato de
haver "tantas indicações, tão
diferentes umas das outras, já
faz pensar que há algo de errado com a técnica".
Ele não está sozinho em sua
desconfiança. A SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia)
não respalda a carboxiterapia.
"Ainda não há evidência científica suficiente para justificar
esses usos da técnica", diz Artur Duarte, presidente da SBD
-regional São Paulo.
Possíveis riscos
A carboxiterapia é uma técnica invasiva, pois o gás carbônico é aplicado nas camadas
mais profundas da pele por
meio de agulhas finíssimas. Os
adeptos da carboxiterapia, porém, afirmam que ela não oferece riscos, já que o gás carbônico utilizado é estéril e não
provoca alergias, como pode
ocorrer com os medicamentos.
Duarte discorda: "Pode haver
risco, sim. Como o gás é injetado dentro do tecido subcutâneo, pode entrar na circulação
e causar embolia gasosa, uma
bolha de ar na artéria ou na
veia, e até levar a um derrame".
Se injetado em quantidade
excessiva, o gás carbônico também pode provocar uma reação
chamada acidose, que diminui
o Ph do organismo prejudicando as reações químicas metabólicas, diz a fisioterapeuta
Carvalho, que utiliza a carboxiteria em sua clínica. Para ela,
esse risco só existe se as aplicações forem feitas por profissionais não qualificados.
"Paciente não é cobaia", alerta Solange Pistori Teixeira,
mestre em dermatologia pela
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo). Ela reforça o fato
de não haver embasamento
científico para usar a técnica
com segurança. "Quando se fala de CO2 injetável, o uso estabelecido é para laparoscopia e
alguns outros exames de imagem, nos quais o gás carbônico
é usado como contraste. Sabe-se que o risco é pequeno, mas
que podem ocorrer complicações, como a embolia gasosa."
Coro das contentes
Mesmo com todas essas objeções, os médicos que não
aprovam a técnica sabem da
atração causada pela novidade.
"Quadros como celulite e flacidez são difíceis de tratar, às vezes o paciente já fez de tudo e
vai querer tentar algo novo",
afirma Teixeira. Há também
amostras de bons resultados,
mas a dermatologista acredita
que são casos isolados. Até agora, não foram feitas pesquisas
controladas e há a possibilidade de os efeitos serem apenas
temporários. "Em alguns anos,
se forem feitos estudos consistentes, talvez eu mude de opinião, mas hoje o método é controverso, e eu não vou usar."
Do outro lado, o coro das
contentes, que testaram e aprovaram o método, incentiva a
propaganda da carboxiterapia.
A apresentadora de TV Cuca
Lazzarotto, 37, é uma que comemora as dez sessões a que se
submeteu. "Acho que sumiram
uns nove centímetros de abdômen e uns sete de culote. Ganhei meu guarda-roupa de volta." E não dói? "Dói um pouco,
mas é suportável, e o resultado
vale a dor", garante Lazzarotto.
O que também precisa ser levado em conta antes de afirmar
a eficácia da técnica é que, normalmente, ela é associada a outros métodos. No caso de Lazzarotto, as aplicações de gás
carbônico são alternadas com
sessões de endermologia, e a
apresentadora segue um programa de dieta e ginástica.
Os dez centímetros a menos
no quadril de Karen Lopes
tampouco podem ser creditados exclusivamente à carboxiterapia. Ela conta que, no começo do tratamento, utilizava
apenas essa técnica e já pôde
perceber alguma melhora. Os
maiores resultados, porém,
apareceram nas duas semanas
em que Lopes fez um esforço
concentrado para entrar em
forma antes de comemorar o
seu aniversário, no início deste
mês. "Fechei a boca, comecei a
fazer exercícios e continuei
com a carboxiterapia."
Com dieta e atividade física,
não é nenhum milagre Lopes
ter perdido medidas. Se a carboxiterapia foi decisiva ou só
serviu de estímulo para ela adotar hábitos que favorecem a
forma física e a saúde, só as pesquisas futuras dirão.
[+] Se injetado em quantidade excessiva, o gás carbônico pode provocar uma reação chamada acidose, que diminui o Ph do organismo prejudicando as reações químicas metabólicas , segundo a fisioterapeuta Viviana Brant
de Carvalho
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